Estêvão Oliveira, responsável comercial do Haitong, expõe o que espera do panorama económico nos diferentes pontos do globo e alerta para os principais pontos a ter em conta em cada região.
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COLABORAÇÃO de Estêvão Oliveira, responsável comercial do Haitong.
Com a entrada em 2025, é importante compreender a forma como o panorama económico parece estar a moldar-se. Estamos perante um cenário dinâmico cheio de desafios pela frente, mas ao mesmo tempo, cheio de oportunidades, que irão certamente surgir à medida que os grandes blocos económicos forem enfrentando as suas particularidades. É essencial realizar uma análise cuidada das tendências nos Estados Unidos, Europa, Mercados Emergentes, China e Japão, de forma a traçarmos o melhor plano de atuação para o próximo ano.
Estados Unidos: crescimento estável com incertezas políticas
Nos EUA, é esperado alguma estabilidade ao nível económico, com o PIB a subir cerca de 2% em 2025. O país deve beneficiar de políticas fiscais acomodatícias e dos avanços tecnológicos que caracterizaram os últimos anos, especialmente em áreas como a inteligência artificial, que têm conduzido os índices acionistas para máximos históricos.
Ainda assim, não podemos ignorar a incerteza política que resultou das últimas eleições presidenciais. Para além de dúvidas sobre as medidas orçamentais que Trump de facto conseguirá implementar (o défice ficará sempre em valores desconfortavelmente elevados…), a política de imigração e as potenciais disputas comerciais, principalmente com a China e outros parceiros comerciais, resultantes das promessas eleitorais do novo Governo norte-americano, representam riscos que devem ser acompanhados de muito perto.
Importante: Acompanhar setores como tecnologia e infraestruturas nos EUA, que podem continuar a crescer mesmo em cenários de volatilidade.
Europa: Recuperação lenta e desnivelada
A Europa parece direcionada para um crescimento económico mais modesto, com o PIB a crescer em torno dos 1.2%. É certo que já existem alguns sinais de recuperação, mas muito desnivelado entre países. Um exemplo, a economia alemã continua a enfrentar desafios estruturais significativos. Será esperado que o Banco Central Europeu corte as taxas de juro para a zona dos 2%, o que irá trazer algum ânimo à economia. A situação política nas duas maiores economias da zona Euro continuará a ser um foco de incerteza. Em fevereiro, as eleições na Alemanha poderão resultar num novo governo, que terá de tomar medidas difíceis e implementar reformas estruturais; o impasse no parlamento francês continuará a condicionar fortemente o governo, o que poderá a levar a novas eleições parlamentares no verão.
Existem ainda bastantes riscos: a inflação permanece elevada e o conflito na Ucrânia continua a ser uma fonte de instabilidade, embora nesta altura comece a existir algumas expectativas de resolução devido às propostas do novo presidente norte-americano. A combinação destes fatores dificulta uma recuperação mais robusta e sustentada.
Importante: Setores como as energias renováveis e tecnologias verdes, muito apoiados por políticas europeias, podem ser instrumentos bastante interessantes para diversificação.
Japão: persistência em políticas ultra-acomodatícias
No Japão, o crescimento económico permanece, de certa forma, anémico, em parte devido aos desafios demográficos (um tema que está presente já há vários anos) e à procura interna que continua a ser limitada. Ainda assim, os avanços dos últimos anos são visíveis, pois os salários têm finalmente subido e o risco de deflação parece estar a ficar para trás. De forma a suportar este ajustamento, o Banco do Japão deve manter as políticas ultra-acomodatícias, permanecendo extremamente cauteloso no processo de normalização das taxas de juro.
Importante: Acompanhar as grandes multinacionais japonesas com exposição global que podem oferecer oportunidades mais consistentes.
China: Recuperação lenta e desafios internos
A economia chinesa continua a desacelerar, com uma previsão de crescimento de 4,5%. Os problemas no setor imobiliário, o sobreendividamento dos governos locais e a fraca procura interna são grandes entraves ao crescimento. Apesar disso, as autoridades chinesas têm dado sinais muito fortes desde setembro, de que continuarão a implementar estímulos fiscais e monetários de forma a suportar o crescimento económico, facilitar o ajustamento no mercado imobiliário e estimular a procura doméstica, tendo em conta o esperado aumento de fricções com os Estados Unidos. A China continua a ser um polo de inovação tecnológica e um mercado chave para várias indústrias globais.
Importante: Acompanhar os investimentos em tecnologia verde e automação industrial, setores que continuam a crescer mesmo em ambiente económico difícil.
Mercados emergentes: crescimento desequilibrado e oportunidades segmentadas
Os mercados emergentes apresentam um quadro misto.
- Na América Latina, está previsto um crescimento de 2,7%, impulsionado na sua maioria por reformas económicas e preços mais favoráveis nas commodities. No entanto, a volatilidade política não pode ser ignorada, sendo um fator a considerar.
- Na Ásia, destaca-se novamente a Índia, pelas suas elevadas taxas de crescimento económico (cerca de 6.7%, para 2025); para além disso, deverá ser bastante menos afetada pela questão das tarifas e fricções comerciais com os EUA.
- Na África Subsaariana, o crescimento poderá atingir os 3,9%, mas os desafios como a instabilidade política e vulnerabilidades externas vão continuam a pesar.
Embora com riscos, existem oportunidades de investimento em setores como mineração, agricultura e fintechs, que têm mostrado resiliência neste segmento dos mercados emergentes.
Importante: Investimento em fundos diversificados com exposição moderada a mercados emergentes pode ser uma estratégia interessante para equilibrar risco e retorno.
Como investir em 2025: dicas e tendências
As ações continuam a ser uma escolha atrativa para 2025, com os EUA a destacarem-se pela sua liderança em inovação tecnológica e pela possibilidade de cortes nas taxas de juro, que têm impulsionado os mercados. Contudo, a China também merece atenção, acompanhando de perto essa evolução, especialmente como um polo de inovação tecnológica e com potencial para liderar em áreas como a tecnologia verde e automação industrial.
Mesmo assim, em termos de resultados, os mercados norte-americanos parecem bem mais caros do que os europeus. As valorizações mais atrativas na Europa podem representar uma oportunidade interessante. Por isso, uma abordagem equilibrada, que combine o dinamismo dos EUA com o potencial da China e as valorizações subvalorizadas da Europa, pode ser uma estratégia vencedora para capturar as melhores oportunidades globais. Na nossa opinião, diversificar assim pode ser a chave para um investimento mais robusto e resiliente.
A esperada queda das taxas de juro torna as obrigações atrativas, especialmente na Zona Euro, onde as perspetivas económicas são mais débeis e onde se espera que o banco central seja mais ativo a cortar as taxas de juro. A nossa preferência vai para o crédito Investment grade, pelo carry adicional e pela diversificação que oferece. A dívida de mercados emergentes em moeda local encontra-se também bastante interessante, fruto de crescimentos económicos resilientes, níveis de taxas de juro ainda elevados e moedas que já sofreram um ajuste forte com o resultado das eleições americanas.
Riscos a monitorizar:
- Tensões geopolíticas (os conflitos na Ucrânia e as relações comerciais EUA-China).
- Inflação persistente em algumas regiões.
- Volatilidade política.
Setores em destaque para diversificação:
- Inteligência artificial: continua a ser um motor de inovação global.
- Infraestruturas energéticas: necessidades crescentes em transição energética.
- Defesa: um segmento que deverá manter uma procura crescente devido às tensões geopolíticas.
Planeamento e estratégia são o ponto-chave
O ano de 2025 promete ser cheio de desafios, mas isso também significa que vão existir oportunidades. O cenário global é de tal forma dinâmico que vai exigir uma abordagem de investimento bem informada e diversificada com um bom plano de atuação. Será necessário, dar atenção às tendências e aos riscos de cada geografia, para identificar setores promissores que nos permitam criar estratégias positivas resultantes dos momentos de incerteza. Afinal, é nos desafios que muitas vezes encontramos as melhores oportunidades.