“The journey is the reward”

Bruno Costa Dolat Capital
Bruno Costa. Créditos: Vítor Duarte

TRIBUNA de Bruno Costa, CFA, partner da Dolat Capital.

Durante a primeira metade de 2021, assistiu-se a um desempenho positivo da maioria dos mercados acionistas, suportados pelas perspetivas de recuperação do crescimento económico global, decorrentes dos planos de vacinação para a Covid-19 a nível mundial. Por seu turno, os mercados obrigacionistas registaram um desempenho, em geral, negativo, com as taxas de juro de longo prazo a subirem de forma acentuada, em especial nos EUA. No plano económico e político, assistiu-se, na Europa, ao surgimento de uma nova vaga de Covid-19, forçando os governos de vários países a aplicar novas medidas de confinamento. O Parlamento Europeu aprovou o Mecanismo de Recuperação e Resiliência, no valor de 750 mil milhões de euros em subvenções e empréstimos, para apoiar os países da União Europeia a aliviar os efeitos sociais e económicos da pandemia. Nos EUA o Congresso, onde o partido Democrata detém uma ténue maioria, aprovou um plano no valor de 1,900 mil milhões de dólares, proposto pelo Presidente Joe Biden, como mecanismo de recuperação económica pós-pandemia.

Para o segundo semestre de 2021, espera-se uma aceleração do crescimento económico a nível global em resultado da execução dos planos de vacinação e das medidas implementadas no âmbito dos planos de recuperação. Na maioria dos países desenvolvidos, estima-se que a percentagem de população vacinada atinja os 60% a 70% até final do 3.º trimestre, permitindo a total reabertura das economias. No entanto, a retoma económica deverá ocorrer a diferentes velocidades, mais célere em países como os EUA e a China, do que noutras regiões como a Europa, o Japão e alguns mercados emergentes, nomeadamente a Índia e o Brasil, que continuam muito afetados pela pandemia e onde a vacinação da população se encontra numa fase mais atrasada. A aceleração do crescimento deverá continuar a provocar aumentos nas taxas de inflação, já verificados durante o primeiro semestre de 2021. As subidas de preços resultam, em parte, de aumentos súbitos da procura, causados por medidas de estímulo (como os cheques distribuídos à população nos EUA), em combinação com insuficiências no abastecimento de matérias-primas e bens de produção, cuja extração ou fabrico foi afetada pela pandemia. Espera-se, no entanto, que a subida das taxas de inflação seja um fenómeno transitório, com tendência a normalizar ao longo do tempo, especialmente após o reequilíbrio da oferta e da procura no comércio mundial. A este propósito, terá particular relevância a atuação dos bancos centrais já a partir do segundo semestre de 2021. A retirada de estímulos à economia deverá ser muito cautelosa e prolongada no tempo, de forma a evitar erros de política monetária e consequente agitação nos mercados financeiros. Para além dos índices de preços, os bancos centrais estão particularmente focados no mercado laboral e para o potencial efeito que a criação de emprego possa ter no nível médio dos salários.

As condições macroeconómicas deverão manter-se propícias para um bom desempenho dos mercados acionistas, os fundamentais das empresas são robustos, sendo previsível o crescimento dos resultados operacionais a nível global; as taxas de juro de longo prazo, não obstante, poderem ficar ancoradas num patamar mais elevado, não irão sofrer uma subida disruptiva. Neste contexto, pensamos ser crucial manter uma perspetiva de longo prazo nos planos de investimento, apostar na diversificação como medida estrutural de gestão de riscos e, finalmente, aproveitar momentos de volatilidade para reforçar a exposição a ativos de risco. Finalizamos com uma célebre frase de Steve Jobs, fundador da Apple, e que resume de forma particularmente eloquente as nossas perspetivas: “The journey is the reward”.


Este texto não constitui uma recomendação nem consultoria de investimento. A Dolat Capital presta consultoria de investimento de natureza específica aos seus clientes, tendo por base, entre outros, o seu perfil de risco e objetivos financeiros. Rendibilidades passadas não constituem uma garantia de rendibilidades futuras