Ricardo Duarte Silva (CA Gest): “Remover estímulos sem colocar em risco a recuperação da economia é uma tarefa delicada”

Ricardo Duarte Silva
Ricardo Duarte Silva. Créditos: Vítor Duarte

TRIBUNA de Ricardo Duarte Silva, selecionador de fundos da Crédito Agrícola Gest.

O próximo ano deverá ser marcado por uma moderação das taxas de crescimento económico um pouco por todo o globo. O phasing out de estímulos fiscais e o início do processo de normalização de taxas de juro promete alguma desaceleração face aos patamares presenciados em 2021. Ainda para mais os efeitos de base serão mais exigentes. Na China, será interessante monitorizar como irá a economia responder à crise presenciada no setor imobiliário que vinha representando cerca de um terço do crescimento económico local. A esta conjuntura, acresce toda a incerteza induzida pela pandemia. Novas variantes (como a recém-identificada Omicron) poderão criar constrangimentos, quer a nível da procura, quer a nível logístico e da oferta, conforme já experienciado em 2020 e 2021.

Classes de ativos melhor posicionadas

Num cenário benévolo, de crescimento moderado e inflação a arrefecer, podemos assumir que os ativos de risco deverão continuar bem suportados, tanto mais que as taxas de juro reais têm permanecido firmemente ancoradas em território negativo, o que torna os prémios de risco atrativos (ações, crédito). Convém, no entanto, frisar, que em termos absolutos as valorizações estão a níveis muito exigentes, tornando os mercados acionistas particularmente suscetíveis a episódios de volatilidade. Do lado das obrigações e imobiliário, o outlook é igualmente assimétrico e o papel dos bancos centrais na gestão de expectativas dos agentes económicos é cada vez mais complexo. Remover estímulos sem colocar em risco a recuperação da economia é uma tarefa delicada e a crença de juros zero forever tem-se instalado perigosamente na comunidade de investidores.

Riscos

Possivelmente, o risco de mercado assume maior preocupação. Num mundo altamente correlacionado, insensível a fundamentais, muito movido por técnicos, existe uma grande dependência pelo suporte de bancos centrais. O processo de normalização dos juros e de remoção de estímulos, que se antecipa possa arrancar em 2022, será por isso um período de maior importância.

Fundo de investimento que recomendam

Preferimos não individualizar num fundo mas consideramos fulcral estruturar carteiras promovendo uma boa diversificação entre classes de ativos.

Evolução da inflação

O cenário base é o de um arrefecimento progressivo da inflação no primeiro semestre de 2022. Não cremos que a disrupção de cadeias de fornecimento e a subida dos custos energéticos, conforme presenciado nos últimos meses, possam persistir a prazos tão longos (12M e 24M). Admitimos, no entanto, que o processo de transição para uma economia neutra em carbono possa induzir alguma volatilidade na evolução dos preços.

Temas de investimento

Os temas de investimento relacionados com ESG, por força de regulamentação e das implicações a nível de negócio, serão aquele que centrarão a nossa maior atenção. É ainda antecipável que os critérios de seleção de fundos de terceiros possam vir a incluir métricas ambientais, sociais e de governance.