Como as políticas monetárias dos últimos 5 anos impactaram o risco na componente obrigacionista dos fundos em Portugal

Risco Risk Management Fundos

TRIBUNA de João Ferraz, membro da Lisbon Investment Society, o clube de finanças do ISEG.

No mundo da gestão de ativos, o investimento em obrigações é um elemento estabilizador de um portefólio de investimento durante crises financeiras. Este fator aliado ao perfil conservador dos investidores em Portugal incentiva os gestores portugueses a dar um peso significativo a esta classe de ativos.

João Ferraz. Foto cedida.

Em novembro de 2020, usando a amostra dos fundos mobiliários domiciliados em Portugal com dados disponíveis na base de dados da Morningstar Direct (86 fundos), 40.82% e 12.6% dos ativos dos fundos em Portugal, em média, têm alocação a obrigações e instrumentos de liquidez, respetivamente. Realço, no entanto, que os dados mencionados neste artigo referem-se a uma base de dados da Morningstar que não tem informação histórica completa de todos os fundos em Portugal.

Como tal, é importante os investidores portugueses considerarem os fatores de risco mais relevantes das obrigações: o aumento da taxa de juro e a deterioração do rating do emissor. Enquanto a diminuição dos juros é um fator positivo para os detentores de obrigações no curto prazo, nomeadamente através de fundos, não o é para futuros investimentos, dado que o retorno esperado é menor e a perda possível cada vez maior. Isto obriga os gestores a adaptarem a sua estratégia à nova realidade.

Para se ter uma ideia da trajetória dos juros nos últimos 5 anos, a Euribor a 3 meses desceu de -0.13% para -0.32% em 2016. Em 2017 e até ao 1º semestre de 2019, os juros mantiveram-se estáveis e abaixo de -0.3%. Até ao início de 2021, a taxa chegou a -0.54%, interrompido por uma subida a pique de +22 pontos base em março e abril de 2020.

A escolha de obrigações com maturidades maiores ou com pior rating e, portanto, com mais risco são algumas das técnicas usadas para ajudar a manter a rentabilidade das obrigações face a uma descida dos juros.

Antes da descida dos juros no 2º semestre de 2019, as obrigações BB, usando a escala da Morningstar, representavam cerca de 50% a 80% das obrigações dos fundos em Portugal, mas desde então este valor tem-se situado entre 30% e 50%, tendo sido 14% o último valor registado em novembro de 2020. No 2º semestre de 2019, o desinvestimento em obrigações BB veio a ser substituído por obrigações BBB, cujo valor de investimento passou a ser superior a 50%. Posteriormente, em maio de 2020 o interesse por obrigações A aumentou, possivelmente por conta dos efeitos da pandemia.

Por outro lado, a maturidade média desceu gradualmente até outubro de 2018, quando atingiu o valor mínimo de 5.56 anos. Desde então, tem vindo a subir gradualmente até 9.13 anos em março de 2020. A pandemia levou os gestores a considerar uma redução do risco das mesmas, levando a maturidade média para 7.33 em junho de 2020, mas com a recuperação económica no 2º semestre de 2020, regressou aos valores verificados em março de 2020.

Numa corrida pelos retornos das obrigações, durante o 1º semestre de 2019 verificou-se um ligeiro aumento do peso das obrigações nas carteiras dos fundos em Portugal. Entre 2016 e 2019, o valor investido em obrigações situava-se entre os 33.66% e 37.24%. A partir de julho de 2019 este valor situou-se entre 40.76% e 42.96%.

Concluindo, em Portugal os gestores de fundos preferiram optar por obrigações com um rating melhor e preferiram aumentar o risco expondo-se a títulos de dívida com uma maturidade superior. Isto significa que em média nos últimos 5 anos as carteiras de obrigações são de empresas sólidas e com boas garantias, mas com a maturidade média de quase 10 anos os investidores têm agora, em teoria, uma grande sensibilidade a variações das taxas de juro e da taxa de inflação nos investimentos obrigacionistas.

Este artigo foi escrito no âmbito de uma parceria com a Lisbon Investment Society, o clube de finanças do ISEG, que tem como objetivo fomentar o interesse na área financeira e dar aos seus membros oportunidades para desenvolver competências técnicas ainda durante o percurso universitário. Para mais informações aceda ao nosso website em https://iseglis.com/