Chart of the Week – Isto vai aquecer...

Luis Duarte GNB gestão de ativos
Luís Duarte. Créditos: Cedida (GNB Gestão de Ativos)

Chart of the Week é da autoria de Luís Duarte, membro do departamento de risco da GNB Gestão de Ativos.

Enquanto decorre a COP26, a conferência sobre o clima que se diz ser a “última oportunidade” para conseguir conter o aquecimento global, é relevante fazer um ponto de situação do contributo das principais empresas mundiais para essa contenção.

O gráfico em anexo mostra-nos o comportamento das empresas que integram o MSCI All Country World Investable Market Index (uma amostra de 9.226 empresas cotadas), estimando para cada empresa o aumento de temperatura resultante das emissões de carbono previstas. E a imagem que obtemos não é brilhante: de acordo com estas previsões só c. 43% destas empresas conseguem ficar abaixo de 2oC de aquecimento (lembremo-nos que o Acordo de Paris definiu como desejável um aumento médio global da temperatura bem abaixo de 2oC). Se tomarmos como referência o aumento desejável de 1,5oC, menos de 10% das empresas cumprem este desígnio. Por outro lado, 24% das empresas integrantes deste índice estimam emissões de carbono compatíveis com subidas de temperatura superiores a 3oC.

Estes valores são preocupantes e dão que pensar: se, de facto, queremos reduzir o aquecimento global, é necessária uma inversão significativa desta tendência. A quem competirá promover essa inversão? Às empresas? Aos governos? Aos investidores? No 1.º caso, temos já alguns exemplos (como a Royal Dutch Shell, que recentemente definiu que pretende chegar à neutralidade carbónica net-zero dentro de 30 anos, ou a EDP que estabeleceu uma redução de 98% das emissões de CO2 até 2030), mas estas são ainda uma minoria. No 2.º caso, as pressões da opinião pública e dos eleitores deverão conduzir a medidas mais restritivas e maiores encargos para empresas fortemente poluentes. Quanto aos investidores, a alteração de padrões de consumo e o maior enfoque em investimentos ESG podem ter como reflexo o incremento de práticas com menor impacto ambiental.

O tempo escasseia e há muito por fazer... É cada vez menor a janela temporal para mudança de comportamentos antes que seja tarde demais. Há caminhos diversos para gerir os riscos em matérias de sustentabilidade, em muitos casos implicando cortes radicais com o paradigma existente. A transição não será fácil ou indolor, mas este é um novo racional que cada agente económico deve incorporar desde já na sua matriz de decisão.

Fonte: MSCI Net-Zero Tracker