No seu artigo de opinião mensal, Carlos Bastardo fala do episódio da greve na fábrica da VW em Palmela e do impacto na economia.
O que está em causa na situação retratada neste artigo não é a defesa dos direitos dos trabalhadores, pois essa deverá estar sempre presente, mas sim a demagógica posição que muitas vezes os sindicatos demonstram.
Trabalhar aos sábados com vista à produção do novo modelo automóvel da VW na fábrica de Palmela, tinha compensações, pois tudo é negociável.
Também é verdade que existem muitas profissões em que se trabalha aos sábados: médicos, enfermeiros, polícias, bombeiros, militares, pilotos de aviação e de embarcações, restante pessoal dos aeroportos e dos portos, colaboradores do sector do turismo, professores e tantos outros e muitas vezes com menos compensações.
O triste episódio da greve na fábrica VW de Palmela ocorreu num grande investimento estrangeiro (provavelmente o maior), responsável por uma importante fatia do PIB português e das nossas exportações e pela criação de alguns milhares de postos de trabalho, diretos e indiretos. Naquela região existem múltiplos fornecedores de componentes automóveis da fábrica da VW.
Durante 25 anos, a empresa teve paz social, não houve greves, os trabalhadores conseguiram na generalidade das ocasiões uma boa negociação e a prova disso é que em termos médios, as condições de trabalho estão razoavelmente acima do que sucede no tecido industrial português.
Numa altura em que um dos partidos apoiantes do governo fala na necessidade em se criar emprego e de incentivar o investimento (e praticamente só o investimento privado é que tem crescido este ano), por outro lado, através da sua alavanca sindical, promove a desestabilização e o stress numa das maiores e mais emblemáticas empresas em Portugal. É no mínimo incoerente. Este é um exemplo claro, de que a fome do poder sindical e partidário está muitas vezes acima do interesse de quem trabalha e da economia do país.
Não partilho da opinião daqueles que referem ser possível a deslocalização da fábrica da VW, pelo menos a curto ou a médio prazo, uma vez que a eficiência produtiva da mesma a coloca em destaque no universo de fábricas do grupo automóvel alemão e o investimento feito é de grande envergadura.
Contudo, este episódio e outros que venham a ocorrer mancham a imagem do país (que até foi considerado recentemente naqueles rankings em que tenho dúvidas na forma como são construídos, como o quinto melhor sítio do mundo para se viver e trabalhar como expatriado), fere a qualidade de trabalho dos portugueses e poderá em última instância desviar futuros investimentos que o grupo VW tencione fazer.
Com o novo automóvel da marca alemã, está previsto a criação de mais uns milhares de postos de trabalho diretos e indiretos, que contribuem decisivamente para a manutenção do crescimento económico do país.
Se futuros investimentos do grupo VW ou de outros grupos económicos forem desviados para outros países, lá virá o Partido Comunista mais a sua central sindical dizer que a culpa é do governo que estiver em funções na altura. E se no pior dos cenários, caso a VW encerrasse a fábrica (volto a dizer que não acredito), quem pagava os subsídios de desemprego aos ex-trabalhadores? O PCP e a sua central sindical?
A demagogia e a hipocrisia política abundam neste país, infelizmente. Todos nós sabemos que há partidos políticos que têm mais votos quando a economia está pior. Mas os portugueses com bom senso desejam é que a economia mantenha uma trajetória de crescimento sustentável e equilibrada.
Para bem do futuro das pessoas que trabalham na fábrica da VW, da empresa e do país, espero e desejo que os seus representantes continuem na rota da negociação e não na rota da desestabilização.