Guilherme Almeida, analista de fixed income da Millennium bcp – DWM, estará atento aos movimentos de alterações de política monetária por parte da Reserva Federal Americana.
Registe-se em FundsPeople, a comunidade de mais de 200.000 profissionais do mundo da gestão de ativos e património. Desfrute de todos os nossos serviços exclusivos: newsletter matinal, alertas com notícias de última hora, biblioteca de revistas, especiais e livros.
Para aceder a este conteúdo
O timing de alterações de política monetária por parte da Reserva Federal Americana é detido como um dos principais riscos para a evolução a médio-prazo dos ativos financeiros.
A melhoria muito significativa das projeções para a evolução do PIB dos EUA a que assistimos nos quatro primeiros meses deste ano suportada pelo anúncio dos primeiros pacotes de estímulos da presidência de Joe Biden e de uma campanha de vacinação rápida e eficaz levou a que o mercado antecipasse as datas da primeira e subsequentes subidas das taxas de referência. Este movimento ocorreu de forma abrupta e foi até contrário às indicações da Reserva Federal que tem continuamente vincado a necessidade de ver traduzidos nos dados económicos os seus objetivos ao nível de inflação e de emprego, nomeadamente que a taxa de inflação suba moderadamente acima de 2% por um período de tempo e que estabilize no longo-prazo em torno dos 2%, e, ao mesmo tempo, que o mercado de trabalho regresse à condição de máximo emprego.
Em relação ao objetivo de emprego, a Reserva Federal já deixou claro que a taxa de desemprego oficial não será a métrica mais decisiva para avaliar a robustez do mercado de trabalho e assumiu que irá privilegiar uma abordagem mais abrangente e inclusiva com especial enfoque em determinados segmentos como emprego menos qualificado e minorias étnicas, que foram desproporcionalmente mais afetados pelas características da crise pandémica e apresentam historicamente um nível de desemprego mais elevado. Os últimos dados mostram que a recuperação do emprego tem sido efetivamente mais lenta nesses segmentos. Também o indicador de emprego em percentagem da população na faixa etária entre os 25 e 54 anos (“prime-age”) está aquém do nível pré-pandemia indicando que também aqui existe uma margem significativa de melhoria.
Apesar dos desafios, perspetiva-se que a recuperação possa ser significativamente acelerada depois de retiradas as restrições à mobilidade que permita o funcionamento em pleno do setor dos serviços. Isto numa altura em que 141 milhões de Americanos, representando mais de 40% da população, já recebeu pelo menos uma dose da vacina.
Será importante, por isso, acompanhar os dados do mercado de trabalho para compreender como se irá resolver a divergência que continua a existir entre as projeções da Reserva Federal que apontam para a manutenção da taxa de referência no nível atual até 2024, e as expetativas incorporadas no mercado que sugerem até quatro subidas de taxas até ao final de 2023. Caso o cenário de uma remoção gradual dos estímulos monetários - possivelmente a começar já em 2022 com a redução do ritmo mensal de compra de Treasuries e agency MBS - motivada pela boa performance económica refletida na melhoria do mercado de trabalho e em pressões inflacionistas moderadas se concretize, os investidores devem antecipar o seu impacto nos ativos de risco, em especial nas classes tradicionalmente mais sensíveis a subidas de taxas de juro como dívida de países emergentes ou ações do estilo growth.