Gestoras de ativos: o desafio de repensar a oferta

COLABORAÇÃO de Giulio Carlo Dell'Amico, sócio responsável do Setor Financeiro, KPMG em Itália.

Em Itália, a propensão das famílias para poupar, que tinha atingido o seu nível mais baixo desde 1995 em 2023, com 6,3%, está a crescer novamente. No terceiro trimestre do ano passado, o ISTAT (Instituto Nazionale di Statistica) estimou esta propensão em 9,2%, um aumento de cerca de 3 pontos percentuais em relação a 2023, um valor que evidencia a disponibilidade de novos recursos que poderiam ser alocados ao investimento. No entanto, de acordo com os dados do Banco de Itália de 2023, mais de 29% da riqueza das famílias é detida em ativos líquidos. Este nível de alocação é subótimo em termos de gestão eficiente, proteção e valorização da riqueza das famílias, limitando as oportunidades de crescimento.

Isto exige que os intervenientes financeiros pensem em estratégias específicas e personalizadas para aproveitar esta oportunidade de mercado e apoiar os clientes de retalho em estratégias de investimento otimizadas, baseadas em necessidades concretas.

Para repensar as estratégias e abordagens de distribuição, é fundamental compreender claramente a dinâmica demográfica. Estamos a viver uma mudança sem precedentes na estrutura da população, caraterizada por um aumento da longevidade dos seus habitantes. Em Itália, a esperança média de vida à nascença aumentou para cerca de 83 anos, enquanto a esperança média de vida aos 65 anos é agora de 21 anos, 10 dos quais vividos sem limitações. Itália tem a particularidade de ser um dos países com a população mais longeva do mundo. Em 2040, as pessoas com mais de 65 anos atingirão 19 milhões, ou seja, 32% da população total, abrindo novos cenários económicos e sociais. A isto acresce o facto de vivermos hoje num contexto multigeracional, em que até cinco gerações vivem juntas no mesmo agregado familiar e têm necessidades e projetos de vida diferentes.

Orientações evolutivas para os intervenientes no mercado financeiro e na gestão de ativos

• Inovação na compreensão das necessidades multigeracionais: uma compreensão clara das necessidades e dos planos de vida dos indivíduos de cada geração e dos agregados familiares no seu conjunto constitui a base para uma evolução concreta da oferta de investimento. A adoção de ferramentas de análise de dados e de inteligência artificial permitirá detetar com precisão as necessidades dos clientes e o melhor momento para os envolver e gerir o risco através de modelos preditivos que monitorizam os desvios das carteiras, bem como oferecer sistemas avançados de recomendação para personalizar a experiência do cliente;

• Inovação do modelo de oferta: os operadores terão de desenvolver o seu modelo de oferta para responder às necessidades e aos projetos de vida de uma clientela multigeracional. Isto significa integrar a lógica de longo prazo na construção dos produtos de investimento e enriquecer a oferta com serviços financeiros específicos (como, por exemplo, o aconselhamento personalizado sobre as necessidades e os projetos de vida);

• Inovação da narrativa do cliente: a transformação da comunicação, dos modos de envolvimento e, por conseguinte, da cultura financeira dos clientes, desempenha um papel fundamental. Os operadores financeiros e as gestoras de ativos terão de se tornar a força motriz de uma nova narrativa que promova o investimento como uma ferramenta para satisfazer necessidades e projetos de vida a curto/médio/longo prazo, no contexto de um planeamento financeiro que começa numa idade jovem e tem em conta todos os aspetos do património (por exemplo, financeiro, imobiliário, empresarial...).

As gestoras de ativos que souberem desenvolver a sua oferta e o seu modelo de serviço neste sentido, poderão aproveitar as oportunidades oferecidas pela transformação demográfica e pela relevância dos clientes de retalho.