Carla Brito Fonseca, da BPI GA, partilha que, no mercado europeu, "cerca de 46% das empresas obtiveram resultados acima do esperado, enquanto 39% ficaram aquém das expectativas".
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O Chart of the Week é da autoria de Carla Brito Fonseca, gestora sénior de Portefólios e responsável pelo Investimento no Mercado Brasileiro e Africano, da BPI Gestão de Ativos.
A temporada de divulgação de resultados trimestrais é sempre foco da atenção dos investidores, em particular no atual contexto de política monetária contracionista e agravamento do risco geopolítico. Cerca de metade das empresas publicaram já as suas contas trimestrais na Europa e nos Estados Unidos, sendo visível um maior dinamismo do outro lado do Atlântico.
No continente europeu, aproximadamente 52% das empresas apresentaram vendas abaixo das expectativas do mercado, com destaque para os setores de utilities, consumo discricionário, matérias-primas e energia. O maior número de surpresas positivas veio de empresas do setor financeiro e de cuidados de saúde. A percentagem de empresas a surpreender pela positiva está próximo do mínimo dos últimos 10 anos. Globalmente, cerca de 46% das empresas obtiveram resultados acima do esperado, enquanto 39% ficaram aquém das expectativas. Apesar da maioria das empresas do setor de consumo não-discricionário que já divulgou contas trimestrais ter registado vendas aquém das estimativas, 68% surpreenderam positivamente a nível de resultados.
Os setores de consumo discricionário e imobiliário foram os que registaram maior proporção de empresas com resultados abaixo do esperado. As empresas que já reportaram apresentam globalmente uma quebra de vendas de 9%, com destaque negativo para os setores de utilities, energia e matérias-primas. As empresas com crescimento de vendas mais dinâmico operam no setor financeiro, imobiliário e de consumo discricionário. Globalmente, os resultados contraíram 10%.
Apesar de registarem um crescimento de vendas, as empresas do setor imobiliário estiveram entre as que viram os resultados contrair de forma mais expressiva (-50%). Entre os setores com maior contração de resultados estão ainda matérias-primas, energia e utilities.
Destaque positivo para consumo discricionário, com crescimento de resultados de 28%, sugerindo uma expansão significativa de margens no trimestre, e para o setor financeiro. As empresas que operam nos mercados europeus core foram as que menos surpreenderam positivamente.
Nos Estados Unidos, cerca de metade das empresas que já apresentaram resultados registaram vendas acima do esperado, com destaque para o setor imobiliário, de tecnologia e cuidados de saúde.
Pela negativa destacaram-se as empresas de matérias-primas e utilities. 68% das empresas divulgaram resultados maiores que esperado. Todos os setores tiveram uma maioria de empresas a exceder as expectativas de resultados, destacando-se as de tecnologia, industriais e de telecomunicações.
As vendas cresceram globalmente cerca de 0.7%, enquanto os resultados expandiram 5%. Os setores com maior crescimento de vendas foram os de consumo discricionário (+7%), telecomunicações (+6%) e cuidados de saúde (+6%). O setor de energia viu as vendas caírem 15% e o de matérias-primas 9%. Quanto ao crescimento de resultados, o destaque vai para o setor industrial (+48%), de consumo discricionário (+43%, mas apenas 37% das empresas reportaram) e de telecomunicações (+40%).
Tal como na Europa, o setor de consumo discricionário viu os resultados expandir a um ritmo bastante superior ao das vendas. Amazon, cujas receitas de publicidade subiram 26% e cuja margem expandiu para o nível mais alto desde o primeiro trimestre de 2021, valorizou 15% desde a divulgação de resultados. Intel, cujas receitas e resultados excederam as estimativas, registou valorização de igual dimensão.
Apesar da expansão das vendas, o setor de cuidados de saúde viu os resultados contraírem 20%. Sem surpresa, os setores de matérias-primas e energia estão entre os que registaram maior contração de resultados.
Será importante acompanhar o que resta da temporada de resultados, bem como as perspetivas das empresas para a atividade nos próximos trimestres, num ambiente de taxas elevadas por um período mais longo e erosão das poupanças das famílias, com a consequente desaceleração/contração da procura e menor pricing power.