Chart of the Week – Sustentabilidade e a marca das oito mil milhões de pessoas

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Adérito Oliveira. Créditos: Vitor Duarte

Chart of the Week é da autoria de Adérito João Oliveira, responsável de Negócio e Sustentabilidade, BPI Gestão de Ativos.

Assino esta rubrica numa semana em que, segundo estimativas da ONU, a população mundial terá atingido os oito mil milhões de pessoas. Esta marca terá sido ultrapassada na terça-feira, 15 de novembro, quando ainda decorre a COP27 – a conferência global da ONU sobre as alterações climáticas – em Sharm el-Sheikh, no Egito.

Tratando-se de uma mera coincidência de calendário, o crescimento demográfico não deixa de ser um fator que tem um enorme impacto sobre as emissões de gases com efeitos de estufa e, consequentemente, sobre as alterações climáticas.

Segundo o Banco Mundial, em média, um aumento de 1% na população está associado a um aumento de 1,28% nas emissões de CO2.

As últimas projeções das ONU sugerem que a população mundial pode crescer para cerca de 8.500 milhões em 2030 e 9.700 milhões em 2050. Prevê-se que atinja um pico de cerca de 10.400 milhões de pessoas durante a década de 2080. Com esta magnitude de crescimento demográfico, espera-se que as emissões globais cresçam substancialmente nas próximas décadas.

Acresce a este facto que, as emissões não se distribuem de forma uniforme na população mundial. De acordo com um estudo da Oxfam, 49% das emissões de CO2 são causadas por pessoas nos 10% mais ricos da população. Por outro lado, a média de emissões produzidas por alguém nos 10% mais pobres é 60 vezes menor do que a de alguém nos 10% mais ricos da população mundial. A desproporção é tal que, é quase inevitável que uma melhoria das condições de vida dos mais pobres – totalmente desejável do ponto de vista social e económico – se traduza numa pressão para o aumento ainda maior das emissões de CO2.

Tudo isto, ao mesmo tempo que se prevê que os 10% mais pobres da população mundial serão os que mais sentirão o impacto negativo do aumento das emissões, sofrerão mais rapidamente com os efeitos das alterações climáticas, estarão menos preparados e terão menos recursos para mitigar ou combater os seus impactos.

Esta marca simbólica dos oito mil milhões em plena COP27 que serviu para esta breve reflexão, deve alertar-nos para importância da descarbonização da economia e de atingirmos as metas traçadas no Acordo de Paris. Começando pelas nossas ações individuais no dia a dia, pela necessária adaptação de muitos processos produtivos das empresas e, como não podia deixar de ser, também pela tomada de decisões de investimento com critérios de sustentabilidade.