O que esperar de 2022? As nossas perspetivas económicas e estratégia de investimento

Raphael Gallardo e Frédéric Leroux. Carmignac
Raphael Gallardo e Frédéric Leroux. Créditos: Cedida (Carmignac)

TRIBUNA de Raphael Gallardo, chief economist, e Frédéric Leroux, head of Cross Asset e fund manager. Comentário patrocinado pela Carmignac.

O ano de 2022 apresenta-se como um período cheio de desafios para enfrentar. De uma forma geral, se considerarmos este ano que se avizinha no seu conjunto, vemos uma desaceleração. Em 2021, tivemos um crescimento de 5,5% e esperamos que esse número ronde os 4% este ano.

Se observarmos a tendência de fundo, esta desaceleração deve-se sobretudo a três fatores: em primeiro lugar, a subida acentuada dos preços das matérias-primas; em segundo, o abrandamento das importações chinesas; e, em terceiro, o endurecimento monetário nos países emergentes e anglo-saxónicos.

Não esqueçamos o impacto da Ómicron, que vai abrandar ainda mais o início do ano. Não obstante, esperamos que este efeito desapareça no segundo trimestre. Em geral, espera-se que a desaceleração continue no terceiro trimestre, antes da retoma que esperamos para o quarto trimestre, impulsionada pela recuperação da China.

Riscos presentes neste cenário

Para além do evidente risco sanitário, ao qual se acrescenta o possível surgimento de novas variantes da COVID-19, observamos três riscos notáveis para 2022. O primeiro, está relacionado precisamente com a pandemia, concretamente, com a gestão da mesma por parte do governo chinês. Pequim mantém uma estratégia de "zero COVID", cada vez mais onerosa financeiramente e, lamentavelmente, difícil de reverter, e que resulta num risco para o consumo chinês.

O segundo risco é a incerteza a nível orçamental dos estímulos monetários, tanto em alta como em baixa, e tanto na China como nos Estados Unidos. Neste último país, é Joe Manchin quem vai determinar o pacote total em comparação com o montante de 1,7 biliões de dólares proposto pelo Presidente Biden.

Por último, existe um risco industrial. Este deve-se a que, desde o início da pandemia, as famílias ocidentais tenham acelerado a procura de bens, sobretudo bens eletrónicos (substituição de PC, telemóveis, etc.). Estamos três anos à frente desta tendência. É de esperar que ocorra uma fase de reequilíbrio do consumo de bens ao consumo de serviços, o que terá um impacto negativo nestes setores.

O PIB mundial, a China e os Estados Unidos

Sabemos que, na indústria, uma pequena variação na procura final acaba por se refletir e ampliar ao longo da cadeia de produção, sobretudo na fase de expansão, o chamado efeito de chicote. Quando é este o caso, os fabricantes tendem a ter excesso de stock e de encomendas, pelo que na fase de desaceleração haverá necessariamente muitos cancelamentos de encomendas duplicadas, que se traduzirão num abrandamento dos setores. Ainda que não estejamos a falar de uma recessão do consumo, mas de uma reafectação do consumo, esta pode ter um efeito negativo no PIB através de um ciclo de stock em recessão.

Na nossa opinião, antecipamos uma desaceleração do crescimento mundial à qual se seguirá um ponto de inflexão no final do ano, tendo como pano de fundo a recuperação chinesa. O País do Dragão permanece à frente do ciclo mundial, mantendo o fenómeno da dessincronização dos ciclos e das políticas económicas, ainda que seja certo que no final de 2022 esperamos uma mudança de papéis entre a China e os Estados Unidos. O gigante asiático irá provavelmente encontrar-se numa fase de recuperação e reaceleração, enquanto o país norte-americano continuará numa fase de desaceleração e de normalização das suas políticas económicas.

A Europa e o risco de inflação

Na Europa, por outro lado, teremos um início de ano difícil, não só como consequência da Ómicron, mas também pelo facto de os preços da energia terem disparado. Não obstante, esperamos que o continente europeu regresse à tendência de recuperação bastante rápida no que concerne o que foi perdido na pandemia, sobretudo porque continuaremos a beneficiar de um impulso orçamental positivo. Do mesmo modo, não devemos esquecer que a inflação continuará a ser elevada, provavelmente acima dos 3% durante uma grande parte de 2022, o que suscitará debates acesos sobre a necessidade de normalizar a política do BCE.

Neste sentido, aceitamos que a inflação continuará a ocupar os mercados este ano. De facto, esperamos que os números da inflação continuem a aumentar também nos Estados Unidos. O já mencionado efeito de chicote dos bens industriais também prejudicará neste aspeto. Ainda que a inflação subjacente do país vá cair superficialmente (deverá convergir perto do objetivo de 2% no final do ano), para nós, devido a determinadas tendências de fundo, o número irá manter-se mais em torno dos 3%.

Estimamos este dado com base em três fatores-chave, concretamente devido a tensões no mercado de trabalho, no mercado do arrendamento de habitação e no mercado da saúde. Assim, de acordo com a nossa perspetiva, existe um elevado risco de que a Fed tenha de endurecer de novo a sua retórica sobre a normalização das taxas e do seu balanço. Além disso, há tendências que se estão a estabelecer e que terão um impacto inflacionário.

Qual a estratégia a tomar?

Obviamente que estes dados sobre a inflação têm de ser tidos em conta na nossa política de investimento. A Fed demorou algum tempo a reconhecer que esta inflação seria transitória e, a partir desse momento, observamos esse efeito na parte mais longa da curva de rendimentos, que começou a subir significativamente, o que teve repercussões em todas as classes de ativos. Com isto em mente, devemos reajustar os nossos investimentos para nos concentrarmos nos títulos de crescimento de alta qualidade, com uma valorização razoável, uma capacidade de rendimento elevada e poder de fixação dos preços.

Tivemos em conta o facto de que o crescimento é, até certo ponto, resistente, pelo que nos parece oportuno somar a este núcleo de títulos de crescimento determinados componentes cíclicos. Entre estes, encontra-se o setor energético, que (desde que cumpra as especificações em matéria de ESG) poderá ter uma boa evolução num ambiente inflacionário, e o setor bancário, que poderá beneficiar do aumento das taxas de juro. Além disso, do lado do rendimento fixo, consideremos ser essencial uma gestão ativa dos riscos com uma tendência defensiva e uma exposição negativa às taxas de juro.

Revalorização dos ativos de risco

Pensamos que o desempenho observado no período de 2020-2021 não será o mesmo em 2022. Ainda que seja de esperar um certo nervosismo no mercado (devido à menor liquidez, à lentidão do crescimento e à aceleração da inflação), constatamos que se estão a desenvolver três motores de crescimento. Um deles é que não parece que a Fed vá tomar medidas radicais, pelo que podemos contar com taxas reais negativas que deverão sustentar a evolução dos mercados de ações no mundo desenvolvido.

Por outro lado, tendo em conta as nossas perspetivas macroeconómicas para a China, pensamos que o mercado chinês será suficientemente forte para constituir um motor de crescimento aceitável a nível mundial. O terceiro ponto essencial é que, embora se preveja um endurecimento das políticas monetárias norte-americanas, alguns países emergentes estarão protegidos perante esta situação porque, por um lado, já terão iniciado o seu endurecimento monetário e estarão na fase final do ciclo e, por outro, poderão ter beneficiado do aumento dos preços das matérias-primas. Estes três motivos fazem-nos sentir otimistas quanto à revalorização dos ativos de risco.

Em suma, para a configuração da nossa carteira, devemos optar por um core sólido, adicionando certos temas cíclicos que beneficiam da inflação e da subida das taxas de juro, por uma gestão defensiva do rendimento fixo e, sobretudo, por uma presença significativa da China na carteira que ofereça um elevado rendimento.


Fonte: Carmignac, janeiro de 2022. Esta é uma comunicação publicitária O presente documento destina-se a clientes profissionais. Este documento não pode ser reproduzido total ou parcialmente sem a autorização prévia da sociedade de gestão. As informações nele contidas podem estar incompletas e podem ser alteradas sem aviso prévio. Não constitui uma oferta de subscrição nem um conselho de investimento. O acesso aos Fundos pode ser objeto de restrições para determinadas pessoas ou em determinados países. Os Fundos não estão registados na América do Norte nem na América do Sul. Não foram registados em conformidade com a US Securities Act of 1933 (lei dos Valores Mobiliários dos EUA de 1933). Os Fundos não podem ser oferecidos ou vendidos, direta ou indiretamente, por conta ou em nome de uma "Pessoa dos EUA", conforme definição dada no Regulamento S dos EUA e na FATCA. Os Fundos são registados junto da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Os respetivos prospetos, KIID e relatórios anuais do Fundo poderão ser encontrados em www.carmignac.com, www.fundinfo.com e www.morningstar.pt ou solicitados à Carmignac Gestion Luxembourg, Citylink, 7 rue de la Chapelle L-1325 Luxemburgo. Os riscos, comissões e despesas correntes encontram-se descritos no KIID (Material com as Informações Fundamentais Destinadas aos Investidores). O KIID deve ser disponibilizado ao subscritor antes da subscrição. A Sociedade gestora pode cessar a promoção no seu país a qualquer momento. Os investidores podem aceder a um resumo dos seus direitos em inglês no seguinte link, secção 6: https://www.carmignac.fr/en_GB/article-page/regulatory-information-3863


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