Incerteza gera volatilidade no 2º semestre

Carlos Bastardo ISEG Imofundos_noticia
Carlos Bastardo. Créditos: Vítor Duarte

Artigo de opinião da autoria de Carlos Bastardo.

Apesar de a época de resultados do 2º trimestre estar a decorrer bem, os mercados começaram o 2º semestre bastante voláteis, com os investidores a manifestarem algum nervosismo em julho, devido à subida do número de casos de Covid provocada pela variante delta.

Os últimos meses trouxeram restrições à mobilidade dos cidadãos. Medidas como a obrigatoriedade de quarentena no regresso de férias passadas noutro país, a colocação de países destino de férias em listas vermelhas e as recomendações de alguns políticos para que os seus cidadãos façam férias dentro de fronteiras, são alguns exemplos destas restrições.

Os investidores consideram que estas restrições à mobilidade podem ter um impacto negativo em termos económicos, especialmente em setores como o turismo e o transporte de passageiros. As ações das empresas hoteleiras, empresas aéreas e empresas de cruzeiros foram bastante afetadas nas últimas semanas.

Por outro lado, assistimos a um facto que na minha opinião não tem grande explicação fundamental. A inflação tem subido nos últimos meses, contudo, a yield das obrigações de dívida pública americanas a 10 anos caiu em pouco tempo de 1,75% para cerca de 1,18% (valor em 19 de julho).

Existem analistas do mercado financeiro que consideram este movimento puramente técnico. Outros, consideram que se deve à realocação de posições em dívida nas carteiras, nomeadamente por parte de fundos de pensões internacionais. Outros ainda, consideram que os investidores estão a descontar uma menor performance macroeconómica nos próximos meses e daí, a queda dos mercados de ações nas últimas semanas e a descida das yields da dívida pública.

Na minha opinião, todas estas razões apontadas pelos analistas são plausíveis. Mas, o que eu vejo é que estamos a atravessar uma fase crítica do combate à pandemia e a comunicação relativa às decisões tomadas nem sempre é clara, provocando a incerteza que não é desejável nas pessoas em geral e nos investidores em particular.

Por exemplo, existe uma contradição entre a subida dos casos em Inglaterra nas últimas 2 a 3 semanas e o fim das restrições ocorridas em 19 de julho, apesar das recomendações dos especialistas de saúde em sentido contrário. Provavelmente e atendendo aos vídeos que passam na internet de festas em discotecas e de ajuntamentos noutros lugares, a subida de casos neste segmento de população que não está ou está parcialmente vacinada poderá aumentar naquele país.

Parece haver um conflito de ideias ou desnorte a este respeito em alguns países, o que não abona para o aumento da confiança dos cidadãos.

Por isso, penso que o Verão vai continuar a registar volatilidade nos ativos financeiros de risco devido a esta situação de incerteza.

Contudo, o ritmo de vacinação tem acelerado na Europa, quer em valor absoluto como em valor relativo comparando com os EUA e o sucesso deste processo é que vai ditar se vamos ou não chegar mais depressa a uma situação de normalidade ou de libertação como alguns dizem. Oxalá que sim!...

A par disso, aproximam-se (finalmente) os apoios da famosa bazuca europeia, que vão impulsionar o investimento e ajudar a economia no curto prazo e espero também no m/l prazo, caso os projetos a apoiar sejam bem selecionados.

Penso que nesta altura, os investimentos na economia real terão efeitos mais positivos do que a continuação dos programas de compra de títulos por parte dos bancos centrais.

O que as economias necessitam neste momento é de investimento produtivo que crie emprego e gere riqueza,