O Esta semana vou estar de olho... é da autoria de Vítor Mário Ribeiro, CFA, founder da Future Proof.
As estimativas GDPNow da Fed de Atlanta têm como objetivo capturar o crescimento anualizado do PIB americano em tempo real. Trata-se de um modelo puramente quantitativo que utiliza 13 subcomponentes bem como um conjunto de técnicas de análise de dados e estimação para monitorizar a evolução da economia.
Sabemos que os mercados financeiros são indicadores avançados, autênticas máquinas de atualização de expectativas, e que na base dessas expectativas estão, entre outras, as perspetivas para a economia. Sabemos bem da importância de indicadores como a inflação, crescimento do PIB e taxas de juro, mas também de indicadores mais instantâneos como o consumo de energia ou o tráfego diário e a mobilidade. A verdade é que nos habituamos a ver o mercado financeiro como principal indicador da economia no futuro, a par dos indicadores de sentimento, os movimentos do dinheiro e até os índices PMI, entre outros.
Mas o mundo está mais rápido. As crises e as recuperações acontecem mais amiúde e os ciclos económicos são mais erráticos. E apesar desta evolução, ainda assim, continuamos a justificar o estado atual da economia apenas com teorias e indicadores desenvolvidos há décadas ou até séculos atrás.
Uma solução para este desfasamento parece estar nos dados. Um oceano de informação para processar e que não se coaduna com o atraso de indicadores mais anacrónicos como o PIB ou a taxa de inflação que são conhecidas com atraso, implicando também um atraso nas medidas a tomar pelos decisores da política monetária e fiscal.
De entre os indicadores avançados ou, pelo menos, coincidentes (em tempo real), que mais se podem vir a destacar e a fazer parte de um modelo mais rico para captação de expectativas estão medidas como o indicador breakeven inflation, a taxa de inflação trimmed mean e este GDPNow da Fed de Atlanta.
O aparente desligamento das taxas de juro reais da perspetiva inflacionista que vem inundando de ruído os meios informativos bem que pode ter alguma explicação nestes indicadores em tempo real, que entram em claro confronto com a perceção geral, as disrupções das cadeias logísticas e até o aumento do poder negocial dos salários face à escassez de produção e recursos humanos.
Por isso, e invertendo um pouco o papel, o GDPNow está a indicar que mercados acionistas fortes e uma certeza inexorável de retirada de estímulos e subida das de juros por parte dos bancos centrais, podem coexistir com uma economia em clara desaceleração. Será mesmo?
