O que se avizinha para último semestre de 2023 na economia global?

Mário Brandão e Tânia Silva
Mário Brandão e Tânia Silva. Créditos: Cedida (Bison Bank)

TRIBUNA de Mário Brandão e Tânia Silva, consultores financeiros do Bison Bank.

A inflação que se tem verificado ultimamente e que se manterá acima do nível pretendido por parte dos bancos centrais, aliada à possibilidade de uma iminente desaceleração económica, anteveem uma segunda metade de 2023 turbulenta para o mercado global.

Após sucessivas subidas de taxas, o impacto começa a ser visível, embora menos forte do que o esperado. A recessão teima em aparecer, com os dados de desemprego a serem altamente resilientes. Neste cenário, o crescimento será moderado e os bancos centrais continuarão com políticas restritivas com o objetivo de alcançar os 3% de inflação agora pretendidos. 

Mercado de dívida

Era expectável um possível deslize no mercado de dívida, e por conseguinte uma contenção e possível redução de taxas por parte dos bancos centrais na primeira metade de 2024. No entanto, prevê-se que esse cenário não vá ocorrer. É possível que haja algum esbatimento nas yields (E.U.A. e Zona Euro), mas sem impacto relevante. As taxas vão, por isso, continuar a subir pelo menos até ao terceiro trimestre. 

Perspetivas para os EUA

Nos Estados Unidos da América (EUA), conclui-se que a Reserva Federal vai continuar com uma atitude agressiva até à criação de um cenário recessivo, que será necessário entre o quarto trimestre de 2023 e o início de 2024. Ainda que o mercado acionista tenha obtido valorizações relevantes no passado, a segunda metade 2023 não se prevê tão favorável. 

Face às atuais condições macroeconómicas nos EUA, aos razoáveis resultados empresariais e à resolução da questão do teto de dívida, tal não passará de um movimento técnico que se desvanecerá neste segundo semestre. Após um período de tão baixa volatilidade, prevê-se até ao final do ano um aumento dos valores do VIX suportado por uma Reserva Federal intervencionista e pelo aumento dos números do desemprego. 

Perspetivas para a Europa

Na Europa, o arrefecimento do choque energético provocado pela guerra na Ucrânia está a ajudar a zona euro a controlar a sua inflação comparativamente com os EUA. Os recentes dados mensais da inflação na Alemanha (6,1% em maio 2023 versus 8,7% em janeiro 2023) são bem elucidativos, o que faz com que não sejamos tão pessimistas relativamente ao velho continente para o resto de 2023. Este cenário permite antever uma perspetiva de crescimento para a zona euro a aumentar de 0,2% para 0,7%.

Perspetivas para a Ásia

Na Ásia, a China continua com as ações das suas empresas a registar um forte desconto, consequência da reabertura pós-covid, que além de ter sido bastante lenta, teve um impacto claramente abaixo do esperado, tendo-se assistido à deterioração das relações diplomáticas com os EUA. Já o Japão encontra-se no seu próprio ciclo económico virtuoso, com o PIB a crescer consideravelmente devido a uma procura interna forte. O mercado acionista nipónico foi dos que mais se destacaram, com uma subida superior a 20%, dando claros sinais de que a economia está a arrancar. Registou a inflação mais alta das últimas quatro décadas e é dos países que mais beneficiou com o cenário inflacionista global.

Os setores em foco no segundo semestre

Os setores sobre os quais incidirá o foco no segundo semestre são mais defensivos, como o Consumer Staples e Utilities. Adicionalmente, a área da Inteligência Artificial (IA), que tem estado em permanente discussão nos últimos tempos e cujo sector deu um enorme impulso na recuperação do sector tecnológico após o mau ano de 2022. 

Ainda que no passado a IA não tenha conseguido a força necessária para se impor, neste momento, há razões para crer que este setor trará os dividendos esperados, graças a dois fatores:

Em primeiro lugar, o mundo digital em que vivemos gera um manancial de dados, que só com a ajuda da IA é que as empresas os conseguem organizar e descodificar. 

Em segundo lugar, a evolução do hardware informático permite agora ter a capacidade de processamento necessária para o tratamento destes conjuntos de dados. Todas as tecnológicas estão a investir milhões em IA e é provável que esta tenha impacto na forma como vivemos, trabalhamos e nas tendências de inflação ou desinflação, a longo prazo.