Uma abordagem ESG para a dívida dos emergentes

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(TRIBUNA de Romualdo Trancho, Director, Business Development, Allianz Global Investors (AllianzGI). Comentário patrocinado pela Allianz Global Investors.)

A dívida de mercados emergentes é uma classe de ativos cada vez mais diversificada. A esse respeito, é fundamental a gestão ativa de investimentos, devendo ser associada a um processo robusto e integrado de investimento ESG (do inglês, Environment, Social, Governance). Com isso em mente, desenvolvemos uma estrutura proprietária para integrar a nossa avaliação de fatores ASG na análise mais tradicional dos fatores macroeconómicos das economias emergentes. A integração ESG vai ajudar os investidores a melhorar a qualidade das suas carteiras e a mitigar certos riscos. Os investidores precisam, além disso, de começar a envolver-se com os emissores soberanos nos aspetos mais qualitativos do risco, incluindo os fatores ESG.

A abordagem ESG integra o processo de investimento em dívida de Mercados Emergentes, já que ajuda a explicar as diferenças na capacidade de crédito soberano. Pode-se esperar que a deterioração na pontuação ESG de um país seja acompanhada por spreads de crédito mais amplos nas suas obrigações. A relação próxima entre fatores ESG e spreads de crédito é visível na correlação significativa entre as duas métricas (veja o Gráfico B/ abaixo).

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Devido às limitações dos dados ESG, normalmente desfasados e lentos, achamos necessário complementar a análise com uma avaliação sobre se um país está numa tendência ESG de melhoria ou deterioração. Essa apreciação faz parte do nosso processo interno regular de avaliação. A complementação dos dados físicos com uma avaliação prospetiva permite-nos refletir sobre as alterações mais recentes nas políticas que podem potencialmente influenciar a qualidade ESG. Por exemplo, o recente enfraquecimento do estado de direito na Polónia ainda não se refletiu totalmente na ainda alta pontuação ESG do país.

Turquia: um caso de estudo

Em 2018, a Turquia foi atingida por um choque severo, à medida que as condições mais rígidas de liquidez global e as crescentes tensões geopolíticas com os EUA se combinavam com um acumular de vulnerabilidades económicas (inflação alta, fortes desequilíbrios externos, extensas disparidades cambiais e rápido aumento da alavancagem na dívida empresarial) para desencadear uma crise cambial. No entanto, a deterioração dos fatores sociais e de governança da Turquia era já evidente há vários anos, o que acabou por tornar o país significativamente menos bem equipado para lidar com a crise económica.

Nos últimos anos, o Presidente Recep Tayyip Erdogan esforçou-se por concentrar o poder à custa de instituições independentes. Consequentemente, as questões relacionadas com a coesão social e a governança estão agora a levar a uma grande fuga de cérebros para fora da Turquia, acentuada pela purga em organismos governamentais na sequência do golpe fracassado. Durante um longo período, vários investidores julgaram que as preocupações crescentes com as questões sociais e de governança não tinham influência significativa no quadro macroeconómico mais amplo. Porém, essa perceção provou estar errada, numa tendência gradual que culminou com a indicação do genro do presidente para o ministério das finanças.

Em resultado disso, a Turquia tornou-se muito menos resiliente do que no passado e a capacidade de implementar um pacote de medidas necessárias de ajuste económico está agora enfraquecida. Desde a tentativa frustrada de golpe, o desempenho das obrigações do governo turco tem sido significativamente mais fraco do que em outros mercados emergentes.