Cresce o investimento indireto na gestão de ativos nacional

APFIPP

TRIBUNA de João Pratas, Presidente da Associação Portuguesa de Fundos, Pensões e Patrimónios (APFIPP).

O investimento indireto, através de fundos de investimento, tem um peso muito significativo nas carteiras de gestão de ativos e de fundos de pensões nacionais.

No final de 2022, este investimento indireto, no total das carteiras de fundos de investimento mobiliário, fundos de pensões e carteiras de gestão de patrimónios, atingiu quase 27 mil milhões de euros, o que representava 37,7% do volume total sob gestão (1). Este montante, significa um crescimento de quase 32% relativamente aos 20,3 mil milhões de euros observados em 2018 (21,5% do total).

Os Fundos Mobiliários detinham 6,2 mil milhões de euros investidos noutros fundos de investimento (36% do total sob gestão), os fundos de Pensões 7,9 mil milhões de euros (37%), e as carteiras de gestão de patrimónios 12,8 mil milhões de euros (39%).

Neste universo, os fundos estrangeiros são claramente dominantes relativamente aos fundos nacionais. Na carteira dos FIM nacionais, os fundos estrangeiros representam quase 97% do total de participações em fundos de investimento e nos fundos de pensões (dados de 2021), pesam cerca de 94%. Não existem dados sobre a componente de fundos estrangeiros e de fundos domésticos na gestão de patrimónios, mas se considerarmos os valores das associadas da APFIPP como representativos do mercado, verificamos que cerca de 86% do total de fundos de investimento detidos são domiciliados no estrangeiro.

No caso dos FIM, o aumento do peso das aplicações noutros fundos de investimento não pode ser dissociado da tendência que temos observado, nos últimos anos, de uma maior procura por fundos que investem em diferentes classes de ativos, como sejam os fundos multiativos, os fundos flexíveis e os fundos PPR. No final de 2022, estas tipologias representavam 56% do total de FIM, o que compara com 47% no final de 2018. É precisamente nestas tipologias que o investimento indireto, através de fundos de investimento, tem maior significado: no final de 2022, quase 61% (ou seja, 5,8 mil milhões de euros) da carteira deste tipo de fundos estava aplicada em fundos de investimento.

Os fundos de pensões, à semelhança dos fundos PPR têm políticas de investimento que incluem diferentes classes de ativos, pelo que apresentam alguma similaridade com os fundos multiativos e com os fundos PPR. Neste sentido, as razões que sustentam o crescimento das estratégias baseadas em fundos de Investimento acabam por ser comuns.

A maior dimensão de grande parte dos principais gestores de fundos estrangeiros permite que atinjam maiores economias de escala e, desse modo, reduzir os custos, sobretudo nas classes institucionais, que são as que são maioritariamente adquiridas para as carteiras de FIM, GP e fundos de pensões.

O fator dimensão desses gestores estrangeiros reflete-se, igualmente, numa maior capacidade de investirem em mercados e segmentos mais específicos, o que, associado ao menor custo, tornam os seus fundos muito competitivos comparativamente com o investimento direto.

Crê-se que sejam esses os dois grandes fatores que explicam o crescimento das aplicações em fundos, especialmente em fundos estrangeiros: por um lado, permitem abarcar mercados e segmentos que são de mais difícil acesso aos gestores nacionais e, por outro, permitem um investimento em segmentos / sectores / regiões a um custo menor do que o investimento direto.

Os custos de transação reduzidos ou mesmo inexistentes, sobretudo no caso de fundos de gestão ativa, permitem aos gestores uma maior flexibilidade no ajuste das carteiras decorrentes de alterações na estratégia de alocação ou para reagir a alterações nos mercados em que investem, o que constitui um outro argumento favorável às aplicações em fundos de investimento.

Continua, obviamente, a haver espaço para o investimento direto, e vemo-lo nos fundos mono-ativo, como nos fundos de obrigações, nos fundos de ações e nos fundos do mercado monetário / curto prazo, mas, no que respeita a fundos multiativos, crê-se que a tendência permanecerá e que, se a procura por este tipo de fundos / carteiras continuar a crescer como tem ocorrido no passado recente, seguramente, as aplicações em fundos de investimento virão a ter um peso ainda maior.


(1) Os valores apresentados não expurgam a dupla contabilização das carteiras de Fundos de Investimento e de Fundos de Pensões que são geridos através de mandatos, no âmbito da Gestão de Patrimónios, pelo que, efetuando esse ajustamento, esses montantes serão, obviamente, mais reduzidos.