Duarte Calheiros, diretor da BlueCrow Capital, revela as perspetivas da entidade nas diferentes geografias e os riscos a monitorizar.
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Em apenas alguns meses, a pandemia do COVID-19 paralisou todas as economias a nível global num movimento de isolamento social como nunca assistimos na história.
Estados Unidos
Na economia dos EUA prevê-se que o produto interno bruto atinja uma queda de 35% este trimestre, algo sem precedentes, isto após contrair 4,8% no último trimestre.
Contudo, a recuperação económica dos EUA começa já no segundo semestre de 2020, assumindo que as restrições ao movimento sejam gradualmente levantadas. Os esforços para ajudar as pequenas empresas, especialmente o Programa de Proteção de Pagamento, que concede empréstimos a pequenas empresas, não reembolsáveis se estas mantiverem a maioria dos seus trabalhadores, permitirão que as empresas reiniciem rapidamente à medida que os seus clientes retornam.
A economia deverá crescer, segundo as estimativas, 16,0% no terceiro trimestre e 9,0% no quarto trimestre, seguido por um possível crescimento de 6% em 2021.
O maior risco, que parece que se pode avizinhar, é um segundo surto de coronavírus no início do 4º trimestre de 2020 ou em 2021, coincidente com o período normal de gripe sazonal, logo após um período de desconfinamento longo, que poderá levar a novas restrições de movimento comercial (comércio global) e uma segunda recessão. Um dado parece ser claro, os apoios governamentais à economia (micro) serão bastante limitados numa segunda vaga, limitando os melhores cenários.
Resumindo, a perspetiva económica para os EUA é de uma recessão em forma de U, de acordo com os principais indicadores económicos.
União Europeia
À semelhança dos EUA e com umas semanas de antecedência assistimos ao colapso da atividade económica na Europa. As economias Italiana e Espanhola, dois dos países mais afetados pela pandemia, poderão contrair até 9% do PIB este ano. O PIB da média da UE deverá contrair cerca de 7,5% este ano, muito mais profundo do que durante a crise financeira global em 2009.
Espera-se, no entanto, a retoma, assumindo (i) o efeito das medidas monetárias e fiscais sem precedentes implementadas pelos Estados-Membros, como o meio trilião de euros com alguns entraves na distribuição, (ii) a pandemia permaneça sob controlo e não haja segunda vaga.
Esta recuperação apenas gradual e em forma de U, prevê-se já no segundo semestre, poderá, contudo, revelar-se desigual, sendo bastante mais lenta nos países mais afetados pelo Covid-19, e por sua vez, mais endividados.
China
O crescimento da segunda maior economia do mundo para 2020 está neste momento previsto para 2% do PIB, o que marcaria o pior crescimento desde 1976, o último ano da Revolução Cultural, que destruiu a economia e a sociedade daquele país. O PIB da China regrediu 6,8% nos três primeiros meses do ano, a primeira vez, desde que os registos se iniciaram.
Prevê-se uma recuperação significativa da atividade económica com os US $ 600 bilhões em estímulos desde o segundo trimestre, no terceiro e quarto trimestres, o crescimento do PIB poderá rondar os 6%
O maior problema da China neste momento poderá ser o enorme risco de dívida do seu sistema.
Mercados Emergentes
O choque do vírus e a queda nos preços do petróleo colocam desafios particulares para os mercados emergentes (EM). O surto ameaça sobrecarregar os fracos sistemas de saúde pública, levando à possibilidade de danos económicos prolongados.
A recuperação no segundo semestre deste ano nestas economias dependerá de outros fatores que não estão diretamente relacionados com a pandemia:
- Fuga de investidores, revertendo os US $ 310bilhões em entradas que a classe de ativos desfrutou em 2018 e 2019.
- O choque do petróleo pode continuar por um período prolongado, colocando uma forte pressão fiscal sobre os exportadores de commodities.
- A depreciação acentuada da moeda (alavanca para a recuperação destes países) pode começar a pesar nos países com grandes quantidades de dívida denominadas em dólares americanos.
- O vírus pode ser difícil de controlar e sobrecarregar os sistemas de saúde em alguns ou em todos os países de mercados emergentes, potencialmente levando a consequências políticas para os governos em exercício.
Japão
As fraquezas estruturais do Japão em termos de política monetária, com cada vez menor impacto, e deflação persistente significam que provavelmente continuará a ser uma economia com capacidade de recuperação menor relativamente as outras economias desenvolvidas.
Classes de ativos melhor posicionadas
Ações, a única classe de ativos que, em termos de preço, poderá recuperar das perdas de uma forma mais célere, conforme temos visto desde o final de março, com a introdução de estímulos nas economias. O potencial de um período de maior volatilidade poderá a ter um impacto bastante positivo em carteiras ativas.
Obrigações: com a intensificação de uma política de taxas de juro 0%, implementada pelas maiores economias do mundo, não conseguimos ver prémio significativo que justifique investir nesta classe de ativos.
Imobiliário: Terrenos agrícolas e sector industrial podem ser interessantes em momentos de maior volatilidade, mas o setor residencial e turístico está condenado a yields baixas e desvalorização no médio prazo. O pior segmento nesta classe de ativos será o de escritórios, com a ferramenta do teletrabalho implementada e testada, irá haver lugar a maior crise de longo prazo que este segmento alguma vez passou.
Riscos a monitorizar
Efetivamente o mercado, pois a volatilidade pode reaparecer inesperadamente, obrigando-nos a manter uma redobrada atenção e coberturas relevantes nas carteiras.
Fundo recomendado na atual conjuntura
Discovery Fund (ações), teve um comportamento bastante defensivo aquando das sessões de quedas de mercado, graças a coberturas efetuadas no final de fevereiro, tendo recuperado todas as perdas e situando-se em terreno positivo já desde o final de abril.
Temas relevantes
As experiências adquiridas em crises anteriores lembram-nos que à rentabilidade vêm associadas duas outras características, o risco e a liquidez. Embora estejamos bastante à vontade com várias estratégias alternativas, e a nossa preferência está no Trade Finance e Imobiliário, a liquidez das mesmas não é satisfatória em períodos de elevada volatilidade.
Mantemos uma exposição grande ao mercado de ações e REITS, que consideramos os melhores para a proteção de uma carteira global e diversificada.