Francisco Louro, diretor da Bluecrow Capital, revela-nos alguns insights sobre os próximos meses nos mercados, já que previsões para o resto do ano são difíceis de fazer.
TRIBUNA de Francisco Louro, diretor na Bluecrow Capital.
O debate no mercado tem estado centrado no binómio inflação/recessão. Está, portanto, inteiramente focado em dados macroeconómicos.
Ultimamente o mercado parece olhar sedento para qualquer sinal de abrandamento económico. Na esperança de que os bancos centrais invertam de repente o caminho que têm seguido de combate à inflação e passem ao combate à recessão. Voltando, assim, a suportar a economia e especialmente o próprio mercado. No presente, os investidores parecem depositar todas as suas esperanças de retornos futuros positivos nas decisões dos banqueiros centrais, especialmente da Reserva Federal.
É verdade que, por um lado, temos sinais de que a inflação possa estar a abrandar. O petróleo voltou para um valor próximo daquele que tinha antes da invasão da Ucrânia. O cobre caiu cerca de 36% desde os máximos e até o preço do trigo caiu cerca de 38% desde maio. Estes preços irão com certeza refletir-se mais cedo ou mais tarde no cálculo da inflação. O mercado celebra.
Mas por outro lado, de repente, a inflação em junho nos Estados Unidos é de 9,1%, um valor inaceitável como disse imediatamente a secretária do Tesouro Janet Yellen. O mercado deprime.
A confiança dos consumidores está em mínimos, sinal recessivo, o mercado celebra. Pouco depois dados do emprego são melhores que o esperado, sinal inflacionista, o mercado deprime. E assim por diante.
Ameaças e oportunidades
É certo que o prolongamento de uma política de subida de taxas irá provocar uma desaceleração da economia. A baixa confiança do motor da economia mundial, associada à rápida secagem da liquidez, é natural que cause, mais cedo ou mais tarde, uma redução da inflação. Mas quando?
Por cada dado macroeconómico que nos diz que estamos em recessão, ou que a inflação atingiu o pico, existe outro que nos diz o oposto. Será que devemos ser escravos desta esquizofrenia?
Para nós a análise macroeconómica é um exercício de suporte, interessante, mas secundário. Focámo-nos nos fundamentais e investimos de acordo. Procuramos negócios de alta qualidade e com elevadas taxas crescimento, a preços razoáveis.
Assim, neste momento, o mercado de obrigações high yield começa a ser atrativo. No que respeita às ações consideramos algumas hipóteses no sector tecnológico americano e chinês.
Não me atrevo a fazer previsões para o resto do ano, mas estes sectores parecem oferecer interessantes oportunidades para o investidor paciente. “O mercado existe para nos servir, não para nos dirigir.”