Depois da reunião do BCE da passada quinta-feira, esta semana é a vez da Reserva Federal. Teresa Caldeira, direcção de estratégia e alocação da Caixagest, o discurso de Jerome Powell poderá confirmar uma estratégia para a gestão futura da sua política monetária mais dependente das dinâmicas económicas e menos restritiva.
(O 'Esta semana vou estar de olho em...' desta semana é da autoria de Teresa Caldeira, da direção de estratégia e alocação da Caixagest)
O enquadramento de crescimento económico e de reduzidos níveis de inflação propiciou o aumento gradual e consistente, por parte do Comité de Politica Monetária da Reserva Federal Americana (FOMC), das taxas diretoras, desde 2015. Esta trajetória foi indissociável da perspetiva e análise dos vários membros da Reserva Federal, segundo a qual, no referido enquadramento, as taxas diretoras seriam inferiores a um nível considerado “neutral” para a economia. A reunião da próxima quarta-feira, de 19 de dezembro, poderá, contudo, indicar um abrandamento desta tendência. Este Comité reveste-se ainda de particular importância, uma vez que neste irão ser apresentados não só as estimativas económicas, mas também as perspetivas dos governadores para a evolução futura das taxas diretoras da Reserva Federal (“foward guidance”).
Alguns desenvolvimentos recentes sugerem, de facto, que a reunião de dezembro poderá ser propícia a surpresas ao nível da orientação futura. Primeiramente, dado que no último Comité e nas minutas posteriormente divulgadas, vários membros mencionaram explicitamente que a abordagem para a definição da política monetária deveria ser mais dependente da evolução atual dos dados económicos (“data dependency”), posição enfatizada também pelo vice-presidente da instituição R. Clarida. Em paralelo, o presidente da Reserva Federal, J. Powell, afirmou, num discurso recente, que as taxas diretoras poderiam estar já próximas de um nível considerado como “neutral” para a economia. Esta postura foi interpretada pelos agentes de mercado como um indício de políticas monetárias potencialmente menos restritivas e, consequentemente, de um menor número de aumentos das taxas diretoras face ao anteriormente perspetivado.
Taxas dos diretoras EUA - Implícitas nos Futuros vs. Dots (em %)
Fontes: Caixagest; Fed
Notas: FF = Fed Funds ou Taxas diretoras; Dots = Mediana de previsões para as taxas FF dos participantes do FOMC; #x = número de subidas de 25p.b. nas taxas diretoras
Desta forma, embora não esteja em causa o aumento de 25p.b. das taxas diretoras na próxima quarta-feira, o discurso do presidente da Reserva Federal reveste-se de especial relevância, pois poderá confirmar uma estratégia para a gestão futura da sua política monetária mais dependente das dinâmicas económicas e menos restritiva.
De acordo com o consenso dos economistas, o contexto dos próximos meses será caracterizado pela desaceleração não só dos EUA, mas também em termos globais, bem como pela manutenção de diversos riscos, os quais poderão acentuar o referido abrandamento. Aliás, atualmente, o mercado tem já implícito, através dos futuros das taxas diretoras, que o seu processo de subida começará a ser revertido após dezembro de 2019, pelo que poderá estar já a descontar uma inversão do ciclo económico algures em 2020.