Bruno Minoya Perez , diretor de Banca Privada do Banco Carregosa, estará atento ao mercado de trabalho nos EUA que enfrenta alguns desafios, quer pela sua flexibilidade, quer pelo seu dinamismo.
O Esta semana vou estar de olho em... é da autoria de Bruno Minoya Perez, diretor de Banca Privada do Banco Carregosa.
Existem vários indicadores que podem impactar os mercados financeiros, entre outros, o tema da inflação (temporária ou mais duradoura); a eventual redução da liquidez injetada nos mercados pelos Bancos Centrais; a previsível e já anunciada subidas das taxas de juro por parte da Fed, caminho que deverá ser seguido em devido tempo pelo BCE; as expectativas de crescimento para os vários Blocos Económicos; a evolução da pandemia, que se por determinados momentos alisa a confiança dos Investidores, outros momentos existem em que esta confiança é impulsionada por notícias que dão conta de um maior controlo sobre o vírus; a subida generalizada dos preços das commodities; e mais recentemente o agravamento das tensões geopolíticas entre a Rússia e a Ucrânia. Contudo, e apesar da ponderação que cada um destes fatores têm na volatilidade dos mercados financeiros, os Novos Pedidos de Subsídio de Desemprego na economia norte-americana são sem dúvida um indicador preponderante, quer na evolução da economia, quer no comportamento das Bolsas mundiais.
Volvidos mais de 2 anos em que o vírus COVID-19 deu os seus primeiros sinais, o mercado de Emprego (norte-americano e europeu) sofreu um forte revés. Mas desde então, tem recuperado de forma consistente, mais forte nos EUA, aproximando-se cada vez mais dos níveis pré-pandemia. As sequelas que o vírus e suas variantes deixaram no mercado de trabalho, nomeadamente a escassez de mão-de-obra generalizada, são um forte contributo para uma subida dos salários, levando a um aumentos dos custos das Empresas, que apesar de algumas delas acomodarem uma parte desses custos, sacrificando parcialmente as suas margens, outras acabam por aumentar os preços, levando assim a um consequente aumento global dos índices de preços do consumidor. É este movimento que tem motivado um discurso mais musculado por parte dos Bancos Centrais, acelerando uma política monetária mais restritiva para a controlar a inflação, ao invés das políticas expansionistas que temos vindo a assistir nos últimos anos.
O mercado de trabalho nos EUA enfrenta alguns desafios, quer pela sua flexibilidade, quer pelo seu dinamismo. Nesse sentido, os Novos Pedidos de Subsídio de Desemprego (Initial Jobless Claims) serão um dado de relevo que permite analisar a força do mercado de trabalho e a respetiva resposta a uma cada vez maior procura de mão de obra especializada na indústria. Caso os dados a divulgar indiciem um número mais elevado de desempregados, significa que a pressão sobre os salários poderá normalizar a prazo. Caso contrário, a pressão sobre os salários poderá perdurar durante algum tempo. É importante contudo salientar que, se por um lado salários mais elevados não conduzem necessariamente a um aumento da inflação, desde que sejam acompanhados de ganhos de produtividade, por outro, um aumento da inflação se não for acompanhada de uma subida do custos laborais, diminuirá seguramente o poder de compra dos trabalhadores na aquisição de bens essenciais, aumentando assim a degradação do nível de vida e corroborando as desigualdades sociais. Nesse sentido, temos assistido cada vez mais a um reforço do investimento em capital por parte das empresas para reduzir a dependência do fator trabalho, tornando-as mais eficientes, através de uma aceleração na vertente tecnológica e consequente melhoria das margens.