Um dos impactos diretos da guerra: subida do preço das commodities

Carlos Bastardo ISEG Imofundos_noticia
Carlos Bastardo. Créditos: Vítor Duarte

TRIBUNA de Carlos Bastardo.

Na sequência do último artigo sobre os impactos da guerra na economia mundial, venho falar hoje sobre um desses impactos em particular que é a evolução do preço das principais commodities, que tem sido responsável pela subida da inflação nos últimos meses.

Antes de 24/02, data do início da invasão da Ucrânia pela Rússia, os preços das principais commodities já estavam em alta. Contudo, os efeitos da guerra têm estado a impulsionar os preços dos principais produtos, o que causa natural impacto ao nível da inflação, consumo e crescimento económico.

Nas commodities agrícolas, em 20/4 o preço do milho no mercado de futuros estava nos 803$, tendo variado no último ano entre 487,75 dólares e 812 dólares. Desde 31/12/2021, o preço subiu 38%. Por sua vez o trigo, subiu desde o final do ano passado cerca de 43%, estando em 1.103 dólares, tendo variado no último ano entre 604,5 dólares e 1340 dólares. A soja subiu entre o final de 2021 e 20/4 cerca de 25%, estando nos 1720 dólares, tendo no último ano variado entre 1.171,25 dólares e 1.765 dólares.

Nas commodities da energia, o brent estava em 20/4 nos 103,55$, tendo variado no último ano entre os 62,41 dólares e os 139,13 dólares. Em 31/12/2021 estava nos 77,94 dólares, tendo subido até 20/4 cerca de 32%. O gás natural (Nymex) estava em 20/4 nos 7,10 dólares, quase 50% acima do valor no final de 2021, tendo no último ano oscilado entre 3,2 dólares e 7,94 dólares.

Como se pode observar pela evolução dos preços, estes encontram-se perto dos máximos recentes, pressionando o valor da inflação.

A subida dos custos energéticos faz-se sentir nas famílias e nas empresas, especialmente em setores em que este custo de produção é relevante, casos dos setores dos transportes, pesca, vidro, cerâmica, papel, indústria têxtil, madeira, entre os mais afetados.

A subida dos preços das commodities agrícolas está a influenciar significativamente o preço dos bens alimentares como o pão, o leite e seus derivados, a carne entre os alimentos essenciais.

Quando se começaram a verificar os primeiros sinais de subida da inflação em setembro / outubro de 2021, as primeiras reações de muitos analistas financeiros e dos responsáveis dos bancos centrais foram no sentido que este efeito seria temporário. O facto é que não está a ser temporário como o previsto. Provavelmente, iremos assistir ao pico da inflação no Verão, podendo esta começar a descer a partir daí. Mas tudo dependerá da duração da guerra iniciada pela Rússia.

O Orçamento de Estado prevê uma inflação de 4% para 2022. A inflação homóloga em março foi de 5,3%, o valor mais elevado desde junho de 1994.

A subida da inflação é geral: 8,5% nos EUA em março, 7,3% na Alemanha, 7% no Reino Unido, para citar alguns países.

A subida da inflação já está a determinar uma subida das taxas de juro. A Euribor no prazo de 12 meses voltou a ser positiva no dia 12/4 (0,005%), facto que já não acontecia desde fevereiro de 2016.

Por outro lado, as yields da dívida pública subiram nos últimos meses. Apesar de terem ocorrido algumas substituições de dívida de prazos mais curtos para prazos mais longos, o Orçamento de Estado para 2022 prevê encargos financeiros da dívida pública de 6.285 milhões de euros, mais 884 milhões de euros que o valor de 2021 que foi de 5.401 milhões de euros.

Começam a aparecer declarações de responsáveis dos bancos centrais apontando para subidas das taxas de juro mais rápidas e mais cedo que o previsto, especialmente nos EUA.

Ou a guerra acaba depressa, o que não me parece, ou a pressão sobre os preços das commodities irá continuar nos próximos dois a três meses.

A inflação é um imposto. E para mim, não é um imposto escondido, pelo contrário, está bem às claras nos preços dos produtos que estamos a pagar todos os dias. Portanto, 2022 está a ser um ano de forte austeridade apesar de alguns dizerem que não!