No Chart of the Week desta semana, João Sàágua, Analista Macro da equipa de Research do BiG, revela que o ouro como principal ativo de refúgio e o cobre enquanto barómetro do crescimento económico devem ser atentamente monitorizados.
(O Chart of the Week desta semana é da autoria de João Sàágua, Analista Macro da equipa de Research do BiG, Banco de Investimento Global)
Fonte: CFTC COT; Bloomberg; BiG Research
Quando, em virtude do elevado grau de distorção que os bancos centrais imprimiram nos mercados, as duas principais classes de activos – acções e obrigações – emitem mensagens opostas, as matérias-primas conferem a tão necessária confirmação da tendência macroeconómica global.
Esta classe de activos, muitas vezes menosprezada, contém dois dos mais importantes indicadores de mercado relativos ao panorama macro. Prevalecendo ainda bastante imunes à descorrelação face aos fundamentais, causada directa e indirectamente por políticas monetárias expansionistas não-convencionais, o ouro – como primordial activo de refúgio – e o cobre – enquanto barómetro do crescimento económico por excelência – devem ser atentamente monitorizados. Para além do tradicional rácio de preços entre estas duas matérias-primas, torna-se particularmente relevante acompanhar o posicionamento especulativo dos investidores institucionais nestes dois activos.
No segundo trimestre de 2019 – após a dissipação do excessivo optimismo em relação a um potencial acordo comercial entre EUA e China, que, na nossa opinião, será incapaz de restaurar o paradigma de comércio internacional vigente até ao início da escalada proteccionista despoletada por Trump, em Fevereiro de 2018 –, assistimos a um fenómeno que já não se verificava desde a fase final de 2016, momento que antecedeu o ano de crescimento global sincronizado, que ficou conhecido na gíria de mercados como Goldilocks. O rácio long/short – que compara o agregado de posições abertas longas em futuros e opções com agregado de posições abertas curtas nos mesmos instrumentos financeiros – do ouro voltou a ser proporcionalmente superior ao do cobre. Este movimento traduz a visão macroeconómica cada vez mais sombria dos investidores institucionais, que estão agora a preterir um activo de cariz verdadeiramente cíclico como o cobre (rácio long/short de posições não-comerciais está actualmente em 0,7, o que concretiza um posicionamento líquido curto), em prol de um activo com pendor universalmente defensivo. O rácio long/short equivalente em ouro ascende agora a 5,7, revelando um elevado posicionamento líquido longo, ao qual naturalmente subjaz uma visão fortemente bullish para este activo de refúgio.
Em suma, este posicionamento especulativo dos investidores institucionais corrobora a nossa visão de desaceleração económica global sincronizada que, não obstante os renovados esforços dos principais bancos centrais do mundo, deverá resultar, a médio prazo, numa inversão do ciclo económico, com a actual expansão em abrandamento a dar lugar a uma recessão.