Chart of the Week - Expetativa de cortes de juro ajustam em baixa…

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Ricardo Duarte Silva. Créditos: Vítor Duarte

O Chart of the Week é da autoria de Ricardo Silva, selecionador de fundos na CA Gest.

Depois de um rally de final de ano no mercado de obrigações soberanas, onde o mercado incorporou a expetativa de entre seis a sete cortes de taxas de juro da Reserva Federal norte-americana em 2024, o otimismo dos investidores tem esbarrado na inesperada resiliência da economia norte-americana (mercado de trabalho em pleno emprego, confiança do consumidor em alta, indicadores de atividade sólidos).

Expetativas nos EUA e na zona euro

De tal forma que os atuais três cortes de juros de 25 pontos base incorporados na curva de yields norte-americana estão já relativamente em linha com a projeção avançada pelos dots da reunião de dezembro da Fed (previsões para a evolução de taxas de juro por parte dos diferentes membros do FOMC). As palavras de Powell e dos diferentes membros refletem igualmente uma menor pressão para cortar juros no imediato, o que também reflete alguma desaceleração no ritmo a que a inflação, em particular a core, tem descido.

Consequentemente, as yields avançaram, em particular nas maturidades mais curtas, conduzindo a um desempenho negativo do mercado de dívida pública nos primeiros dois meses do ano. Este comportamento foi extensível à zona euro, onde, presentemente, estão igualmente descontados entre três a quatro cortes de juros. Christine Lagarde iniciou o ano sinalizando que apenas nos meses de verão seria provável assistir a um primeiro corte. Resta verificar se os sinais recentes, menos conclusivos quanto a uma descida pronunciada da inflação rumo ao target dos 2%, conduzirão a novo ajuste no discurso.

Conclusão

De qualquer forma, se é verdade que a inflação convergiu rapidamente para próximo dos +3% no último ano, é legítimo antecipar que o ajustamento para os +2% far-se-á de forma mais lenta, tanto mais que as pressões salariais, no curto prazo, e a transição energética, a médio prazo, serão ventos contrários à desejada convergência. Contrariamente às obrigações soberanas, os mercados de crédito e de ações têm avançado, suportados pela crença no soft landing (arrefecimento controlado) ou num no landing (manutenção do atual ritmo de crescimento).

O futuro dirá se o ciclo de tightening mais rápido e pronunciado da história não terá consequências desta vez, ou se, alternativamente, os efeitos retardados de política monetária chegarão de forma abrupta e inesperada.