TRIBUNA de Álvaro Antón Luna, Diretor-geral da Aberdeen Standard Investments para a Península Ibérica. Comentário patrocinado pela Aberdeen Standard Investments.
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(TRIBUNA de Álvaro Antón Luna, Diretor-geral da Aberdeen Standard Investments para a Península Ibérica. Comentário patrocinado pela Aberdeen Standard Investments.)
A situação do coronavírus está a evoluir rapidamente. A Itália encontra-se em quarentena, os casos confirmados aumentam em toda a Europa e nos Estados Unidos e está a ser feito um esforço global enorme para conter o vírus. Na quinta-feira da semana passada, as ações europeias sofreram a maior queda num só dia desde 1987. O pânico parece ter-se instalado nos mercados.
Contudo, estamos focados nos motores de crescimento a longo prazo e a bloquear o “ruído” de curto prazo, como em qualquer cenário de mercado. E esse foco permite-nos ver oportunidades para investirmos de forma ponderada em várias empresas europeias de elevada qualidade.
Como encaramos o que está a acontecer?
Não há dúvida de que estamos a viver um choque de procura em todas as economias do Ocidente e dos mercados emergentes. Ao mesmo tempo, temos observado roturas significativas na cadeia de abastecimento, o que, por sua vez, está a pressionar o sistema bancário e financeiro e a adicionar o risco de crédito a um ambiente, por si só, já bastante desafiante. A juntar-se a este cenário, temos ainda a guerra no preço do petróleo entre a Arábia Saudita e a Rússia: os preços afundaram, colocando uma pressão ainda maior nos mercados de crédito.
Um fator interessante foi o enfraquecimento do dólar face ao euro. Em tempos de crise, os investidores costumam procurar o que consideram ser ativos “seguros”, dando força ao dólar. Mas desta vez é diferente. Em última instância, esta dinâmica pode pressionar as empresas europeias. Um dólar enfraquecido não ajuda os exportadores e pode comprometer a taxa de rentabilidade das empresas europeias. Mas esta situação pode ser, simplesmente, o desenrolar de operações de carry trade alavancadas e o fim dos investidores a saírem de financiamento barato em euros. Ainda é muito cedo para termos certezas. Contudo, vale a pena estarmos atentos.
Enquanto investidores, é importante não nos perdermos nos grandes acontecimentos macroeconómicos. Temos de regressar ao essencial e focarmo-nos nos dados fundamentais das empresas.
Perante este cenário, há muitos fatores a considerar. Mas enquanto investidores, é importante não nos perdermos nos grandes acontecimentos macroeconómicos. Temos de regressar ao essencial e focarmo-nos nos dados fundamentais das empresas. São esses dados que nos vão permitir ultrapassar os próximos três, seis ou 12 meses. E é por isso que investimos em empresas de elevada qualidade. No final das contas, as rentabilidades vão assentar na capacidade de gerar receita e liquidez e num balanço sólido. Uma boa gestão dos riscos ESG (ambientais, sociais e de governação corporativa) e modelos de negócio sustentáveis também vão permitir ganhos e uma proteção face a quedas. São estas as características desejáveis no contexto atual de incerteza.
Na nossa perspetiva, também é essencial manter um horizonte de investimento a longo prazo. Podemos não saber como vai ser o ambiente corporativo em 2020, mas ao investirmos em empresas cuja atratividade estrutural não tenha sido alterada pelo vírus, conseguimos ter uma melhor perceção de como poderão vir a ser os números em 2022/2023. As quedas recentes no preço das ações podem representar oportunidades de compra destas empresas.
Aprender com os outros
Isto não quer dizer que já atingimos o ponto mais baixo do mercado. A situação que se vive em Itália pode alastrar-se a outros países e ainda não é possível avaliar todos os efeitos do vírus nos lucros das empresas: os relatórios dos próximos dois trimestres podem ser dececionantes. Dito isto, as correções superiores a 25% nos mercados acionistas europeus já estão a descontar muitos destes fatores.
Entretanto, os bancos centrais, desde a Reserva Federal norte-americana ao Banco de Inglaterra, cortaram as taxas de juro de forma agressiva. Os mercados aguardam por respostas fiscais em grande escala. Vamos ter de esperar para quantificar o verdadeiro impacto destas medidas.
Também devemos considerar a Ásia, o epicentro do vírus, na nossa análise. O número de casos na China, no Japão e na Coreia parece estar a estabilizar, o que pode antecipar o que vai acontecer no Ocidente.
É provável que as pressões atuais se mantenham num futuro próximo, sendo a precaução a palavra de ordem. No entanto, se mantivermos um foco em empresas de qualidade e uma perspetiva de longo prazo, acreditamos que podem surgir oportunidades para assumirmos algum risco através de boas empresas que se encontrem subvalorizadas.