Ricardo Duarte Silva, selecionador de fundos na CA Gest, partilha as suas perspetivas relativamente ao segundo semestre de 2024 e afirma que volta a privilegiar o setor de obrigações.
COLABORAÇÃO de Ricardo Duarte Silva, selecionador de fundos da Crédito Agrícola Gest.
Em termos de perspetivas sobre as principais economias mundiais, consideramos que a economia norte-americana tem continuado a surpreender pela sua resiliência, numa envolvente de juros mais elevados e de menores poupanças por parte dos consumidores. Ainda assim, temos presenciado sinais recentes de algum abrandamento económico e alguma deterioração nos indicadores de confiança e do mercado de trabalho.
A nossa expetativa aponta para a continuação dessa tendência de arrefecimento gradual ao longo do segundo semestre do ano. Já na Europa, temos assistido a alguma recuperação, o que sugere que o Banco Central Europeu poderá esperar algum tempo antes de avançar para um segundo corte de juros. No bloco emergente, em particular na China, continuamos a acreditar numa recuperação da economia, muito embora as leituras mais recentes não sejam totalmente conclusivas. A colocação de novas restrições comerciais e tarifas são outro desafio a médio prazo.
Quanto aos riscos a monitorizar, mantemo-nos focados no risco de mercado, numa envolvente desafiante em termos geopolíticos (conflitos latentes, guerras comerciais, atos eleitorais com potencial disruptivo).
As classes de ativos melhor posicionadas para enfrentar o próximo semestre
Aos atuais níveis, continuamos a manter preferência pelo mercado obrigacionista, que apresenta yields interessantes, quer de um ponto de vista absoluto, quer relativamente às demais classes de ativos. Estamos, por isso, mais construtivos em termos de duração, em particular na dívida pública. No crédito, mantemos um posicionamento mais defensivo, atendendo ao nível relativamente apertado a que transacionam os spreads. Já o mercado acionista apresenta-se em alguns segmentos dispendioso. A dispersão setorial e a forte dependência face ao desempenho de um grupo restrito de ações são outros pontos que nos preocupam, mesmo que as valorizações acumuladas desde início do ano sejam expressivas e o sentimento permaneça construtivo, impulsionado pelo tema da inteligência artificial (tecnologia). Nas commodities e no imobiliário, com alguma seletividade, vão surgindo oportunidades.
Privilegiar obrigações
Sem recomendar um fundo específico, privilegiaríamos mais uma vez o segmento obrigacionista. Na atual envolvente, é expetável que os principais bancos centrais avancem para novos cortes dos juros, o que deverá suportar as valorizações, tanto mais que a expetativa de easing monetária foi já severamente ajustada (dos cerca de sete cortes de 25 pontos base no início do ano para os cerca de dois cortes no que toca à Fed).
Cautela no curto prazo
Os investimentos temáticos em inteligência artificial, digitalização e alterações climáticas suscitam interesse numa perspetiva de longo prazo. No curto prazo, conforme referido, seguimos algo cautelosos atendendo aos múltiplos a que muitas destas empresas transacionam. Continuamos a monitorizar de perto a divergência de performance entre as maiores empresas tecnológicas norte-americanas e as empresas de menor dimensão. A mesma dispersão pode ser encontrada entre setores e países.