Don’t fight the central banks!

Carlos Bastardo ISEG Imofundos_noticia
Carlos Bastardo. Créditos: Vítor Duarte

TRIBUNA de Carlos Bastardo.

A inflação está a descer ligeiramente nos EUA e na Europa. Contudo, ainda se situa em níveis muito elevados. É necessário não esquecer que quando se analisam valores homólogos face ao ano de 2021, no último trimestre do ano passado a inflação já estava a subir.

O que será importante nos próximos meses é vermos o valor do cabaz de compras das famílias descer, uma vez que este ano cresceu mais de 20% em Portugal (cabaz de produtos essenciais).

Os bancos centrais continuaram a sua trajetória de subida das taxas de juro este mês. 

A Reserva Federal Americana (Fed) subiu a taxa de juro em 0,5% para o intervalo 4,25% - 4,5%. Jerome Powel, presidente do Fed, referiu que os sinais de que a inflação possa ter atingido o pico não são ainda suficientes para que o banco central cesse a subida das taxas de juro. São necessárias maiores evidências que permitam ter a confiança de que a inflação está a descer sustentadamente (hawkish Fed comments). 

Jerome Powel considera que o mercado de trabalho nos EUA continua dinâmico, apesar dos cortes que assistimos em várias grandes empresas.

Se a inflação descer rapidamente, tal significará muito provavelmente que a economia estará em recessão.

Mas por enquanto, a posição do Fed é que o aumento das taxas de juro irá ara além dos 5% em 2023. Isto poderá obrigar os analistas financeiros a rever negativamente a evolução dos dados macroeconómicos e dos lucros das empresas

A evolução descendente da inflação nos próximos 3 meses será determinante para a ação do Fed. 

O Banco Central Europeu (BCE) subiu a taxa diretora para os 2,5% e o discurso dos responsáveis aponta para a necessidade de mais subidas das taxas de juro. Se até agora, o mercado descontava uma subida da taxa de juro de refinanciamento até 3%, agora teremos de apontar para valores mais elevados, entre os 3,5% ou mesmo os 4%. 

Simultaneamente, foi anunciado por Christine Lagarde que o BCE tem intenção de começar a reduzir o seu balanço, com implicações no programa de compra de títulos. As yields da dívida pública europeia subiram de imediato.

Estas notícias dos bancos centrais nos dias 14 e 15 de dezembro tiveram como consequência um tombo das bolsas entre os 2,5 e os 3% no dia 15.

Alguns analistas financeiros nacionais e internacionais estão apreensivos para a primeira parte do próximo ano nos mercados financeiros, antevendo uma recuperação no segundo semestre. Contudo, penso que não é de descartar novas revisões em baixa dos lucros das empresas.

O cenário de recessão com inflação ganha força. Ao analisar o discurso dos presidentes da Fed e do BCE deste mês, concluo que os bancos centrais estão bastante determinados a baixar a inflação, custe o que custar, mesmo que tal tenha consequências económicas negativas (recessão e desemprego).

Demoraram demasiado tempo a iniciar o ciclo de subida das taxas de juro e agora, querem arrepiar caminho. A questão é que são eles que mandam e lutar contra eles pode ser complicado: don’t fight the central banks.

Desejo a todos um Feliz Natal e um ano de 2023 com saúde e sucesso. Vamos necessitar ter muita paciência, mas também é necessário ter esperança que ao longo do ano, a situação possa gradualmente normalizar-se.