Transição energética: um passo atrás para dar dois à frente

Matt Christensen AllianzGI
Matt Christensen. Créditos: Cedida (AllianzGI)

TRIBUNA de Matt Christensen, diretor global de Investimentos Sustentáveis ​​e de Impacto da AllianzGI. Comentário patrocinado pela Allianz Global Investors.

A transição energética passou para segundo plano este ano no que respeita à segurança e à capacidade energética devido à guerra na Ucrânia. Os responsáveis políticos estão a reagir de maneiras diferentes à redução do fornecimento de energia à Europa pela Rússia, com respostas que incluem a importação de gás natural liquefeito (com o dobro do impacto ambiental do gás natural), a reativação de centrais elétricas a carvão e a retoma da exploração e produção dos combustíveis fósseis.

Estamos conscientes da reação contra os critérios ESG em alguns setores e de como se tem dado prioridade a certos fatores geopolíticos e económicos sobre a ação climática nos últimos meses. Porém, acreditamos que ainda é possível a transição energética.

A situação atual pressupõe um retrocesso a curto prazo, mas o reconhecimento formal das deficiências do mix energético atual pode potenciar uma resposta que se assemelha a uma curva em forma de J em 2023. Isto vai conduzir a um desenvolvimento acelerado de programas de energias renováveis e das tecnologias necessárias, nas quais os investidores poderão investir e aproveitar estas oportunidades.

Depois de tudo, 2022 mostrou que a crise climática é uma ameaça real e séria. Ao alerta agora ou nunca do Grupo Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) em abril seguiu-se mais um verão de eventos meteorológicos extremos. O aumento na frequência e na gravidade desses fenómenos foi destacado pela pior seca que a Europa viveu em séculos, por grandes inundações no Paquistão e temperaturas recorde na Europa e na Índia. Além de causar um enorme sofrimento, reconhecem-se, cada vez mais, os consideráveis riscos financeiros e económicos desses eventos climáticos extremos.

Além disso, os eventos deste ano reforçaram a interação da transição climática com a biodiversidade e a transição justa. Uma abordagem mais exigente da medição da sustentabilidade levará à consecução de resultados de impacto positivo e concretos.

Prova de fogo

A sustentabilidade enfrentou o seu primeiro teste real em 2022 e entra em 2023 afetada, mas melhor posicionada para possivelmente alcançar uma transição viável. A necessidade de soluções em todas as áreas da sustentabilidade nunca foi tão evidente, e é por isso que devemos colaborar na transição rumo a um futuro melhor.

A diminuição do papel dos combustíveis fósseis exige que o consumo de carvão e petróleo seja reduzido até 80%. A energia solar e eólica teria de crescer, respetivamente 20 e 10 vezes, com respeito aos níveis de 2020, e teria de contar com o apoio do aumento do hidrogénio, a bioenergia e a captura, uso e armazenamento de carbono (CCUS).

Nas últimas décadas tem-se verificado um défice sustentado no investimento em infraestruturas energéticas, especialmente na Europa. O relatório IRENA World Energy Transitions Outlook 2022 prevê necessidades de investimento anuais de 5,7 biliões até 2030.

Oportunidades de investimento

Do ponto de vista do investimento, o aumento previsto dos gastos com energias limpas pode criar interessantes possibilidades no potencial de crescimento tanto dos beneficiários como das empresas que facilitam a transição energética. Investir em soluções que abordam os padrões de consumo energético e a evolução da dinâmica da procura são apenas duas das muitas vias para apoiar a transição energética.

Na Allianz Global Investors, tratamos de identificar, mensurar e investir em empresas de todo o mundo que ofereçam soluções em toda a cadeia de valor, incluindo a geração de energia limpa, o armazenamento eficiente de energia e o consumo sustentável de energia, com o objetivo de contribuir para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

Algumas destas oportunidades podem estar na sua fase inicial e necessitar investimentos para alcançar escalabilidade. Tais oportunidades podem incluir tecnologias inovadoras, como o abastecimento de energia à base de hidrogénio, novas formas de armazenamento de energia e inovações que reduzam as emissões.

Uma das nossas prioridades-chave é que as informações e os dados das empresas estejam em consonância com uma progressão real rumo às zero emissões. Queremos ver provas de compromissos e ações para uma verdadeira descarbonização ou um perfil de carbono que cumpra a meta de 1,5 graus.