COLABORAÇÃO de Carlos Bastardo.
No meu último artigo de final de julho escrevi: “Os últimos meses do ano poderão trazer mais volatilidade, até porque esta se encontra num valor reduzido (o indicador VIX nos 15 pontos em 22/7)”.
E eis que em 5 de agosto, a bolsa japonesa caiu 12,4% (o pior dia desde outubro de 1987), levando as bolsas da Europa e dos EUA a fortes quedas e o índice VIX a chegar quase aos 40 pontos.
A subida dos juros no Japão, alguns indicadores que geraram receios de um abrandamento económico forte nos EUA, a reduzida liquidez em agosto e as operações de carry trade foram alguns fatores que levaram à forte desvalorização das bolsas mundiais no dia 5 de agosto.
Estratégia de carry trade dos investidores
Quando se verificam diferenças significativas entre as taxas de juro em países como os da zona euro, os EUA, o Japão ou o Reino Unido, uma boa parte dos investidores (institucionais e particulares com dimensão) endividam-se no país onde as taxas de juro são mais baixas e aplicam o dinheiro em ativos financeiros que gerem rendimentos mais altos noutro(s) país(es). Se o rendimento obtido for superior à taxa de juro dos empréstimos contraídos, obtêm ganhos com a alavancagem efetuada. Esta é a estratégia de carry trade.
Quando as taxas de juro estavam perto de 0% nos EUA e na Europa, não existia esta oportunidade. Mas, quando as taxas de juro começaram a subir rapidamente nos EUA e na Europa e no Japão tal não se verificou durante bastante tempo, muitos investidores financiaram-se em ienes e investiram em ativos financeiros internacionais. Com a subida das taxas de juro no Japão e apesar de estarem num nível bastante mais baixo que nos EUA e na Europa, algumas dessas operações de carry trade foram revertidas: os investidores venderam os ativos financeiros (criando pressão vendedora nas bolsas, num mês em que a liquidez é normalmente reduzida) e liquidaram a dívida financeira.
Foi isto que aconteceu no início de agosto e que alguns analistas financeiros consideram que ainda não acabou.
Desempenho dos índices dos EUA e da Europa
O índice S&P 500 atingiu em 5 de agosto um valor mínimo de 5.119,25 pontos e o índice Europe Stoxx 600 atingiu um valor mínimo de 479,83 pontos no mesmo dia.
Desde os valores mínimos registados nesse dia, os mercados recuperaram até ao dia 21 (fecho) 9,8% (S&P 500) e 7,1% (Europe Stoxx 600). O índice S&P 500 em 21 de agosto apresentou uma performance year to date de 17,8% e o índice Europe Stoxx 600 de 7,6%, ou seja, cerca de 10% de diferença entre os dois índices, com ampla vantagem para o índice americano.
Para não variar, o índice da bolsa americana comporta-se bem melhor que o benchmark europeu. Cai normalmente menos nos dias maus e recupera mais rapidamente após esses dias. Voltou a acontecer neste mês de agosto.
Fatores de risco
Apesar da recuperação das bolsas, os fatores de risco não foram de férias: eleições nos EUA, abrandamento económico, aumento das falências de empresas nos EUA (start-up e não só), risco geopolítico, inflação que teima em não descer como se desejaria, entre outros.
Setembro vai ser um mês de decisões importantes, nomeadamente quanto ao ciclo de descida das taxas de juro (Reserva Federal Americana, principalmente).
O grande susto de 5 de agosto deixou marcas, apesar da recuperação posterior dos mercados. Por isso, a monitorização dos acontecimentos, dos dados macroeconómicos e dos resultados das empresas vai obrigar a uma atenção redobrada dos gestores de ativos financeiros nos próximos tempos. Espero que tenham descansado nas férias ou que ainda estejam a descansar!