Em mais um artigo de opinião, a Golden Wealth Management continua a reflexão sobre o o motivo da “guerra comercial” e nesta segunda parte responde se seria possível encontrar exemplos da ineficiência do mercado em ativos mais líquidos.
(Este artigo de opinião é da autoria da Golden Wealth Management. Consulte este e outros artigos no blogue da Golden Wealth Management)
Na primeira parte deste artigo demonstramos, com o caso da Sumol + Compal, que o mercado não é 100% eficiente, nesta segunda parte pretendemos responder à pergunta “Seria possível encontrar exemplos gritantes de ineficiência do mercado em ativos mais líquidos?”
Existem no presente diversos ativos avaliados pelo mercado a preços que parecem poucos racionais, sendo que neste artigo mencionaremos apenas um de vários exemplos de avaliações por parte do mercado que não parecem responder a qualquer juízo de bom-senso. Como já referido em anteriores artigos (ex: Bitcoin e a origem das bolhas financeiras) os preços no curto-prazo dos diferentes ativos são muitas vezes determinados pelo comportamento irracional dos investidores e não tanto pelos fundamentais desses próprios ativos.
Renault:
Com 10,76 milhões de veículos ligeiros comerciais e de passageiros vendidos no ano passado (2018), numa subida homóloga de 1,4%, o grupo Renault (Aliança franco-japonesa que junta a própria Renault + Nissan + Mitsubishi) é o grupo automóvel com maior número de carros ligeiros vendidos no mundo.
Qual foi então a evolução das ações da Renault em 2018?
O preço das ações da Renault caiu de EUR 100 em abril de 2018 para EUR 50 euros no final de 2018.
Gráfico da cotação da Renault:
A Renault é um caso interessante, porque coincidiram uma série de acontecimentos adversos, tanto internos como externos. A ameaça iminente que os veículos elétricos representam, e, além disso, um escândalo de primeira linha com Carlos Ghosn (CEO da Renault), detido no Japão, aguardando julgamento e acusado de má conduta financeira, levou a que avaliação atual da Renault, na verdade, se assemelhe a uma “aberração financeira”.
O valor de mercado das suas participações: na Nissan (a Renault detém 43,4% da Nissan) e na Daimler (a Renault detém 1,55%) valem 14 mil milhões de euros; mas se somarmos a posição líquida de caixa de 3 mil milhões de euros – e excluindo o valor do RCI Banque no valor de 4,3 mil milhões e ainda da participação na JV chinesa que vale cerca de 500 milhões – temos um valor total é de 17 mil milhões. Isso é quase 1000 milhões de euros a mais face ao valor de mercado atual da Renault, o que à primeira vista não faz sentido algum. Isto porque, com cada uma das ações da Renault que compramos no mercado hoje, adquirimos de forma gratuita o negócio de fabricação de automóveis da própria Renault (equivalente a 3,5 milhões de carros vendido todos os anos), bem como a divisão de serviços financeiros RCI Banque.
Importa referir a Renault não tem dívida líquida, mas sim os já referidos EUR 3 mil milhões em caixa. (O mercado poderá eventualmente estar a descontar algum dado desconhecido).
Esta constatação não é exclusiva deste grupo. Muitas vezes é designado de desconto de conglomerado, mas tipicamente é mais significativo quando as várias participações são em empresas com pouca ou nenhuma complementaridade. Mas justifica-se?
A conclusão a retirar é que, apesar do sucesso da gestão passiva nos tempos recentes o mercado, não é eficiente na formação do preço em todos os ativos e o tempo todo. Na nossa ótica o mercado é eficiente na avaliação dos ativos apenas no longo prazo, sendo que acreditamos que uma boa seleção dos ativos permite obter rentabilidades superiores ao mercado.
No entanto, esta tarefa não é fácil, já que, na maioria das vezes a razão pertence ao mercado.
“Market can remain irrational a lot longer than you and I can remain solvent” - John Maynard Keynes
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