Estimativas económicas da Comissão Europeia sobem, mas...

Carlos Bastardo
Carlos Bastardo. Créditos: Vítor Duarte

TRIBUNA de Carlos Bastardo.

No passado dia 15 de maio, a Comissão Europeia divulgou as suas estimativas da primavera para a União Europeia (UE) e para a Zona Euro (ZE).

Ambas subiram ligeiramente. Para a UE, o crescimento económico em 2023 e em 2024 foi revisto em alta de 0,8% para 1% e de 1,6% para 1,7%, respetivamente. Para a ZE, o PIB deverá crescer 1,1% em 2023 e 1,6% em 2024.

Relativamente à inflação, esta deverá ser agora um pouco mais elevada: 5,8% em 2023 e 2,8% em 2024.

O indicador de inflação core previsto é mais alto: 6,1% em 2023 e 3,2% em 2024.

Para Portugal, a Comissão Europeia está mais otimista que nas anteriores previsões devido a uma maior dinâmica da economia no primeiro trimestre de 2023. Esta foi consequência sobretudo de uma evolução bastante favorável do turismo que impactou positivamente nas exportações. Já a procura interna permanece fraca, dada a diminuição do poder de compra das famílias portuguesas.

A Comissão Europeia estima um segundo trimestre mais fraco em termos de crescimento económico em Portugal, podendo retomar uma maior dinâmica na segunda parte do ano.

Daí que o crescimento do PIB previsto para Portugal em 2023 é de 2,4% e em 2024 de 1,8%.

As exportações têm estado a crescer mais que as importações, situação que está relacionada sobretudo com a evolução extremamente positiva do turismo.

Quanto à inflação, esta irá permanecer elevada em 2023 em cerca de 5,1%, descendo em 2024 para 2,7%.

As finanças públicas irão continuar a evoluir positivamente, segundo a Comissão Europeia. O crescimento económico e a subida da carga fiscal fazem prever um défice público de 0,1% do PIB em 2023 (0,4% em 2022). A dívida pública face ao PIB estimada para 2023 é de 106,2% e para 2024 de 103,1%.

São previsões positivas para Portugal, mas sobretudo em 2023. Este ano, a cumprirem-se as estimativas económicas da Comissão Europeia, a economia portuguesa será a quarta melhor performance na União Europeia. Contudo, em 2024 voltamos ao normal dos últimos anos, ou seja, crescer menos que a grande maioria dos parceiros europeus, registando a décima oitava melhor performance.

Contudo, há um indicador cuja evolução pode ameaçar este otimismo económico que é a dinâmica do crédito concedido. Por um lado, os bancos europeus e americanos vão gradualmente ser mais rígidos nos critérios de atribuição de crédito (subida das taxas de juro e dos spreads de risco de crédito). Por outro lado, a procura por crédito tem diminuído significativamente, especialmente por parte das pequenas e médias empresas.

Esta situação poderá a prazo ter reflexos numa menor dinâmica económica, afetando o investimento e a criação de emprego. Teremos de estar atentos à evolução do volume de crédito nos próximos trimestres por parte da banca, podendo analisar os relatórios divulgados pelo Banco de Portugal.

O crédito vencido está num nível reduzido, mas com tendência a aumentar nos EUA e na Europa. E aqui, serão importantes as decisões dos bancos centrais americano e europeu nas próximas reuniões.