Para que servem as finanças?

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Enquanto pessoa que lidera a organização responsável pela principal qualificação da indústria financeira, frequentemente sou questionado acerca de como a profissão de investimentos pode mais claramente demonstrar a sua missão de estimular o crescimento dos negócios e gerar prosperidade. A grande questão por detrás destas preocupações é muito simples: para que servem as finanças?

Uma forma possível de a nossa profissão provar ter um propósito é através de um maior enfoque no investimento ambiental, social e de bom governo (ESG). O investimento ESG tem crescido em popularidade, mas ainda divide as opiniões relativamente aos seus méritos. Alguns argumentam, por exemplo, que aplicar fatores ESG no investimento representa um ativismo indevido e pode romper com o dever de um gestor de ativos de se focar somente no retorno dos investimentos.

Contudo, integrar dados ESG relevantes no processo de investimento representa uma abordagem mais completa no sentido de perceber o impacto social e ambiental que uma empresa poderá ter no nosso planeta. Esta realidade tem-se tornado cada vez mais clara para os profissionais nos mercados financeiros, embora estejamos, ainda, longe de um consenso relativamente à forma de integrar esses fatores na formulação da tese de investimento.

Uma recente sondagem aos membros do CFA Institute, baseados principalmente na Europa (The Evolving Future of ESG Integration in Investment Analysis) revela uma convicção crescente de que a indústria da gestão de investimentos tem a responsabilidade de considerar informação ESG como parte da sua análise.

De facto, 85% dos participantes no estudo acreditam agora que é apropriado para os investidores institucionais ter em consideração fatores ESG quando tomam decisões de investimento. O facto do dever fiduciário de um gestor de fundos não ser comprometido com a inclusão de material ESG no processo de investimento, precisa de ser reforçado.

Analisar qualquer empresa cotada não se resume ao retorno financeiro potencial que a empresa poderá proporcionar aos acionistas. É também acerca dos fatores sociais, ambientais e de governo que afetam o negócio e podem ser modelados pelas operações da empresa.

Enquanto estas chamadas externalidades apresentam desafios para os analistas financeiros, aos quais é atribuída a tarefa de as valorizar, ignorá-las representa uma falha na estimativa do verdadeiro custo que poderão ter para a sociedade, para a economia e, finalmente, para os investimentos.

Fumar, é um exemplo. De acordo com a World Health Organization, num relatório de 2017, fumar e os efeitos de fumar custam à economia global mais de um bilião de dólares todos os anos. As alterações climáticas terão um custo ainda mais pesado para a sociedade. De acordo com o UN Intergovernmental Panel on Climate Change, eventos climatéricos extremos e o impacto na saúde da utilização de combustíveis fósseis tiveram um custo para a economia norte-americana de pelo menos 240 mil milhões de dólares por ano, durante a passada década. Este custo irá subir 50%, apenas na próxima década. Em 2030, o relatório estima que a perda de produtividade causada por um planeta mais quente poderá custar dois biliões de dólares à economia global.

Estes números são materiais em qualquer contexto. Informação atempada, consistente e comparável permitirá aos governos e investidores atribuir um custo ou um valor adequado a estas externalidades que fluem das operações das empresas e as quais não representam, para já, um custo financeiro para as mesmas.

Felizmente, algumas pessoas na indústria estão a marcar uma posição. A BlackRock estima que o mercado de investimento ESG vai crescer 16 vezes, de 25 mil milhões de dólares para 400 mil milhões de dólares na próxima década. Anne Richards, que foi nomeada no verão como CEO da Fidelity International, pediu recentemente que os diferentes grupos de investimento adotassem considerações ESG como parte de um conjunto de métricas de performance mais vasto.

Governos europeus e a Comissão Europeia estão também ativamente a considerar como poderão criar uma conjuntura que promova as considerações ESG. A próxima geração de investidores – e um crescente número nesta geração – não irão aceitar a ausência de metodologias e enquadramentos quantitativos precisos como uma desculpa para a inatividade. Estão a exigir  que a indústria de investimentos responda à sua vontade de enfrentar alguns dos problemas mais inflexíveis da sociedade. A nossa profissão baseia-se muito em dados históricos para suportar as decisões de investimento. Esta abordagem não é adequada para enfrentar desafios cujos impactos são tão difíceis de quantificar. São necessários um bom discernimento e coragem. 

Isto traz-nos de volta à questão: para que servem as finanças? A resposta que vai satisfazer os nossos clientes passará por lhes mostrar que servirá para beneficiar, ultimamente, a sociedade. O ponto de não retorno para o ESG está a chegar.