Outro dos impactos diretos da guerra: queda do preço dos ativos de risco

Carlos Bastardo ISEG Imofundos_noticia
Carlos Bastardo. Créditos: Vítor Duarte

TRIBUNA de Carlos Bastardo.

Este é o meu terceiro e último artigo sobre os efeitos da guerra. O primeiro há 2 meses abordou o impacto económico, o segundo no mês passado respeitou à subida do preço das commodities e consequentemente da inflação e este mês termino com uma análise ao impacto sobre os mercados e os ativos de risco.

Com referência aos dois principais benchmarks do mercado americano de ações (S&P 500) e do mercado europeu de ações (Stoxx 600), a evolução year to date é negativa.

O índice S&P 500 fechou em 23/5/22 nos 3.973,75 pontos cerca de 16,6% abaixo do valor no final de 2021. Desde o máximo de 4.818,62 pontos está a cair 17,5%, tendo até agora atingido o valor mínimo de 3810,32 pontos em 20/5/22.

Por sua vez, o índice Stoxx 600 fechou em 23/5/22 nos 436,54 pontos, perdendo no mesmo período do ano 10,5% e 11,6% desde o máximo.

Apesar de a época de resultados do primeiro trimestre de 2022 até ter sido nos dois lados do Atlântico positiva, com o número de empresas a bater as estimativas de resultados e de vendas do mercado a ser bastante superior ao número de empresas que ficaram aquém, os investidores estão nervosos e espelho disso é o valor do índice de volatilidade VIX que desde o dia 24/2/22, dia da invasão da Ucrânia pela Rússia, tem andado grande parte do tempo acima dos 30 pontos.

O índice VIX variou este ano (até 23/5/22) entre um mínimo e um máximo de 16,6 e    38,84 pontos, estando em 23/5/22 nos 29,44 pontos.

Relativamente ao mercado de corporate bonds (investment grade e high yield), temos assistido a algum alargamento de spreads de risco.

O prolongar da guerra na Ucrânia, a subida da inflação, a redução das perspetivas económicas para este ano por parte dos principais organismos internacionais (FMI, OCDE e Comissão Europeia) e a subida das taxas de juro, são os principais fatores que têm levado à queda dos preços dos ativos com risco.

No entanto e atendendo à área onde nos últimos 7 anos tenho desenvolvido atividade (fundos imobiliários), a alternativa de investimento em imobiliário não tem sentido (pelo menos até agora) impacto negativo.  Prova disso a rendibilidade do nosso principal fundo imobiliário no último ano e nos últimos 3 anos.

Acima de tudo, o que sentimos é falta de produto, em especial nos segmentos residencial e de logística. Por outro lado, o nervosismo das bolsas e a “miserável” remuneração dos depósitos a prazo, tem levado os aforradores particulares e os investidores institucionais nacionais e internacionais a procurar ativos de rendimento.

Esta situação poderá continuar durante mais alguns meses, tudo dependendo da evolução das taxas de juro na Europa, cuja subida poderá afetar (como já está) as famílias portuguesas com um aumento das prestações do crédito à habitação.

Por outro lado, a subida das taxas de juro poderá também determinar a subida do custo de oportunidade do capital (WACC) usado para avaliar os ativos financeiros e reais.

Portanto, os próximos meses serão determinantes, especialmente para vermos se a inflação já atingiu os máximos. Há alguns indicadores como a evolução descendente dos preços dos metais, parecem indicar que o pico da inflação pode já ter sido atingido.

Quanto ao fim da guerra continuo cético. Quando Putin disse no dia 9/5 que a razão para a invasão da Ucrânia era que a NATO se estava a preparar para ocupar solo histórico russo/ soviético, só podemos estar céticos quanto a um desfecho rápido do conflito. Mas, vamos ter esperança que este se resolva, para bem fundamentalmente do povo ucraniano que tem sofrido bastante nestes 3 meses de constantes atrocidades.