Navegar por mercados e taxas de juro voláteis

Gabriel Crabos La Française AM
Gabriel Crabos. Créditos: Cedida (La Française AM)

TRIBUNA de Gabriel Crabos, gestor de fundos de Crédito, La Française AM. Comentário patrocinado pela La Française AM.

Após vários anos com tendência para taxas cada vez mais baixas, chegando estas a alcançar níveis negativos devido a políticas (demasiado) conciliadoras do banco central e à falta de inflação a nível global, o ambiente atual mudou por completo. De facto, a inflação alastra-se a todas as suas componentes, mantendo-se em níveis extremos, especialmente na Europa, o que implica que as taxas diretoras dos bancos centrais permanecerão elevadas. Embora se preveja que a dinâmica dos preços venha a abrandar (devido ao impacto das decisões dos bancos centrais em 2022, à progressiva normalização das linhas de produção pós-Covid e a efeitos de base mais favoráveis nos preços da energia), a espiral inflacionista, tão temida pelos bancos centrais, permanece um fator determinante. Além disso, embora tenham sido política e economicamente necessárias, as políticas fiscais continuam a ser um motivo de preocupação para os bancos centrais.

No entanto, os fundamentais das empresas mantêm-se relativamente fortes, apesar da deterioração prevista a curto prazo e da tendência ascendente das taxas de incumprimento. Além disso, a avaliação do mercado Investment Grade continua atrativa. Adicionalmente, o setor bancário global beneficia-se de sólidos fundamentos, uma vez que os bancos criaram reservas de capital mais elevadas e confortáveis ao longo dos últimos anos, graças a regulamentos que os obrigaram a aumentar os seus rácios de solvabilidade e a sanear os seus balanços, reduzindo o crédito mal parado. Por conseguinte, acreditamos que os bancos conseguirão absorver choques negativos resultantes da deterioração da paisagem macroeconómica.

Neste ambiente de incerteza, com o crescimento económico global a abrandar, enquanto a inflação se mantém em níveis elevados apesar do aperto monetário já bastante adiantado, poderia ainda fazer sentido adotar uma abordagem seletiva relativamente a estratégias de obrigações, uma vez que as decisões monetárias continuarão a ser o principal motor dos mercados em 2023. Poderá demorar um pouco até que a inflação desça na zona euro, e o crescimento permanecerá muito baixo, embora os preços da energia e a reabertura da China devam ajudar a zona euro a evitar uma recessão. 

A nossa visão seletiva leva-nos a favorecer os segmentos mais defensivos do mercado de crédito, com uma preferência pelo segmento Investment Grade em detrimento do High Yield. Além disso, acreditamos que os fundamentos dos emissores americanos encontram-se numa posição mais benéfica do que os dos emissores europeus, uma vez que deverão ser menos afetados pelos atuais desafios no que diz respeito aos preços da energia e das matérias-primas resultantes da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

Atratividade das obrigações de taxa variável no panorama atual

No ambiente atual, no qual a volatilidade das taxas de juro ainda está próxima dos elevados níveis históricos atingidos durante a Crise Financeira Global de 2007-2008, acreditamos que as obrigações de taxa variável possam ser ferramentas eficazes para navegar nesses mercados.

De facto, as obrigações de taxa variável são bastante imunes à volatilidade das taxas, dado que os seus cupões trimestrais se baseiam nas taxas de referência do mercado monetário (Euribor a 3 meses, SOFR...) e numa margem de crédito. Logo, quando os bancos centrais aumentam as taxas, o cupão de uma obrigação de taxa variável também aumenta. Além disso, as obrigações de taxa variável Investment Grade são em média 80% menos voláteis do que as obrigações de taxa fixa Investment Grade. Adicionalmente, as obrigações de taxa variável High Yield em euros têm uma classificação de antiguidade superior à das obrigações de taxa fixa High Yield em euros. Perto de 90% das obrigações de taxa variável High Yield em euros são asseguradas comparativamente com apenas 25% das obrigações de taxa fixa High Yield em euros, o que proporciona uma melhor proteção num cenário de evento de crédito em que as obrigações serão negociadas perto do seu nível de recuperação.

Além disso, mesmo que os mercados prevejam que a Fed comece a reduzir as taxas no final de 2023, os bancos centrais ainda estimam que a inflação permanecerá acima do seu objetivo em 2024, com taxas de desemprego a manterem-se historicamente baixas. Acreditamos que cortes demasiado rápidos das taxas pesariam sobre a credibilidade já fragilizada dos bancos centrais e pensamos que as obrigações de taxa variável deveriam beneficiar de taxas elevadas a curto prazo e por um período de tempo mais prolongado.


Principais riscos associados a um investimento em obrigações de taxa variável: risco de perda de capital, risco de taxa de juro, risco de incumprimento.

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