Esta semana vou estar de olho... no Canal do Suez

Rui Araújo, CFA

‘Esta semana vou estar de olho…’ a é da autoria de Rui Araújo, CFA, portfolio manager na BPI Gestão de Ativos.

O trânsito no Canal do Suez está interrompido em ambas as direções, bloqueado por um navio de carga que encalhou na passada terça-feira. Os esforços da Autoridade do Canal do Suez (SCA) para desencalhar o navio e desobstruir a rota de trânsito estão em processo. O canal já esteve bloqueado no passado, mas a SCA foi capaz de resolver o problema em poucas horas. Porém, o nível de complexidade deste acidente é diferente dos anteriores e, à data da escrita, só a duração para mover o navio e resolver o congestionamento ditará os impactos nos mercados.

O canal do Suez é a principal rota de comércio de petróleo entre o Médio-Oriente e a Europa. Adicionalmente, é uma importante rota de comércio entre a Ásia e os países da Europa, sendo responsável por cerca de 12% do volume do comércio global e 30% do volume mundial de transporte de contentores. No ano passado, atravessaram o canal em média cerca de 50 navios por dia e estima-se que cada dia que o canal está bloqueado corresponde a cerca de 9,6 biliões de dólares de mercadoria estagnada. O redirecionamento dos navios para uma rota alternativa que contorna África do Sul adicionaria uma ou duas semanas às viagens Ásia-Europa, bem como aumentaria significativamente os custos do transporte por viagem.

O bloqueio do canal vem aumentar a pressão sobre uma cadeia de abastecimento global que já se encontra em dificuldades para satisfazer a forte procura suprimida pela situação da pandemia. A situação pode afetar múltiplas indústrias, sendo que a fila de trânsito já incluí várias matérias-primas entre as quais o cimento, petróleo, combustível, produtos químicos, gado, tanques de água e carga geral. Também o custo do aluguer de alguns navios para viagens entre a Ásia e o Médio-Oriente aumentou significativamente após o incidente, à medida que os remetentes procuram alternativas de entregas. Adicionalmente, um atraso na reabertura do Canal pode traduzir-se num maior congestionamento nos portos, num aumento das taxas de frete nos subsetores de transporte e numa maior pressão sobre o preço de algumas matérias-primas e produtos.”