Segundo Henrique Amaral Dias, responsável interno pela análise macro da Future Proof, a resiliência europeia e a emergência de estratégias temáticas demonstram que a procura por produtos sustentáveis permanece.
Registe-se em FundsPeople, a comunidade de mais de 200.000 profissionais do mundo da gestão de ativos e património. Desfrute de todos os nossos serviços exclusivos: newsletter matinal, alertas com notícias de última hora, biblioteca de revistas, especiais e livros.
Para aceder a este conteúdo
O Esta semana vou estar de olho… é da autoria de Henrique Amaral Dias, professor universitário, economista, analista financeiro e responsável interno pela análise macro da Future Proof.
O investimento ESG passou por uma transformação significativa em 2024 – tendência que, tudo indica, continuará em 2025. Após um período de crescimento expressivo, o setor enfrenta agora maiores restrições regulatórias, divergências transatlânticas no sentimento dos investidores e alterações nas estratégias dos gestores de fundos sustentáveis. Dados da Morningstar, Reuters e de analistas do setor evidenciam uma forte desaceleração dos influxos globais em fundos ESG, acompanhada de recordes de exfluxos nos EUA, enquanto a Europa mantém uma procura resiliente. Este cenário sustenta a ideia que o ESG não está a desaparecer, mas antes a evoluir para um framework mais matizado, regulado e orientado para a performance.
Fluxos de fundos ESG: duas realidades regionais

Declínio dos influxos globais: Em 2024, os influxos globais para fundos sustentáveis caíram para 36 mil milhões de dólares, representando cerca de metade dos níveis de 2023 – o menor valor desde 2018 (Reuters). Em contraste, o mercado de fundos convencional continua a crescer robustamente, evidenciando uma clara disparidade.
Exfluxos nos EUA: Nos Estados Unidos, foram registados exfluxos de 19,6 mil milhões de dólares, mantendo uma sequência de nove trimestres consecutivos de retiradas. A retórica política anti-ESG e o desempenho inferior dos fundos sustentáveis, especialmente em setores tradicionalmente associados às energias não renováveis, contribuíram para esta tendência.
O caso europeu: A Europa, por sua vez, atraiu 18,5 mil milhões de dólares somente no quarto trimestre de 2024, mantendo a dominância com 84% dos ativos sustentáveis globais. No entanto, os fluxos anuais desaceleraram em relação a anos anteriores, sinalizando um cenário de maturação.

Drivers da desaceleração do ESG
Escrutínio regulatório: O SFDR da UE forçou muitos fundos a reverem as suas classificações ou até a encerrarem, reduzindo os riscos de greenwashing, embora gerando perturbações a curto prazo (Reuters). A adoção obrigatória do framework do ISSB padronizou as divulgações, elevando os custos de compliance, mas também melhorando a transparência (RBC Capital Markets).
Desafios de performance: Os investimentos orientados para o crescimento, presentes em muitos fundos ESG, sofreram num ambiente de taxas de juro elevadas durante 2022 e 2023. A Morningstar observou que esse hiato “reduziu a atratividade” do ESG para investidores focados na rendibilidade.
Polarização política nos EUA: Esforços legislativos anti-ESG nalguns estados norte-americanos e a inércia regulatória face às propostas de disclosure climático da SEC criaram incertezas que pesam sobre os fluxos nos EUA.
Adaptação da indústria
Integração ESG: os asset managers estão a incorporar fatores ESG em todos os seus processos de investimento, em vez de oferecer produtos exclusivamente ESG. Ferramentas de customização, como o direct indexing, permitem alinhar os portefólios aos valores dos clientes sem marcação explícita.
Fundos temáticos e de impacto: Fundos com ênfase climática registaram fluxos líquidos que equivalem a 19% dos seus ativos em 2024, superando amplamente o crescimento médio dos fundos ESG (2%). Produtos focados na descarbonização, infraestruturas renováveis e impacto social positivo estão a ganhar terreno, refletindo uma adaptação estratégica ao cenário atual.
Perspetivas para um período de maturação
A expetativa é de que a Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD) da UE e os standards globais do ISSB simplifiquem as divulgações, aumentando a comparabilidade e a confiança dos investidores (RBC Capital Markets). Acresce que os fundos de transição climática e green bonds continuam a atrair capital, demonstrando um interesse perene em resultados mensuráveis de sustentabilidade.
Conclusão
Apesar dos desafios de curto prazo evidenciados pelos exfluxos nos EUA e pelo encerramento de fundos, a resiliência europeia e a emergência de estratégias temáticas demonstram que a procura por produtos sustentáveis permanece. Para crescer neste ambiente em transformação, os gestores de ativos devem priorizar a transparência, a personalização e um rigor constante no compliance regulatório, transformando os desafios atuais em oportunidades para a criação de valor sustentável.