Francisco Falcão (Hawkclaw Capital Advisors): “O cenário de médio prazo positivo não retira a necessidade de adotar uma postura prudente no curto prazo”

Francisco Falcão. Créditos: Vitor Duarte

TRIBUNA de Francisco Falcão, CIO da Hawkclaw Capital Advisors.

O segundo semestre de 2021 continuará a evidenciar uma dinâmica de recuperação económica em termos globais. O desemprego manter-se-á em contração e a produção industrial continuará em alta à medida que os programas de vacinação e a reabertura das economias progridem. Já as pressões inflacionistas, que emergiram nos últimos meses, deverão diminuir devido à normalização das cadeias de produção, ao desaparecimento dos efeitos base e ainda à potencial diminuição da procura, com a extinção dos apoios advindos dos planos governamentais. Em termos regionais, os EUA, a Europa e a Ásia mantêm excelentes perspetivas de crescimento económico por comparação com o Japão e a América Latina.

Tendo em conta o cenário macroeconómico descrito privilegiamos uma alocação balanceada em termos de classes de ativos. Quanto a obrigações, favorecemos estratégias que comportem carry e uma duration curta, e identificamos mais oportunidades em emitentes idiossincráticamente pró-cíclicos, assim como em partes subordinadas da estrutura de capital. Na vertente acionista, voltamos a nossa atenção para setores mais defensivos, com forte capacidade de geração de rendimento e estruturas de balanço sólidas. Quanto a posições temáticas, consideramos que o setor financeiro e industrial vão beneficiar da subida dos juros, consumo discricionário continuará suportado pela reabertura das economias e que a exposição a setores relacionados com tendências seculares (cibersegurança, digitalização, descarbonização) deverá aumentar em casos de correção de mercado. Como proteção contra a potencial dinâmica inflacionista consideramos relevante deter posições em ouro físico assim como em inflation-linked bonds.

O cenário de médio prazo positivo não retira a necessidade de adotar uma postura prudente no curto prazo tendo em conta os riscos identificados. As valorizações da classe acionista e “spreads” de crédito está hoje acima da média histórica, os dados macroeconómicos apresentam-se em picos, a política monetária acomodativa perspetiva-se esteja próximo de um ponto de inflexão e o potencial de subida dos juros é hoje mais evidente tendo em conta as expetativas inflacionistas. Assim sendo, a volatilidade poderá aumentar sem, no entanto, despertar grande preocupação dado que a economia tenderá a permanecer saudável, e os estímulos deverão ser retirados de forma gradual pelas autoridades monetárias e governamentais. Em termos de risco para o negócio, continuamos a considerar que as alterações ao quadro regulatório, a instabilidade fiscal e a inversão do conceito de juro continuam a ser os principais riscos.

Em termos de fundos de investimento, para a segunda metade do ano, consideramos interessante selecionar o PIMCO Global Inflation Protected Fund, o Vanguard Equity Income Fund e o Artisan Global Discovery Fund, dado serem instrumentos que consideramos válidos para materializar a nossa visão de mercado.

Os temas de investimento que mais nos despertaram atenção nos últimos tempos foram o hidrogénio, as criptomoedas e as SPAC (special purpose acquisition company).