Otimismo, mas com cautela, para enfrentar 2023

Elena Villalba
Elena Villalba. Créditos: Cedida (Mirabaud AM)

TRIBUNA de Elena Villalba, diretora-geral da Mirabaud Asset Management para a Península Ibérica e América Latina. Comentário patrocinado pela Mirabaud Asset Management.

2022 ficará na história como um dos anos mais complicados para os investidores e gestores. A guerra da Ucrânia, a escalada inflacionista e a subida das taxas geraram um novo contexto socioeconómico e geopolítico que vai marcar os próximos anos. O mundo de amanhã vai ser muito diferente do dos últimos 20 anos.

Lionel Aeschlimann, CEO da Mirabaud Asset Management e partner do Grupo Mirabaud, abriu o evento anual da Mirabaud Asset Management, no dia 23 de novembro, com esta contextualização do atual momento macroeconómico, acolhendo calorosamente os cerca de 200 clientes de Espanha, Portugal e Andorra.

O responsável máximo da empresa fez uma revisão do ano de 2022, que ficará na memória como um dos anos mais complicados da história e também devido às suas repercussões nos próximos anos. “Parece evidente que o mundo transformou-se em 2022. A guerra na Ucrânia não nos deixou indiferentes e o regresso da inflação, que não vai ser temporária, mas duradoura, bem como a subida das taxas criaram um novo contexto socioeconómico e geopolítico. Os grandes temas destes próximos anos serão os riscos geopolíticos, em torno das rivalidades entre o Ocidente e a Rússia, por um lado, e o Ocidente e a China, por outro, talvez até mais importante, com zonas de alto risco como Taiwan. Uma situação que irá afetar o comércio internacional, as cadeias de abastecimento, a inflação e a reorganização da globalização em terno de conceitos como a independência ou a segurança dos estados, ao nível da energia, saúde e tecnologia.   

Ao nível de investimentos, parece evidente que os bancos centrais dos EUA e Europa consideram que o combate mais importante deste momento é contra a inflação e aceitam, por isso, a ideia de que as suas políticas monetárias mais restritivas irão provocar recessões. Quão graves? E por quanto tempo? Estas são as questões.

Gero Jung, macroeconomista chefe da Mirabaud AM, não faltou a este evento anual de análise de tendências e previsões para 2023, e afirmou que “em geral, os economistas falam de uma recessão mundial se a taxa de crescimento global cair abaixo dos 2% quando se consideram os dados do FMI. Projetamos um crescimento inferior a 3%, mas superior a 2%, pelo que ainda estamos longe de um cenário de recessão mundial. As economias dos EUA e da zona euro irão registar, no próximo ano, taxas de crescimento entre o 0 e o 1% e a economia chinesas irá crescer uns modestos 4%”.

A nível regional, considerou que este menor crescimento mundial deve-se principalmente à desaceleração da atividade nos países industriais, enquanto as taxas de crescimento dos mercados emergentes irão estabilizar-se. Por isso, na Mirabaud não projetamos uma recessão mundial.

No que diz respeito à politica monetária em 2023, a Mirabaud não vislumbra o fim da subida das taxas e alerta que “o risco é que a Reserva Federal faça mais, não menos”. De facto, o economista sublinhou a postura que a Reserva Federal dos Estados Unidos irá adotar, mais agressiva, em comparação com a do Banco Central Europeu, muito mais prudente. Historicamente, cada vez que a taxa de desemprego aumenta em mais de 0,5 pontos percentuais, a economia norte-americana entra em recessão. Atualmente, a Fed prevê que a taxa de desemprego do próximo ano irá aumentar em mais de 0,5 pontos percentuais, mas a economia irá evitar uma recessão. Uma situação que Gero classificou como facto inédito. O cenário para a Europa é mais sombrio, prevê-se uma contração da economia neste trimestre e no seguinte, pelo que o BCE será mais comedido na subida das taxas de juro do que se podia esperar anteriormente.

Obrigações apostam nas durações curtas para 2023

Na área das obrigações, contamos com os nossos principais especialistas, Andrew Lake, responsável da área e Nicolas Crémieux, principal gestor do Mirabaud Sustainable Convertibles Global, que partilham a sua visão sobre os aspetos que irão marcar 2023 neste tipo de ativos.

Andrew explicou que a sua análise se foca no curto prazo e espera que as taxas permaneçam elevadas à medida que a inflação comece a abrandar.

Prevemos um contexto económico ainda complicado, embora evitemos uma recessão profunda, continuará a haver pressão no crédito, sendo a Europa mais vulnerável do que os EUA. Face a este cenário, continuamos a cobrir a duração e estamos mais inclinados a adotar uma estratégia barbell, combinando o curto e o longo prazo. Temos vivido uma revalorização de taxas de juro versus uma deterioração do crédito e dos fundamentais, o que é mais habitual neste final de ciclo. À medida que nos aproximamos de uma deterioração do crescimento e do pico das taxas de juro, vamos assumindo posições de maior duração. Pensamos que esta combinação irá ajudar-nos a tirar partido do ciclo em que nos encontramos, fechando yields muito interessantes a curto prazo. Além disso, esta abordagem irá permitir-nos aproveitar as oportunidades que se irão gerar na parte longa da curva, à medida que nos aproximamos do pico das subidas das taxas e do abrandamento económico. 

A conclusão deste outlook global sobre obrigações foi protagonizado por Nicolas Crémieux, com uma detalhada apresentação sobre o comportamento das obrigações convertíveis globais em 2022, que mostra a maior queda desde 1994. Consciente de que todas as crises geram oportunidades e que, possivelmente, o pior já passou, Nicolas afirmou que a convexidade se encontra num momento especialmente atrativo devido à queda do delta: “Como consequência, uma parte importante das obrigações convertíveis que antes tinham perfis RV, hoje encontram-se num ponto ideal para mostrar convexidade”.

O gestor quis enfatizar que, segundo as suas estimativas, as ações não estão a descontar plenamente uma recessão, e prevê que as expetativas de lucros sejam revistas em baixa no próximo ano, exercendo ainda mais pressão no preço dos ativos de risco. No entanto, as ações podem presenciar fortes revalorizações no meio de um bear rally apesar de se encontrarem num contexto desfavorável. Neste contexto, com uma macroeconomia cheia de incertezas, os convertíveis fazem parte da solução para asset allocators, uma vez que é um ativo concebido para este tipo de contextos devido à sua natural assimetria entre as ações e as obrigações.

Ações: à caça dos fallen angels

No bloco das ações, os nossos clientes puderam conhecer as perspetivas dos nossos especialistas, Anu Narula, diretor de Ações Globais e Hywel Franklin, responsável de Ações Europeias.

Ambos confirmaram que, apesar de nos encontrarmos num contexto de escasso crescimento económico, com uma requalificação descendente dos resultados empresariais, se observam perspetivas melhores que irão contribuir para a recuperação do mercado.

Para Anu, as oportunidades estão nos fallen angels e nos vencedores globais. Assim, por exemplo, o gestor destacou o setor imobiliário e de construção ligado ao arrendamento ou o setor dos semicondutores relacionado com os veículos elétricos. “Para o ano que vem, o nosso objetivo é conseguir aproveitar as reconfigurações das valorizações. Os rendimentos vão cair um pouco, mas é o momento dos investidores a longo prazo aproveitarem estas oportunidades que começam a surgir”.

De uma perspetiva europeia, Hywel quis sublinhar as valorizações e a análise dos rendimentos de fluxo de caixa e concluiu que “o dinheiro/liquidez é o rei como anteriormente e temos isso em conta na hora de nos posicionarmos nas empresas”. Do seu ponto de vista, as ações europeias começam a ter valorizações muito atrativas, pelo que à medida que saímos da zona de recessão, é possível que o pior cenário já tenha sido descontado e, por isso, as empresas de pequena e média capitalização terão um maior desempenho comparativamente com as de grande capitalização. Como conclusão, Hywel previu que “2023 será um ano de grandes oportunidades”.

Nota: Informação sobre este evento e gravação do mesmo disponível mediante pedido ([email protected])


INFORMAÇÃO IMPORTANTE 

Este documento é unicamente para fins informativos e não deve ser interpretado como uma oferta nem como uma recomendação para subscrever, conservar o ceder participações, ações, produtos ou estratégias de investimento de fundos.

Todo o investimento acarreta riscos, os rendimentos podem diminuir ou aumentar como consequência das flutuações monetárias e os investidores podem perder o montante do seu investimento incial. O rendimento histórico não é indicativo nem garantia de rendimento futuro.

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