Rui Martins, responsável da Direção de Estratégia na Caixa GA, apresenta as perspetivas para 2025 numa altura em que o cenário global está a ser marcado por mudanças que poderão transformar a dinâmica económica e financeira em diversas regiões do mundo.
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COLABORAÇÃO de Rui Martins, responsável da Direção de Estratégia na Caixa Gestão de Ativos.
Entramos em 2025 com um cenário global marcado por mudanças que poderão transformar a dinâmica económica e financeira em diversas regiões do mundo. Embora o início do ano deva ser relativamente estável, sustentado por políticas monetárias menos restritivas, a segunda metade apresenta incertezas significativas, com possíveis implicações para o crescimento económico, para a inflação e para os mercados globais. De entre os fatores impactantes, destacam-se as mudanças no comércio internacional, os desafios fiscais em diversas economias avançadas, como as da Área Euro, o papel dos avanços tecnológicos recentes na produtividade, e as tensões geopolíticas.
No Médio Oriente, a escalada dos conflitos pode causar o aumento dos preços do petróleo e do gás natural, afetando economias importadoras, e exacerbando as pressões inflacionistas globais. Além disso, a competição tecnológica entre Estados Unidos e China, particularmente nos setores de inteligência artificial, de semicondutores e de energia limpa, aumenta o risco de fragmentação da economia mundial.
O crescimento económico nos Estados Unidos será influenciado por uma combinação de estímulos fiscais, políticas comerciais protecionistas e ajustes monetários. A agenda económica de Donald Trump, marcada pelos cortes de impostos e pela desregulamentação, deverá impulsionar o investimento privado e o consumo. A resiliência do consumidor norte-americano, sustentada por um mercado de trabalho ainda robusto e por ganhos reais ao nível do rendimento das famílias, deverá suportar o crescimento.
No entanto, o risco de imposição de novas tarifas sobre importações, especialmente sobre a China e a Europa, têm potencial para causar o aumento dos custos para as famílias e as empresas, limitando, assim, o seu poder de compra. Adicionalmente, os possíveis constrangimentos à imigração podem gerar escassez de mão de obra, causando algumas pressões salariais e restringindo o crescimento a longo prazo. Neste contexto, a atividade norte-americana deverá abrandar, face aos valores que se espera vir a registar em 2024, permanecendo, contudo, num valor relativamente elevado.
Na Área Euro, o crescimento continuará a ser modesto, embora deva evidenciar uma tendência de melhoria. Para tal contribuirá uma política monetária mais acomodatícia, na medida em que o Banco Central Europeu (BCE) deverá continuar a reduzir as taxas de juro. Esse alívio monetário, aliado a ganhos do rendimento real das famílias, deve suportar o consumo doméstico. Contudo, as exportações, tradicionalmente um pilar do crescimento da região, poderão enfrentar desafios significativos devido aos efeitos das tarifas que os Estados Unidos venham a impor, e à desaceleração do comércio internacional. Países mais dependentes do comércio, como a Alemanha, podem ver o seu desempenho condicionado, enquanto nações com a situação das finanças públicas mais frágil, como Itália ou França, poderão enfrentar dificuldades adicionais.
Em paralelo, o investimento privado deve continuar pressionado por incertezas políticas internas, como as eleições na Alemanha e as possíveis reformas fiscais em economias de maior dimensão. Apesar de alguns sinais de resiliência nos serviços, a fraqueza estrutural do setor industrial e os impactos das tensões comerciais sugerem que a Área Euro continuará vulnerável a choques externos e a um crescimento abaixo do potencial.
As tensões geopolíticas deverão manter-se como uma fonte de incerteza. O conflito na Ucrânia e a instabilidade no Médio Oriente deverão ter implicações significativas, não só para os mercados de energia, mas também ao nível da confiança dos empresários e famílias europeias. Nesta região, a dependência de energia importada continua a ser um ponto de vulnerabilidade, podendo, contudo, as importações de gás natural liquefeito (GNL) oriundas dos EUA aliviar parte desses riscos.
O Japão continuará a beneficiar das reformas estruturais em curso, com ênfase na digitalização, na inovação tecnológica e dos mercados financeiros. O Banco do Japão (BoJ) deverá manter as taxas de juro baixas, o que propicia um ambiente favorável ao investimento. No entanto, a vulnerabilidade a choques externos, principalmente devido à dependência das exportações e ao envelhecimento da força de trabalho, limita a capacidade de crescimento, em comparação com outras grandes economias. Contudo, atendendo ao seu estatuto de parceiro estratégico dos EUA na Ásia, poderá vir a ser uma alternativa nas cadeias de produção globais, num momento de maiores tensões comerciais e diplomáticas sino-americanas.
A China deverá continuar a demostrar uma tendência de abrandamento. O país enfrenta desafios significativos, nomeadamente o impacto das tarifas comerciais, um setor imobiliário em crise, e uma desaceleração nas suas principais indústrias. O governo chinês permanece apostado em estímulos fiscais e monetários, com o objetivo de sustentar o consumo interno e promover a transição para uma economia de consumo, por contraposição à elevada dependência das exportações e da indústria. Setores como a tecnologia, a inovação em energia renovável e o consumo interno, continuam a ser áreas de potencial crescimento, impulsionadas por investimentos estratégicos do governo.
No entanto, os desafios são profundos, nomeadamente, a excessiva dependência do investimento estatal, que condiciona a eficiência económica, enquanto as tensões comerciais e tecnológicas com os Estados Unidos limitam o acesso do país a mercados e tecnologias estratégicas. Além disso, a crescente dívida empresarial e a fragilidade do setor imobiliário representam riscos adicionais para a estabilidade financeira do país.
Trump 2.0: o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos e o impacto nas relações comerciais
Um dos eventos mais significativos que moldará o cenário económico em 2025 é o regresso de Donald Trump à presidência norte-americana. Durante a campanha, e nas escolhas para a sua futura equipa, o novo presidente demostrou que planeia priorizar a imposição de medidas protecionistas no comércio internacional. Entre as propostas mais controversas, destacam-se as tarifas generalizadas, de até 20%, sobre todas as importações e aumentos drásticos, de até 60%, sobre os produtos oriundos da China.
Estas tarifas terão implicações diretas para a economia global. Para os Estados Unidos, espera-se que causem, não só o aumento dos preços para os consumidores e as empresas, gerando algumas pressões inflacionárias, mas também que incentivem o investimento direto em setores protegidos, no país. Essas medidas podem, por contraponto, desencadear represálias comerciais de parceiros como a União Europeia e a China. Para a Europa, que tem enfrentado um desempenho económico relativamente débil, as novas tarifas norte-americanas devem atingir os setores exportadores, com principal ênfase para o automóvel e o industrial. Países como a Alemanha, fortemente dependente das exportações, podem sofrer impactos desproporcionais, especialmente se as tarifas resultarem na redução significativa da procura por produtos europeus. A política alfandegária norte-americana não se deve limitar à China e à Europa. Outros países emergentes, como o México e o Brasil, poderão também enfrentar novas barreiras comerciais.
Normalização monetária: qual a margem que os bancos centrais terão para cortar as taxas diretoras?
Após vários anos de políticas monetárias extremamente expansionistas, marcadas por taxas de juros historicamente baixas e estímulos massivos, que foram seguidas por políticas de cariz considerada bastante restritivo, os Bancos Centrais estão atualmente a encetar um processo de normalização. Em 2025, espera-se que a Reserva Federal (Fed) dos Estados Unidos e o BCE continuem a reduzir as taxas diretoras, para balancear o crescimento económico com o controlo da inflação.
Nos Estados Unidos, a vitória do Partido Republicano já influenciou as expectativas do mercado em relação às políticas da Fed. A retórica de Donald Trump em relação ao comércio e à imigração, bem como os seus planos de estímulo fiscal, podem fazer regressar as pressões inflacionistas, levando esta autoridade a adotar uma abordagem mais cautelosa no processo de normalização da política monetária.
Na Europa, o BCE enfrenta desafios distintos. A inflação na Área Euro deverá convergir para próximo do objetivo de política monetária, refletindo tanto os impactos deflacionários das tarifas norte-americanas, como o alívio advindo de menores pressões ao nível dos custos energéticos. Neste contexto o BCE deve continuar a reduzir as taxas, podendo, inclusivamente, acelerar esta redução.
Oportunidades e estratégias para investidores
Apesar dos desafios, 2025 também apresenta oportunidades significativas para os investidores. À medida que os mercados financeiros enfrentam incertezas e transformações, é fundamental que os investidores tenham em atenção os estudos de alguns economistas que alertaram sobre os ciclos de exuberância irracional e os enviesamentos comportamentais, alerta que poderá demonstrar-se de extrema importância, após dois anos em que a classe de ações exibiu desempenhos substancialmente positivos. Assim, apesar desta classe poder continuar a ser a mais beneficiada pelo contexto vigente e perspetivado, destaca-se a importância de uma abordagem cautelosa e fundamentada na gestão de carteiras, sendo de evitar reações aos movimentos de curto prazo que venham a ser observados, salientando-se o valor do efeito da diversificação, das soluções multiativos, perante as incertezas que se apresentam para o ano de 2025.
Ao nível dos mercados acionistas, é expectável que mantenham uma tendência de valorização, embora se possam evidenciar diferenças entre regiões. No mercado norte-americano, as políticas económicas expansionistas de Donald Trump, a solidez das margens corporativas e o crescimento robusto podem, inicialmente, suportar a evolução de setores como o de energia, o de tecnologia e o de infraestruturas, com as tarifas e as tensões comerciais a terem o potencial de penalizar os setores mais sensíveis ao comércio internacional. Adicionalmente, este mercado beneficia da maior exposição a empresas relacionadas com a inovação tecnológica, especialmente as que lideram a revolução da inteligência artificial. Contudo, transaciona com métricas de valorização relativamente elevadas, face às de outras geografias, sendo hoje um dos posicionamentos mais consensuais entre investidores, o que poderá condicionar o seu desempenho.
A Europa enfrenta desafios significativos, com um crescimento económico mais fraco e incertezas sobre o cenário político. No entanto, as políticas monetárias do BCE e as valorizações atrativas poderão sustentar o mercado acionista, apesar dos riscos advindos das possíveis tensões comerciais com os Estados Unidos. O mercado japonês, por sua vez, beneficia das reformas estruturais e de uma posição bastante favorável na inovação tecnológica, nomeadamente na robótica e na automação, o que, somando à postura ainda relativamente acomodatícia do BoJ, torna as ações nipónicas atrativas. Nos mercados emergentes, os desafios geopolíticos, as incertezas sobre o comércio internacional e sobre o dinamismo da economia chinesa, reduzem o seu potencial face aos riscos.
No que respeita à classe de obrigações, espera-se que o contexto de normalização das políticas monetário seja gerador de suporte. Nos Estados Unidos, a evolução das obrigações do Tesouro poderá ser limitada pelo défice fiscal elevado e pelos efeitos no crescimento e na inflação das medidas defendidas por Donald Trump, na medida em que possam, eventualmente, causar uma menor flexibilidade da Fed para normalizar a política monetária. Em comparação, as obrigações de governos da Área do Euro devem continuar a beneficiar da fragilidade e desafios enfrentados pela economia europeia, o que facilita a predisposição do BCE em prosseguir a redução das taxas diretoras.
O mercado cambial, em 2025, será influenciado pelas políticas fiscais e comerciais a implementar pela nova administração norte-americana, que deverão traduzir-se na manutenção, no curto-prazo, de um dólar forte. O euro, por sua vez, enfrenta desafios significativos devido ao baixo crescimento económico europeu e à política tendencialmente mais acomodatícia do BCE face á da Fed. A expectativa é de que esta moeda continue a ser pressionada, especialmente em virtude das tensões comerciais com os Estados Unidos e da incerteza sobre o enquadramento político em alguns dos países da Área Euro.
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