Ricardo Duarte Silva (CA Gest): “Os EUA deverão crescer próximo do PIB potencial dos 2%”

Ricardo_Duarte_Silva CA Gest
Vitor Duarte

No ano de 2020, deveremos presenciar uma estabilização da envolvente macroeconómica global alicerçada pela manutenção de políticas monetárias acomodatícias, por uma aparente reaproximação entre os EUA e a China na frente comercial e por uma menor incerteza quanto ao tema do “Brexit”. Nesse sentido, num ano marcado pelas eleições presidenciais de novembro, os EUA deverão crescer próximo do PIB potencial dos 2%, enquanto que na Zona Euro e no Japão o crescimento deverá rondar 1%. No caso da economia nipónica mesmo tendo em atenção ao pacote de estímulo fiscal proposto pelo primeiro-ministro Shinzo Abe orçado em USD 239 bn. No bloco emergente, a economia chinesa deverá crescer em torno dos 5,9% desacelerando de forma controlada (introdução de estímulos fiscais e concessão de crédito menos restritiva).

Depois de um ano de 2018 onde praticamente todas as classes de activos apresentaram retornos negativos e de um ano de 2019 onde praticamente todas se valorizaram, a distorção induzida pelas políticas monetárias ultra-acomodatícias dos últimos anos deverá continuar a suportar um padrão de maior correlação entre os diferentes mercados financeiros. Olhamos para esta redução do efeito de diversificação com alguma preocupação, uma vez que que o perfil risco retorno das carteiras se torna menos previsível. Dito isto, as acções e o crédito, apesar de apresentaram valor relativo face às obrigações, poderão estar mais sensíveis a eventuais flutuações das taxas de juro. Já as obrigações propriamente ditas têm sido suportadas pela envolvente geral de taxas de juro baixas e pelo abrandamento da economia global. Com os principais bancos centrais a não anteciparem quaisquer subidas de taxas num futuro próximo, dificilmente assistiremos a uma normalização das curvas de rendimento governamentais no imediato. O espaço das “commodities” mantém-se uma opção válida atendendo à menor correlação mantida com as classes de activos tradicionais.

Atendendo à tipologia dos clientes que representamos, diria que o risco de taxa de juro é obviamente o mais relevante. A exposição a acções, por sua vez, encontra-se no ponto mais baixo dos últimos anos. Quanto ao negócio, a evolução dos activos sob gestão estará naturalmente dependente do desempenho dos mercados financeiros.

Se tivesse de escolher um fundo individual escolheria o Legg Mason Western Asset Macro Opportunities Bond Fund, um produto que procura rentabilizar o capital investido numa lógica de “total return” investindo para o efeito em instrumentos de dívida de diversas geografias (incluindo mercados emergentes). Procede-se igualmente a uma utilização intensiva de derivados com o intuito de gestão do risco de taxa de juro, moeda e crédito.

Embora o tema ainda não esteja contemplado contratualmente, acompanhamos de perto a adopção generalizada de critérios “ESG” e a maior abertura dos clientes a produtos socialmente responsáveis. É uma tendência importante na indústria e que poderá em breve ser concretizada em termos regulatórios.