TRIBUNA de Ricardo Duarte Silva, selecionador de fundos da Crédito Agrícola Gest.
No segundo semestre, deveremos continuar a assistir a uma reaceleração da atividade económica nas principais economias ocidentais, em particular nos EUA e Europa onde os programas de vacinação decorrem a um ritmo mais satisfatório. No que toca ao Japão e a algumas geografias emergentes, mais recentemente fustigadas por nova vaga pandémica, é expectável um regresso à normalidade com um delay de alguns meses. Finalmente a China, que se tem debatido com uma subida dos custos das matérias-primas e com uma apreciação da sua moeda (yuan), tem revelado alguma moderação em termos de crescimento económico.
Assumindo que o mercado de taxas de juro permanece estável, as ações apesar de dispendiosas em termos de múltiplos poderão continuar a beneficiar dos extensos estímulos fiscais e da manutenção de políticas monetárias acomodatícias. De forma inversa, se os problemas logísticos e a inflação a nível do produtor subsistir por um período mais longo de tempo é plausível que os bancos centrais se tornem mais hawkish, em particular se subida de preços for acompanhada por um crescimento económico sólido. Neste cenário, poderemos assistir a uma subida das taxas de juro reais, que presentemente descontam um suporte por parte dos bancos centrais até final de 2023. Um potencial tightening dos bancos centrais poderia originar uma reversão de alguns dos reflation trades montados desde o ano passado, com impacto nas commodities e alguma moderação nas expectativas inflacionistas de longo prazo (que já se encontram a níveis particularmente exigentes).
O risco de mercado para nós é o mais relevante. Em particular o risco de taxa de juro, atendendo à alocação de ativos das carteiras que gerimos (proporção elevada de ativos de taxa fixa).
Na atual conjuntura, sem enunciar um fundo especificamente, cremos que um fundo balanceado com exposição diversificada às diferentes classes de ativos faria sentido atendendo ao atual momento de mercado. Como referimos, assumindo um cenário base de estabilidade de taxas de juro e suporte dos bancos centrais, as ações deverão continuar a performar de forma satisfatória. Mas não deixa de ser verdade que mesmo atendendo ao crescimento explosivo de resultados empresariais que é esperado para os próximos trimestres, as valorizações estão já dispendiosas e o risco de episódios de risk off é agora maior, sobretudo na transição para uma fase do ciclo económico onde são plausíveis subidas das taxas diretoras dos bancos centrais e remoção de estímulos.
No segmento de alternativos, procuramos ideias descorrelacionadas com as classes de ativos tradicionais (ações e obrigações). Seja através de soluções mais ou menos liquidas, a forte correlação mantida nos últimos anos entre ações e obrigações sugere cautela na alocação de carteiras entre estas duas classes. Num cenário, que reitero não é o nosso cenário base, de subida mais expressiva das taxas de juro, é possível vermos ambas as classes a apresentar retornos negativos, atendendo a que tem sido o suporte monetário e, mais recentemente também o fiscal, a servir de trigger das fortes valorizações registadas pelas ações na última década.