Esta semana vou estar de olho… na proposta da Comissão Europeia para o Recovery Fund

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(O contributo desta semana é da autoria de António Serra, gestor da Haitong.)

No início da semana passada, França e Alemanha avançaram com uma proposta arrojada de um fundo de recuperação europeu (Recovery Fund). Apesar de não terem sido anunciados muitos detalhes, trata-se de um pacote de 500 mil milhões de Euros em subsídios (e não apenas empréstimos) destinados aos países mais afetados pela recessão provocada pela pandemia. Será necessário definir como será distribuído este dinheiro e a forma como seria financiado. À partida, seria financiado pela Comissão Europeia, ou seja, pelo orçamento comunitário. Neste caso, poderá ser um “game changer”, pois, no fundo, tratar-se-iam de transferências de fundos para o Sul da Europa financiadas por uma forma de emissão conjunta de dívida. E, para além do apoio enorme que o BCE tem prestado até agora, poderá ainda dar suporte à forma de financiar deste fundo através dos seus programas de compras de ativos.

Esta proposta foi vista positivamente pelos mercados financeiros, mas com uma certa dose de cepticismo. Depois dos avanços e recuos (e muitos tiros nos pés) na última década, durante a crise das dívidas soberanas, a desconfiança de que os políticos europeus consigam chegar a um consenso é, naturalmente, elevada. Habitámo-nos à ideia que na Europa se discute muito e se decide pouco, que os políticos se preocupam apenas com as questões nacionais e que apenas tomam decisões muito tarde e depois de muito pressão da economia e dos mercados financeiros. Mas, desta vez, face a uma crise generalizada e ao espectro de uma forte recessão, a resposta foi mais forte, mais coordenada e mais rápida. Os críticos argumentarão que a resposta nos Estados Unidos foi muito mais forte – o que é verdade; que haverá ainda forte oposição dos países “frugais” (Holanda, Áustria, Finlândia, Suécia), o que é provável; e que demorará demasiado tempo a ser implementado, o que é possível. No entanto, desta vez esta proposta vai na direção certa e comandada pelos países com maior peso dentro da União Europeia.

Esta semana será a vez da Comissão Europeia avançar com a sua proposta, que possivelmente não irá divergir muito da proposta franco-alemã. Vamos ver como correm as negociações para que uma boa proposta possa ser ratificada nas semanas seguintes…

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