Rui Martins, da Caixa GA, partilha as suas perspetivas para 2024 e destaca as classes de ativos melhor posicionados para enfrentar o ano.
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COLABORAÇÃO de Rui Martins, responsável da Direção de Estratégia na Caixa Gestão de Ativos.
No início do presente ano, a economia mundial enfrenta o desafio de uma inflação que persiste em patamares elevados a par de um crescimento moderado. A atividade em 2023 demonstrou-se mais robusta que o antecipado, sendo, no entanto, visíveis os indícios de deterioração, à medida que se sentem os impactos das políticas monetárias restritivas, do baixo crescimento do comércio internacional e da redução da confiança das empresas e dos consumidores. A nível global, o crescimento abrandou nos sectores mais sensíveis às taxas de juro, nomeadamente o mercado habitacional, e nas economias mais dependentes do financiamento bancário, como a europeia. Adicionalmente, as tensões geopolíticas mantêm-se como uma fonte de incerteza quanto às perspetivas a curto e médio prazo. No que respeita à evolução dos preços, é visível o processo de desinflação em curso em quase todas as economias.
Perspetivas e macroeconomia
Perspetivamos que em 2024 o crescimento mundial mantenha a tendência de abrandamento já observada no ano transato, sendo previsível que o europeu permaneça mais débil quando comparado com o de outras regiões, como o dos Estados Unidos. Em paralelo, é expetável que o processo desinflacionista, em curso, se mantenha em muitas economias, com os níveis de inflação, possivelmente, a regressarem para próximo dos objetivos dos seus bancos centrais no decurso dos próximos trimestres.
A evolução da atividade poderá ser afetada, no ano que agora se inicia, por vários riscos. O aumento das tensões geopolíticas, devido ao conflito entre o Hamas e Israel, constitui uma preocupação, em especial se este alastrar a toda a região, enquanto poderia resultar em perturbações significativas no mercado da energia e em algumas das principais rotas do comércio mundial e, por conseguinte, no crescimento global e na tendência de desinflação em curso. Adicionalmente, o impacto de taxas de juro mais elevadas e de critérios de concessão de crédito mais restritivos poderá revelar-se mais forte do que o previsto, conduzindo a um abrandamento mais acentuado do consumo, a um aumento do desemprego e a mais falências, em especial nos setores e regiões mais vulneráveis e sensíveis. Contudo, a economia mundial têm-se revelado, relativamente, resiliente aos níveis elevados da restritividade monetária, podendo a inflação regressar ao objetivo dos bancos centrais sem que se assista a um choque substancial na atividade.
Neste contexto, a política monetária dos principais bancos centrais deve manter-se restritiva até que a inflação diminua de forma consistente e convincente para patamares compatíveis com os objetivos destas autoridades. Assim, a necessidade de assegurar a manutenção da tendência desinflacionista deverá limitar a margem para cortes das taxas durante a primeira metade de 2024. De entre os bancos centrais das principais economias desenvolvidas, o do Japão poderá ser o único a decretar aumentos das taxas diretoras, uma vez que ainda mantém a sua política monetária em níveis acomodatícios.
Em concreto, no que respeita à economia norte-americana, em 2023, o crescimento surpreendeu, em boa parte, em resultado das poupanças excedentárias das famílias, acumuladas durante a pandemia. Num futuro próximo estará mais dependente da evolução dos seus rendimentos e, em menor grau, da possível flexibilização da política monetária da Reserva Federal. Neste enquadramento, prevê-se que o crescimento dos EUA seja moderado, devido ao efeito das condições monetárias e financeiras restritivas, com a evolução do consumo das famílias, a ser afetado por um ligeiro incremento do desemprego. Um dos riscos potenciais é a divisão política no Congresso, a qual causa alguma incerteza em torno da aprovação do orçamento e de uma possível paralisação do governo ou, inclusivamente, o incumprimento com as suas obrigações. No entanto, a grande maioria dos economistas estima que a economia desta região não irá vivenciar uma situação de recessão durante o ano de 2024.
Na zona euro, durante grande parte de 2023, assistiu-se a uma situação de inflação elevada e de estagnação económica. É provável que em 2024 a inflação mantenha a tendência de moderação, com a resiliência do mercado de trabalho, contudo, a contribuir para a sua persistência em valores elevados. Nesta envolvente, dado que a região continuará a ser uma das mais afetadas pelos efeitos das políticas monetárias restritivas, a atividade deverá permanecer débil a curto prazo, sendo, no entanto, reduzida a possibilidade de se registar uma contração acentuada. Para tal, contribui o enquadramento mais robusto, que em ciclos anteriores, do setor privado, pelo que será pouco provável assistir-se a um ajustamento significativo do mercado de trabalho, dadas as dificuldades de recrutamento que as empresas têm enfrentado nos últimos anos.
As classes de ativos melhor posicionadas para enfrentar o ano
No que respeita aos principais mercados financeiros, apesar dos desempenhos positivos observados em 2023, o presente ano inicia-se, em alguns casos, com métricas de valorização consideradas atrativas. A perspetiva de que os principais bancos centrais poderão evidenciar, durante 2024, uma estratégia monetária menos restritiva e que, no atual enquadramento, a atividade global não irá registar uma contração substancial, gera suporte ao desempenho das principais classes de ativos. No entanto, alguns fatores exógenos, como os do foro político, entre outros, poderão desempenhar um papel potencialmente desestabilizador, e, desta forma, causar um ambiente de maior volatilidade, face ao do ano transato.
No final de 2023, de acordo com vários inquéritos, o otimismo dos investidores situava-se num dos níveis mais elevados dos últimos 24 meses, em resultado da visão relativamente consensual de que os principais bancos centrais poderiam flexibilizar a sua política monetária no presente ano. Esta perspetiva foi reforçada pelos cometários recentes de responsáveis destas autoridades, de entre os quais se destaca a afirmação de Jerome Powell, de que a Fed estava "muito focada em não cometer o erro de deixar as taxas demasiado elevadas". Neste âmbito, a experiência e a história têm mostrado que a abordagem correta é não lutar contra a Fed. No entanto, é importante um posicionamento prudente, pois, dado o movimento observado nos últimos meses, muitas das expectativas descritas poderão já estar descontadas, o que possivelmente consubstancia-se em algum nível de complacência com os potenciais riscos.
Em específico, a evolvente de moderação económica e de manutenção da tendência de desinflação deverá constituir um ambiente favorável para a classe de obrigações, em especial para os títulos do Tesouro dos EUA, atendendo ao nível mais elevado, face às de outras regiões, a que as yields destas emissões transacionam. Cada ciclo tem caraterísticas únicas, mas, em média, o desempenho deste mercado foi beneficiado pelo contexto de descida das yields nos meses que antecederam o primeiro corte das taxas diretoras da Fed, o que perspetivamos poder ocorrer durante o ano de 2024.
Ao nível da classe de ações, o elemento mais relevante será se a inflação regressa para os objetivos de política monetária sem que se assista a uma contração significativa da atividade. No entanto, consideramos o enquadramento vigente como sendo favorável, em função do otimismo gerado nos investidores, decorrente do processo de desinflação em curso e da possibilidade de as autoridades monetárias implementarem políticas menos restritivas. Contudo, perante o aumento significativo das métricas de valorização em 2023, no presente ano, o desempenho dos vários mercados estará mais dependente da evolução dos resultados, sendo assim, possivelmente mais modesto.
Os riscos que causam maior preocupação
A recente evolução dos mercados tem sido amplamente influenciada pela expetativa quanto à possibilidade de os principais bancos centrais flexibilizarem as suas políticas monetárias durante o ano de 2024. No enquadramento atual, a inflação mantém o papel central na atenção não só das autoridades monetárias, mas também dos investidores e dos governos, com a permanência de níveis elevados por mais tempo que o antecipado a poder demonstrar-se o cenário mais disruptivo para o comportamento das classes de ativos.
Embora a inflação continue, provavelmente, a moderar no curto prazo, a manutenção de um enquadramento económico relativamente resiliente e a situação do mercado de trabalho, poderão resultar num processo de desinflação muito mais gradual que o observado em 2023. Aliás, caso a robustez do mercado de trabalho resulte em pressões salariais, tal poderá causar um aumento da inflação, em especial ao nível dos custos com os serviços. Neste contexto, os bancos centrais, em contraposição com a expetativa de mercado, possivelmente irão decretar novos aumentos das taxas diretoras.
Em paralelo, o presente ano será rico em processos eleitorais de relevo, com uma proporção significativa da população mundial convocada a ir às urnas. Entre as eleições que poderão ter implicações contam-se as presidenciais de Taiwan, em janeiro, onde a posição do candidato vencedor em relação à China será um elemento-chave, as parlamentares da União Europeia, durante o verão, e as presidenciais norte-americanas, que terão lugar em novembro. As promessas fiscais são frequentemente determinantes para a reação dos mercados. Por exemplo, os cortes de impostos decretados pelo Presidente Trump em 2017 alimentaram uma forte recuperação no mercado acionista. Atualmente, a reduzida margem orçamental nos EUA poderá comprometer a ambição das promessas, por parte de quaisquer candidatos, para a redução de impostos ou substanciais aumentos da despesa. Ademais, poderão ser um momento decisivo do ponto de vista geopolítico, em temas como o conflito na Ucrânia ou a previsibilidade da política externa norte-americana.
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