O impacto do «verde»

Julie Bras_AGI
Cedida

TRIBUNA de Julien Bras, gestor do fundo Allianz Green Bond, da Allianz Global Investors (AllianzGI). Comentário patrocinado pela Allianz Global Investors (AllianzGI).

Os títulos verdes são ainda objeto de um grande debate, mas, atualmente, as oportunidades fazem com que os investidores estejam mais ativos do que nunca.

Embora o mercado de títulos verdes exista há já dez anos, continua a gerar um grande debate. Algumas das questões estão totalmente esclarecidas, enquanto outras parecem ter encontrado uma resposta mais recentemente. É o caso da definição dos títulos verdes e, de forma mais ampla, aquilo que define um projeto ou empresa «verde».

Como era esperado, está a ser criada uma definição de carácter normativo, esperando-se que a versão final fique próxima das atuais práticas do mercado – isto é, que inclua produtos que cumprem os princípios dos títulos verdes, considerados elegíveis com base numa classificação relativamente consensual e semelhante às existentes atualmente.

A nova definição normativa vai dar resposta a várias perguntas, devendo, acima de qualquer outra consideração, abrir novas oportunidades de desenvolvimento neste mercado.

Em primeiro lugar, haverá oportunidades para os investidores, que vão ver como as possibilidades de alocação dos seus investimentos se podem alargar para incluir soluções verdes. Em segundo, as autoridades vão ter à sua disposição um instrumento financeiro claramente definido, podendo associá-lo aos mecanismos pensados para incentivar os emissores. Em último, e mais importante, vai ser mais fácil aos emissores identificar projetos adequados a um financiamento de natureza ecológica.

Esta definição normativa vai ajudar as empresas – e, de forma mais específica, os grupos industriais, que se mostram menos ativos neste sentido –, permitindo-lhes aceder a este mercado de forma mais simples, sem o medo de uma reação negativa pela seleção de um projeto sem o consenso do mercado. Devido ao forte impacto ambiental das indústrias em geral, vai permitir dar um passo-chave no sentido do cumprimento do objetivo do não aumento da temperatura do planeta em dois graus centígrados.

Este ponto levanta, contudo, novas questões: que emissores vão ser legitimados a utilizar o mercado de títulos verdes para obter financiamento? Existem indústrias ou setores que serão excluídos de forma automática? Apenas as empresas com os melhores historiais ambientais vão poder emitir títulos verdes?

Se o objetivo é recompensar as melhores práticas, não há dúvida que esta situação vai ocorrer. Contudo, se o objetivo é promover uma transição para modelos de menores emissões de carbono, o acesso a este mercado deve estar aberto ao maior número possível de emissores. Embora o acesso não deva ser concedido a qualquer preço ou sem condições, se uma empresa com uma forte pegada ambiental se está a esforçar para seguir uma estratégia de transição credível e ambiciosa para reduzir o seu impacto ambiental, deve ser encorajada e apoiada.

Ter fé numa empresa que mostra este tipo de ambição não é diferente de aceitar a palavra de uma equipa de gestão em relação ao seu trabalho em termos de crescimento de receitas, desalavancagem ou objetivos de melhoria das margens. Mas a observação ao longo do tempo vai permitir distinguir os emissores fiáveis daqueles que não o são.

A exclusão automática de uma série de indústrias em função do seu impacto negativo atual, sem aceitar que podem ser capazes de reduzir de forma significativa esse impacto, elimina qualquer possibilidade de transição para uma economia de baixo carbono.

Medir o impacto ambiental é outra área-chave que deve ser desenvolvida, partindo praticamente do zero. Afirmar que determinado investimento vai ter um impacto positivo na transição energética e climática não chega. O impacto deve ser demonstrado ou, melhor ainda, quantificado. E, não havendo aparentemente um indicador único aplicável a todos os tipos de projetos e contextos, é necessária uma avaliação de impacto multidimensional.

Mas nem todos são fáceis de medir. Os investimentos em soluções de desenvolvimento, especialmente em projetos industriais, são um bom exemplo. Alguns projetos, sem que tenham necessariamente um impacto positivo direto, ou mesmo negativo, podem fomentar a transição para um modelo com menos emissões de carbono, não devendo, por isso, ser ignorados.

Acima de tudo, não devemos perder de vista o nosso objetivo inicial: promover um futuro sustentável para a nossa economia.