Chart of the Week - Inversão de ciclo na área do euro?

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Tristan Schmurr, Flickr, Creative Commons

(O Chart of the Week desta semana é da autoria de Luís Andrade, CFA, da direção de investimento da IM Gestão de Ativos)

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Fonte: Markit, Eurostat

A economia da área do euro vive o seu melhor momento desde o período pré-crise. Mais importante que o ritmo de crescimento do PIB, é a sua composição, beneficiando de contributos positivos da quase totalidade das suas componentes e da aceleração de algumas economias que haviam desapontado até então (como França e Itália).

A confiança dos industriais (PMI) atingiu em dezembro o seu nível mais elevado de sempre (60,6 pontos: leituras > 50 significam uma expansão da atividade face ao mês anterior, e vice-versa), enquanto a confiança dos empresários dos serviços atingiu em janeiro 58 pontos, o registo mais elevado desde 2007. Desde então observou-se uma desaceleração dos índices de confiança dos empresários dos setores da indústria e dos serviços, fixando-se em março nos níveis mais modestos em 11 e 7 meses, respetivamente, uma fragilidade transversal face a outras métricas como o ZEW e o indicador confiança dos empresários produzido pela Comissão Europeia.

Importa, portanto, procurar compreender se este abrandamento significa um mero processo de consolidação ou um ponto de inflexão no ciclo económico.

Em primeiro lugar, as condições atmosféricas adversas ao longo do 1º trimestre de 2018, os receios de aceleração da inflação e de remoção de estímulos pelos bancos centrais e a adoção de uma retórica protecionista pelos EUA terão contribuído para a desaceleração observada.

Adicionalmente, tendo em consideração a natureza e os níveis extremados que estes indicadores atingiram, seria expectável que se observasse alguma reversão, face à impossibilidade de, de forma sucessiva, se observar uma aceleração do ritmo de atividade (devido a restrições associadas à capacidade produtiva, etc).

Luis AndradeFinalmente, tal como é evidente no chart of the week acima apresentado, o ritmo de crescimento indiciado por indicadores de sentimento como os PMI era simultaneamente improvável e inconsistente com as métricas de atividade (como a produção industrial e as vendas a retalho – menos extremadas e condizentes com um ritmo de expansão mais modesto).

Por outro lado, fatores como (I) receios de emergência de uma guerra comercial; (II) abrandamento cíclico mais pronunciado do que o esperado da China; (III) proximidade do fim do QE pelo BCE; (IV) possibilidade maior tightening pela Fed, em resposta a um overshooting da inflação; (V) forte apreciação do euro, entre outros, poderão afetar os índices de confiança dos agentes económicos e, consequentemente originar um ponto de inflexão no ciclo económico da área do euro.

Concluindo, o nível ainda robusto de métricas de confiança deixa crer que a moderação recente significa uma manutenção do atual ritmo de expansão, perspetivando-se no entanto um menor potencial de aceleração a partir dos níveis atuais.

Ainda assim, embora se antecipe que o crescimento do PIB em 2018 seja próximo do observado em 2017, a concretização e potencial impacto dos fatores de risco identificados ao longo dos próximos meses deverá ditar se a economia da área do euro prossegue em velocidade cruzeiro ou se, pelo contrário, se assistirá a uma desaceleração para um regime de crescimento mais diminuto.