Carlos Bastardo, no seu artigo mensal, analisa as dinâmicas que contribuíram para um PIB pouco consistente na Europa, nos três primeiros meses do ano.
O PIB de Portugal cresceu 0,4% no primeiro trimestre face ao último trimestre de 2017, um valor idêntico ao da zona euro.
Em termos homólogos, o PIB cresceu 2,1%, abaixo do crescimento registado na zona euro que foi de 2,5%.
Dos países da zona euro que evoluíram mais favoravelmente é de salientar a Espanha, cujo PIB cresceu 0,7% no trimestre e 2,9% em termos homólogos. Abaixo do crescimento de Portugal, estiveram a Itália, a França e a Alemanha, com crescimentos trimestrais de 0,3% e crescimentos homólogos de 1,4%, 2,1% e 2,3% respetivamente.
É necessário ter em atenção que este ano a Páscoa, período mais forte de consumo depois da época natalícia, entrou nas contas do primeiro trimestre. E, portanto, mesmo com a Páscoa, o PIB cresceu abaixo das estimativas, que eram de 0,6% no trimestre e de 2,3% em termos homólogos.
Segundo o INE, o contributo da procura externa líquida para o crescimento do PIB no primeiro trimestre foi negativo.
As exportações subiram 4,5% no primeiro trimestre de 2018, abaixo do crescimento das importações de 5,9%, tendo como consequência um aumento no défice comercial.
A formação bruta de capital fixo e o consumo privado evoluíram positivamente no primeiro trimestre de 2018.
Outra preocupação que ganha força é o crescimento do crédito ao consumo que no primeiro trimestre de 2018 esteve ao rubro. O valor em março atingiu os 659,3 milhões de euros (+10,5% que em março de 2017), tendo sido o segundo maior valor de sempre (o máximo histórico registou-se em novembro de 2017 com 660,2 milhões de euros).
Logicamente que hoje, devido ao menor desemprego, a base de pessoas que podem contrair crédito é maior. Temos que ver se nos próximos meses o valor do crédito ao consumo estabiliza ou se continua a recente escalada. Se tal acontecer, não será uma situação positiva, se ainda nos lembrarmos do que aconteceu antes e depois do resgate do país em maio de 2011.
O FMI é a entidade menos otimista no crescimento do PIB em Portugal. Recentemente, esta entidade anunciou uma estimativa de crescimento de 2,1% para 2018, quando outras entidades internas e externas estimam que a economia portuguesa possa crescer entre 2,3% e 2,5%.
Se a dinâmica de crescimento do PIB no primeiro trimestre se mantiver no mesmo ritmo no resto do ano, Portugal dificilmente irá crescer acima de 1,5% a 1,6%, quando em 2017, o crescimento económico foi de 2,7%.
A forte subida dos combustíveis faz diminuir o rendimento disponível dos portugueses, o que poderá ter efeitos negativos no consumo privado nos próximos meses. Os combustíveis estão em máximos de 4 anos. A carga fiscal é elevadíssima e o brent está nos 80 USD por barril.
Por outro lado, os indicadores PMI da indústria e dos serviços na zona euro mantiveram em maio a tendência descendente verificada no primeiro trimestre, o que não augura bons ventos para o PIB no segundo trimestre.
O otimismo de 2017 não está para já a repetir-se em 2018, o que poderá colocar também em causa outras metas como a do défice público. Faltam ainda 3 trimestres de dados conhecidos do PIB. Só mais para diante poderemos confirmar ou não a atual desaceleração do crescimento económico.