“O Tripé Global…”

Jorge_Botelho_BBVA
Vitor Duarte

A Economia, os Bancos Centrais e o Poder Político são os três suportes de um tripé que sustentam a análise e a decisão de qualquer investimento. Atualmente, estes três suportes, se por um lado nos parecem mais flexíveis, por outro lado, transmitem uma maior sensação de desequilíbrio e insegurança. Diferentes prioridades e interesses distintos têm provocado maiores fricções entre Blocos Económicos, Bancos Centrais e Estados, originando diversos pontos de tensão. Mas se tudo isto parece correto, a verdade é que nunca estes três suportes estiveram tão interligados a nível global, o que por si só, lhes devolve uma maior resistência.

O Suporte Económico

Independentemente do maior ou menor grau de sincronização entre o ritmo de crescimento das diferentes economias do globo e dadas as atuais condições endógenas subjacentes ao corrente ciclo económico, é prematuro antecipar uma qualquer desaceleração pronunciada.

O principal motor do crescimento económico continua a ser a sólida recuperação da procura interna nos países desenvolvidos e emergentes, apesar das tensões comerciais. A melhoria sustentada do mercado de trabalho e a recuperação gradual do rendimento disponível, tem ditado a evolução firme da confiança do consumidor a nível global. A maior longevidade do ciclo económico global e a permanência de um entorno de taxas de juro baixas, são fatores que continuarão a suportar políticas fiscais mais expansionistas.

O Suporte dos Bancos Centrais

O desempenho sincronizado dos Bancos Centrais permitiu a estabilização das expetativas económicas e da inflação. Apesar da gradual subida de taxas de juro e do fim dos programas de Q.E., as condições financeiras globais continuaram a ser bastante relaxadas e sustentadoras da atividade económica global.

Os Bancos Centrais dos países desenvolvidos parecem cada vez mais cientes que o risco de deflação retrocedeu, mas também têm a consciência que o risco de subida pronunciada da inflação mantém-se muito mitigado, fruto de fatores estruturais: Dívida, Demografia, Desigualdade e Digitalização.

Quanto aos Bancos Centrais dos países emergentes, de assinalar que estes encontram-se menos dependentes do ciclo monetário da FED. O papel destes Bancos Centrais, está mais facilitado com a menor dependência externa e com a abertura do acesso ao financiamento em moeda local. O risco é cada vez mais idiossincrático e menos sistémico, como recentemente constatámos com a situação da Turquia e da Argentina.

O Suporte do Poder Político

A “Grande Recessão” provocou grandes clivagens na sociedade, agravando a desigualdade entre classes sociais e países. Este é o problema central da agenda política e a razão fundamental, que se esconde por detrás da crise migratória, das atuais tensões comerciais e dos vários acrónimos associados ao vocábulo Exit...

O excesso de endividamento é também na sua génese um sintoma camuflado da crescente desigualdade. O elevado endividamento acentua o desequilíbrio da função temporal do consumo e gera excesso de capacidade no futuro, obrigando a taxas de juro mais baixas e consequentemente a mais dívida para manter o mesmo nível de bem-estar.

O aumento da esperança de vida e o envelhecimento da população são também tendências que afetam o crescimento, a produtividade e consequentemente as dinâmicas da dívida, expondo cada vez mais o problema da desigualdade.

O rápido processo de transformação tecnológica e digital acentuou-se a seguir à crise, provocando a deslocação de mão-de-obra para setores menos produtivos e consequentemente pior remunerados. A reconversão do mercado de trabalho tende a ser lenta e, por isso, no curto prazo agrava a desigualdade.

É neste enquadramento que devemos analisar a interligação dos diferentes suportes do Tripé Global, abdicando de análises descontextualizadas de curto prazo. A solução para resolver o problema do excessivo endividamento global e da espiral deflacionista a este associado, reside em incrementar o crescimento potencial da economia. Em face dos desafios demográficos, a forma mais eficaz de aumentar o crescimento potencial da economia, assenta em simplesmente reduzir a desigualdade.

Em bom rigor, a procura de maior igualdade deixou de ser uma bandeira exclusiva dos regimes de esquerda e passou a ser uma condição vital para a sobrevivência daquilo que vulgarmente designamos por economia de mercado. Não se trata de “roubar” aos ricos para entregar aos pobres, trata-se simplesmente de melhorar a afectação dos recursos para que existam mais indivíduos com maior capacidade efetiva de consumo de bens e serviços. Esta nova realidade do combate à desigualdade é absolutamente consistente com a adoção de políticas económicas expansionistas, até que se verifiquem melhorias evidentes na redução da dívida, na criação de emprego, na subida de salários e na consequente extinção da latente espiral deflacionista.

Nesse sentido, o frequente balançar do tripé e a constante interação dos seus suportes, podem-se constituir em si mesmo, no maior garante da longevidade do atual ciclo económico global, na medida em que, nenhum dos suportes é isoladamente uma condição suficiente para resolver os problemas estruturais com que a sociedade se confronta.