As implicações da T+1 trazem uma das mudanças mais significativas no panorama das liquidações em décadas, afirma Ed McGann, responsável global da FX Platform Sales da BNY Mellon IM.
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COLABORAÇÃO de Ed McGann, responsável global da FX Platform Sales da BNY Mellon IM.
Estamos perante uma das mudanças mais significativas no panorama das liquidações em décadas. A partir de 28 de maio de 2024, a Comissão do Mercado de Valores dos EUA programou todas as liquidações de títulos para passarem de um ciclo T+2 para um ciclo T+1. A atualização dos prazos de liquidação de títulos e os requisitos de confirmação têm sido a prioridade para muitos em todo o setor, com uma abordagem semelhante à que foi aplicada quando estas liquidações passaram de T+3 para T+2 em 2017. No final, o mercado levou a cabo essa transição sem grandes alterações, pelo que já existe um modelo de como realizar com sucesso a transição para T+1. Ou não?
T+1 e as suas implicações: um jogo diferente
A T+1 é, de facto, um jogo completamente diferente. Desta vez, os efeitos são maiores e de maior alcance. Além disso, o facto de todos os esforços se terem centrado em garantir que a liquidação de títulos foi efetuada fez com que se tenha esquecido de um componente-chave do quebra-cabeças: a liquidação de divisas.
A redução dos ciclos de liquidação até a este ponto, ainda que muito benéfica em termos de melhoria da eficiência da liquidação de títulos, terá como consequência indireta o surgimento de desafios significativos para a sincronização do mercado mundial de divisas. Avizinham-se transtornos significativos para os gestores de fundos da Europa e Ásia. E os que ainda não se prepararam devem fazê-lo rapidamente para evitar fracassos comerciais.
A fórmula: América do Norte T+1 = Europa T+,05 mais Ásia T+0?
Se, por exemplo, for um gestor de fundos que pretende comprar ações americanas e tem a sua sede em Londres, no contexto atual de T+2, normalmente efetuaria a operação no fecho do mercado nos EUA, ou seja, às 16:00 EST e às 21:00 em Londres. O componente de divisas para financiar a operação organizar-se-ia na manhã seguinte para maximizar o capital. Mas esta abordagem noturna não é possível com a T+1.
Se quiser fazer o mesmo em Hong Kong, 12 horas à frente de Nova Iorque - o que significa que o seu mercado fechou antes de o americano abrir -, a T+1 nos EUA traduz-se efetivamente em T+0. Por outro lado, para os mercados fronteiriços e emergentes na região em geral, onde os fluxos de divisas podem ser mais restritos devido à normativa local, a liquidação T+1 apresenta ainda mais desafios logísticos.
E nos feriados?
Outras complexidades surgem se um feriado não americano calhar em T+1. As datas de liquidação calham tradicionalmente em dias úteis para cada par de divisas, mas se a liquidação de uma divisa calhar num feriado, o calendário desloca-se um dia útil para a frente. Um gestor europeu com um fundo denominado em euros que queira comprar ações americanas não poderá realizar a operação de divisas em T se a T+1 for um feriado no seu país de origem, visto que a operação não poderá ser liquidada em T+1, e também não haverá liquidez disponível.
Para agravar a perturbação, o sistema Continuous Linked Settlement (CLS), que garante o pagamento a ambas as partes de uma operação de divisas, não vai realizar nenhuma mudança operacional para se adaptar à mudança. Deste modo, quando as operações forem efetuadas em T+1 no fecho do mercado nos EUA, os gestores de fundos terão apenas duas horas para registar a operação de divisas antes da data limite do CLS. A possibilidade de liquidar dentro deste prazo é atualmente limitada, e poderá significar que os investidores da Ásia e Europa tenham de liquidar fora do CLS, o que, por sua vez, introduz riscos de liquidez significativos.
Rotas de navegação
Há vias por que os investidores podem optar para tentarem superar estes obstáculos logísticos, mas não são ideais e introduzem níveis de risco operacional. Uma opção é pré-financiar as operações através da reserva das operações de divisas antes das de valores. Isto implica a compra antecipada de dólares americanos sobre a base de uma estimativa informada da quantidade necessária para comprar as ações e, depois, ajustá-la em função do dígito real quando este for conhecido. Esta abordagem dá lugar a uma perda de delta e é um peso para a carteira, visto que os fundos permanecem improdutivamente nas contas dos investidores em vez de serem otimizados no período anterior à liquidação.
Para alguns, estabelecer uma operação nos EUA pode ser uma opção a considerar, mas, mesmo para os que se sentem tentados por esta opção, não é viável dado o iminente prazo de T+1, pelo que não faz sentido. Outra possibilidade é introduzir turnos da noite para as equipas de processamento com o objetivo de se adaptarem melhor ao fuso horário americano.
Em qualquer caso, se não se agir antes da data de migração T+1, ocorrerão invariavelmente falhas na liquidação e custos operacionais, ou, alternativamente, consideráveis comissões por descoberto devido aos levantamentos realizados para mitigara as falhas na operação.
Os depositários estão preparados
Os bancos depositários têm-se preparado ativamente. Fundamentalmente, uma parte essencial do seu modelo de negócio centra-se em atuar em nome dos seus clientes através de instruções permanentes previamente acordadas, e este método de eficácia comprovada adapta-se perfeitamente às exigências do novo mundo das divisas. Ao estabelecer estes acordos, um banco depositário - que se encontra numa posição única para agregar execuções de ações, calcular os requisitos de financiamento e prestar apoio com uma execução e liquidação de divisas eficientes - pode efetivar a execução de divisas necessária para comprar títulos de forma totalmente automatizada.
Para ajudar ainda mais os clientes, estes bancos estão a estudar a possibilidade de ampliar as suas horas limite para estas operações com o objetivo de dispor de mais tempo para a execução. Também estão a ser estabelecidas associações estratégias com empresas de tecnologia financeira de confiança para se oferecer soluções integradas de fluxos de trabalho de divisas. Em alguns casos, tal integra-se melhor com os fluxos de trabalho existentes dos clientes e minimiza as interrupções operacionais.