Virginie Maisonneuve considera que a China deve usar o seu poder económico para abrir caminho até aos lugares cimeiros. Comentário patrocinado pela Allianz GI.
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TRIBUNA de Virginie Maisonneuve, diretora global de Investimentos (CIO) em Ações, Allianz Global Investors (AllianzGI). Comentário patrocinado pela Allianz GI.
Os investidores de todos o mundo ficaram nervosos com a enxurrada de manchetes negativas vindas da China, mas devemos considerar esses eventos num contexto mais amplo. No 100.º aniversário da fundação do Partido Comunista Chinês, o país está a comprometer-se não apenas com o sucesso económico continuado, mas também com o combate à desigualdade, enfrentando questões anti-trust e restringindo o desafio aos centros tradicionais de poder. Estes esforços estão vinculados ao aumento da volatilidade, mas todos fazem parte de uma nova fase na evolução da China, à medida que esta se reposiciona num novo papel global.
Consideramos esta a Fase 3 da emergência da China. Segue-se à Fase 1, quando a China aderiu à Organização Mundial do Comércio (OMC) e se tornou um elo essencial nas cadeias de abastecimento globais, e à Fase 2, quando uma China high-tech ultrapassou o Japão como a segunda maior economia do mundo e começou a integrar os seus mercados financeiros no sistema global. Mas a Fase 3 é sem dúvida a mais difícil: a China deve usar o seu poder económico para abrir caminho até aos lugares cimeiros, enquanto exerce os seus soft powers de atratividade e influência.
As tensões geopolíticas e as cadeias de abastecimento globais frágeis estão a tornar mais difícil à China seguir o seu próprio caminho de desenvolvimento híbrido, que visa a autossuficiência e, ao mesmo tempo, tornar-se um líder best-in-class em alta tecnologia. Vejamos o estado da indústria de semicondutores: a China consome 35% da oferta global, mas fabrica apenas 10%. Para um país tão focado na segurança nacional, reduzir as vulnerabilidades high-tech vai ser uma alta prioridade. Os investidores que reconhecerem isto estarão bem posicionados para usar a inevitável volatilidade do mercado para construir posições estratégicas.
A outra componente da Fase 3 mostra que a China aborda as questões sociais de uma forma alinhada com o seu sistema comunista. Nos últimos meses, ensaiou reiniciar o seu setor educacional, tentando reformar uma cultura que pressiona fortemente os alunos a ter um bom desempenho, ao mesmo tempo que exacerba a desigualdade social. A China tem também estado a rever as regras do jogo no setor de tecnologia, com foco na importância estratégica dos dados num mundo movido pela inteligência artificial. O sucesso do setor tecnológico criou ainda novas bases de poder e muitos bilionários, que podem, com o tempo, desafiar a atual via chinesa e os seus centros tradicionais de poder. É compreensível que estes esforços de reforma tenham deixado os mercados nervosos, mas confortamo-nos com o facto de que a China evitará matar a galinha de ovos de ouro do seu sucesso no mercado financeiro.
Mais importante ainda, a preocupação de que a ênfase renovada na governança social e económica prejudica o crescimento da China ignora um dos seus pontos-chave. A próxima fase da emergência da China no cenário mundial vai ser tanto sobre o seu soft power como sobre o seu poder económico – os dois são simbióticos – enquanto o país procura construir um caminho mais sustentável para si mesmo.
Pode não haver melhor oportunidade do que a mudança climática para a China escrever um novo capítulo positivo na sua história. A China estabeleceu metas ambiciosas de descarbonização, e alcançá-las não será uma tarefa fácil. Mas há também sinais promissores de cooperação internacional. Em abril de 2021, as autoridades americanas e chinesas comprometeram-se publicamente a trabalhar juntas para fortalecer a implementação do Acordo de Paris. Talvez a emergência climática seja o grito de guerra que fomenta alguma estabilidade geopolítica e colaboração num momento de mudanças globais importantes.
Os investidores que procuram compreender os desenvolvimentos atuais na China precisam saber como a agenda política da China mudou para novas áreas, como a promoção da fabricação de alta tecnologia, abordando os problemas sociais e combatendo as alterações climáticas. Isto pode fornecer perceções críticas sobre o caminho a seguir.
Talvez o mais importante seja que os investidores precisam aceitar que a volatilidade e o risco de intervenções políticas podem fazer sempre parte do investimento na China. Isto sublinha a necessidade de navegar com cuidado nesse mercado dinâmico e considerar a parceria com especialistas capazes de adotar uma abordagem ativa na seleção de títulos, em vez de espelhar apenas um índice. Com uma orientação adequada, os investidores podem ser capazes de navegar as inevitáveis surpresas, mantendo um olhar claro sobre a visão de longo prazo da China: ser um jogador essencial no palco mundial.