As previsões económicas do Fundo Monetário Internacional parecem ser otimistas quanto ao crescimento global. Carlos Bastardo refere, contudo, que existem ainda vários desafios a enfrentar, em particular em Portugal.
Recentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) apresentou uma atualização do seu World Economic Outlook. Neste momento, o FMI estima que o mundo cresça em 2018 e em 2019 cerca de 3,9%, baseado numa recuperação do comércio mundial, de um crescimento robusto na Ásia, do investimento e da recuperação económica dos principais produtores de commodities.
As economias desenvolvidas deverão crescer 2,5% em 2018 e 2,2% em 2019, face aos 2,2% registados em 2017. Por sua vez, as economias em vias de desenvolvimento deverão crescer 4,9% em 2018 e 5,1% em 2019, após terem registado um crescimento de 4,8% em 2017.
Nas economias desenvolvidas, os EUA vão novamente distanciar-se da zona euro. Se em 2017, o crescimento do PIB foi igual nos dois blocos (2,3%), para 2018 e 2019, o FMI estima que os EUA deverão registar um crescimento de 2,9% e 2,7% enquanto que a zona euro deverá crescer 2,4% e 2% respetivamente.
Esperemos que as recentes atitudes dos responsáveis das duas maiores economias mundiais (EUA e China) e que poderão ser seguidas por iniciativas de outros países, não coloquem em causa este otimismo do FMI.
Na Zona Euro, o FMI estima que a França e a Alemanha irão crescer o mesmo em 2019 (2%) e que a Espanha irá crescer nesse ano 2,2% contra 3,1% em 2017.
Quanto às economias em desenvolvimento, a China deverá registar um crescimento de 6,6% este ano e de 6,4% em 2019. No primeiro trimestre de 2018, a China registou um crescimento de 6,8% em termos homólogos face ao mesmo período de 2017.
A Índia, após ter crescido 6,7% em 2017, deverá crescer 7,4% em 2018 e 7,8% em 2019.
É de destacar a recuperação económica do Brasil que deverá crescer segundo o FMI, 2,3% em 2018 e 2,5% em 2019 (1% em 2017). O FMI subiu para ambos os anos a anterior estimativa em 0,4%.
Para Portugal, o FMI estima um crescimento do PIB de 2,4% em 2018 e 1,8% em 2019. O FMI está mais otimista que o governo em 2018 (2,3% segundo o Programa de Estabilidade 2018-22) e menos otimista em 2019 (2,3% segundo o mesmo documento). A estimativa para 2018 do FMI é superior às últimas projeções da OCDE, da S&P, do Banco de Portugal (todas de 2,3%) e da Comissão Europeia (2,2%).
Relativamente ao Programa de Estabilidade, é positivo ver o comprometimento do ministro das finanças na continuação da redução do défice e da dívida pública. Apesar de eu achar que nesta altura já deveríamos estar com défice zero ou mesmo com um ligeiro excedente orçamental, considero importante que pelo menos o ministro das finanças continue focado em resolver um dos maiores problemas do País.
A redução do défice público tem beneficiado do enquadramento internacional com reflexos positivos na balança de bens e serviços (exportações e receitas do turismo), no investimento e, consequentemente, nas receitas fiscais. Contudo, a reforma do Estado marca passo e a despesa pública continua a aumentar, mesmo com as fortes cativações que as diferentes áreas têm sofrido (saúde e educação em especial).
Infelizmente, não vejo no Programa de Estabilidade as medidas estruturais necessárias para uma consolidação orçamental a m/l prazo, pelo que, o risco de as metas não serem cumpridas caso o ciclo económico e o ciclo de taxas de juro mudem, não pode ser desprezado.
Quando os responsáveis dos partidos que apoiam o atual governo referem que as folgas orçamentais deveriam ser usadas para melhorar os serviços públicos, eu questiono o seguinte: mas que folgas? Teríamos folgas se houvesse um excedente orçamental, o que não é o caso, pois continuamos com um défice público (3% em 2017 com a recapitalização da CGD).
Uma eventual subida das taxas de juro em 2019 pode colocar facilmente em risco as metas agora anunciadas relativas ao défice público e à dívida pública em percentagem do PIB.