No Chart of the Week, Tiago Vieira, multi-asset sales trader no BiG, destaca as quedas já superiores a 20% registadas pelo índice Nasdaq 100.
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O Chart of the Week é da autoria de Tiago Vieira, multi-asset sales trader no BiG.
O início de 2022 tem sido, e tudo indica que o continuará a ser, amplamente difícil de navegar para os intervenientes dos mercados financeiros à escala global. De facto, se a inflação galopante e respetiva necessidade de apressar o processo de normalização de política monetária tanto na Europa como nos EUA se assumiu como um fator por si só suficiente para desencadear uma relevante deterioração do sentimento de mercado, verificada de forma notória e volátil ao longo das últimas semanas, a introdução de mais uma variável altamente instável e de carácter geopolítico na equação de tomada de decisão dos investidores vem intensificar tal redução drástica de apetite por ativos de risco. A diplomacia será à partida, muito infelizmente, um instrumento muito limitado para travar as intenções de Putin sobre a Ucrânia.
A escolha do gráfico
Perante o contexto atual, tinha à minha disposição vários gráficos de elevada pertinência que poderia selecionar, nomeadamente a reação das matérias-primas, com particular destaque para o crude próximo dos 100 dólares e para ouro que vai fazendo valer a sua proposta de valor enquanto ativo de refúgio, ou a quebra do sentimento bullish de investidores para mínimos dos últimos dois anos. Não obstante, o destaque recai sobre o índice Nasdaq 100 que regista quedas já superiores a 20%, assinalando desta forma um novo bear market após março de 2020.
O que esperar daqui em diante...
Há várias incógnitas particularmente difíceis de estimar na atualidade - em primeiro lugar, e no que respeita a vertente geopolítica, o desfecho relativo à escalada de tensões despoletada pela Rússia.
Historicamente, eventos desta natureza tendem a gerar um impacto relevante, mas limitado nos mercados acionistas, quer em termos temporais, quer em termos de dimensão de quedas. Segundo um estudo elaborado pela LPL Research, em média, as retrações verificadas foram de 4,6%, e foram necessários 43.2 dias para que o mercado recuperasse integralmente das quedas (que se estenderam por 19 dias).
Paralelamente, e do ponto de vista económico, o impacto de tal catalisador que se espera ser naturalmente mais agressivo na Europa do que nos EUA, por via da dependência do gás natural, deverá assumir proporções não muito expressivas, a menos que se venha a registar uma terceira guerra mundial onde vários países venham a estar envolvidos. Disrupções no comércio internacional, bem como o incremento do preço das matérias-primas e respetivas consequências serão dois pontos-chave.
Por outro lado, é interessante percebermos de que forma este evento geopolítico poderá condicionar a normalização de política monetária planeada. Historicamente, a Fed mostrou-se mais paciente em momentos como este. Não obstante, o momento é de grande particularidade, e o aumento do preço das matérias-primas vem acentuar o receio de que a inflação não só prevaleça, como eventualmente ganhe força. As atuações futuras de Lagarde e Powell vão depender essencialmente da interpretação que ambos fizerem do confronto entre a importância de travar a inflação, e o objetivo de não potenciar um abrandamento económico.
Será de esperar que o mercado retome o seu percurso normal de valorização no médio/longo prazo. São também nestas alturas, independentemente se o mercado venha a perder mais terreno ou não, que participantes de mercado impacientes, receosos, ou forçados, vendem as suas posições, pelo que as oportunidades vão surgindo. Não obstante, por força do racional acima descrito, o curto prazo deverá ser instável e volátil, sendo importante permanecermos flexíveis para cenários positivos ou negativos. A título ilustrativo, caso a Fed decida adotar um tom não tão hawkish ao longo dos próximos meses, poderemos vir a assistir a um forte rebound liderado pelas tecnológicas.